Topa amanhecer num dia sem chuva, ir à geladeira e só então se lembrar que não há energia elétrica? Ou tentar abrir o computador para fazer um trabalho, ou jogar um carteado sem apostas, e se deparar com a bateria no fim – e sem poder recarregar?
Parece microconto de ficção científica, mas é o tormento que os habitantes de cidades grandes estão vivendo ou prestes a vivenciar. E não falo só de Brasília e de São Paulo, mas de outros lugares onde o fantasma da privatização ameaça alguns milhões dos ricos mortais no Brasil.
(Não falo dos pobres mortais, uma vez que esses se viram com os populares gatos oferecidos pelas milícias, e dessa forma se mantêm com energia elétrica enquanto o resto da cidade escurece).
Outra pergunta: e se, além da energia elétrica e seu fornecimento precário, a água vier a ser fornecida por uma dessas instituições que alardeiam sua competência – mesmo, e principalmente, na adversidade?
A essas perguntas, sempre mal respondidas, pode-se acrescentar uma outra, crucial para o entendimento de como essas dificuldades atuam na cabeça das pessoas. E, como consequênca, no voto que elas oferecem de mão beijada não importa a quem.
A Pauliceia Desvairada é uma amostra grátis para nós: lá, até aqui, a maioria aprova ficar sem água gelada pra matar calor, sem Internet pra buscar um alívio com o influenciador de plantão, ou tomar na sobremesa um sorvete de chocolate.
Como é simplória a nossa visão da realidade: basta pôr a culpa em quem não gostamos, e não em quem tem culpa no cartório, e tudo estará resolvido!