A temperatura está quente na Estrutural, mais especificamente na Chácara Santa Luzia. Desde o início do ano, pelo menos 4 mil famílias ocuparam uma franja de 300 metros dos limites do Parque Nacional de Brasília e já existe sentença transitado em julgado determinando ao GDF desocupar o espaço. Moradores prometem fazer o enfrentamento e, segundo relatos de uma reunião ocorrida no Buriti, há indícios de que milícias estão atuando na área.
O diagnóstico da existência de milicianos na Estrutural foi feito durante reunião ocorrida em 28 de janeiro no Palácio do Buriti, da qual participou o secretário de Atendimento à Comunidade, Severino Cajazeira, para discutir a situação da comunidade que ocupou a Santa Luzia. Estiveram presentes também os chefes de gabinete da secretaria de Relações Institucionais, Daniel Amaral, e representantes da CEB, Caesb, SLU, Codhab, Secretaria de Segurança Pública e da administração regional. O líder comunitário Lindomar Pereira também estava lá.
A Caesb relatou os furtos d’água a partir da rede que atende a parte regularizada da Estrutural. Esses gatos estariam provocando perdas de 80%, devido à “implantação de redes de tubulação clandestinas, com cobrança por terceiros da água furtada.” Além do prejuízo financeiro e da queda de pressão, a Caesb afirma, segundo ata da reunião a que tivemos acesso, que a água foi contaminada por esgoto, o mesmo acontecendo com o lençol freático na localidade. Vale lembrar que, na sentença citada, o TJDFT mandou o GDF lacrar todos os poços e fossas existentes.
A CEB também relatou o furto de energia elétrica a partir de gatos na rede, e que há riscos tanto para as pessoas que estão realizando esses gatos, quanto para aquelas que consomem a energia fornecida clandestinamente. As duas empresas alegaram que não há segurança pública para garantir a ação de seus técnicos para desligar esses gatos. O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) relatou que os caminhões de coleta não estão tendo condições de atuar no bairro.
Milicianos atropelam a CEB e a Caesb
Foi relatada pelas autoridades presentes a existência de “milícias” na Santa Luzia que impedem a ação dos agentes públicos, inclusive da Administração Regional. A tensão na Santa Luzia aumentou quando a CEB e a Caesb cortaram os gatos de ligações que abasteciam de luz e água os novos invasores. Os chamados milicianos teriam, então, passado a suprir a ausência das duas estatais do GDF ao garantir a continuidade dos serviços mediante a cobrança de taxas impostas aos moradores.
O comando da Polícia Militar nega que haja envolvimento de policiais na ação. Segundo a corporação, se existe milícia na Estrutural, esta não tem a participação de policias militares. O administrador regional Germano Guedes (PRB) nega a existência de milicianos. “O que há é uma organização por parte dos moradores da comunidade da Santa Luzia. Eles se organizam para comprar canos e mangueiras para a água chegar até as casas”.
Moradores prometem resistir à desocupação
A expectativa é que a qualquer momento o GDF proceda a remoção dos moradores. A alguns foi ofertada a possibilidade de ir morar em outras localidades do DF, já que, por sentença judicial, grande parte da Santa Luzia deve ser desocupada. Há ainda resistência em trocar os lotes ocupados por barracos por apartamentos do tipo Minha Casa Minha Vida, que seriam erguidos na Estrutural.
Nas redes sociais dos moradores locais, fala-se até em uma ação para bloquear a Via Estrutural, que liga Ceilândia ao Plano Piloto. O clima é de guerra. Quem conhece a história da Estrutural sabe que em seus primórdios, as pessoas que ocupavam a área irregularmente enfrentaram a PM, na gestão de Cristovam Buarque. A cidade tem tradição guerreira e também de ocupação irregular de áreas públicas. Este promete ser um grande desafio para o governo que se inicia. É esperar para ver.