Pelo menos 120 mil dos 460 mil estudantes da rede pública do Distrito Federal não têm acesso à Internet por tablete, computador ou celular. Os dados são de uma pesquisa feita pelo Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), de 23 a 31 de maio, com pais, mães e responsáveis por estudantes da rede pública e privada de ensino. A margem de erro é de 2%, para mais ou para menos, com índice de confiança de 98%.
O sindicato disponibilizou um questionário com 14 perguntas em seu site e 10 mil foram respondidos, sendo 1.110 da rede privada e 8.887, da rede pública. A conclusão do levantamento é de que 26,27% do público atendido nas escolas da Secretaria de Educação do DF não têm condições materiais de assistir e participar de cursos de Educação a Distância (EaD).
Ou seja, caso o Governo do Distrito Federal adote a EaD no período de pandemia, mais de 25% dos estudantes matriculados em escolas públicas ficarão excluídos do acesso à educação, simplesmente por não disporem de nenhum equipamento (celular, tablet, computador/notebook) para uso nas aulas nas plataformas digitais.
Em muitos lares, pais, mães e responsáveis até possuem celular, mas o usam como instrumento de trabalho. Normalmente são autônomos ou funcionários precarizados. Em outros casos, o telefone é o único aparelho eletrônico da família. A pesquisa também detectou situações como a falta de Internet na linha do celular capaz de sustentar o turno das aulas.
Cada questionário só podia ser respondido por um CPF verificado. Além disso, a pesquisa limitou o uso do IP (do inglês Internet Protocol) usado para acesso à pesquisa e usou um bloqueio de uso de robôs.
Desigualdade – A pesquisa revela, também, a desigualdade social nas diferentes regiões do DF. Estudantes do Paranoá e de São Sebastião são os que têm menos acesso aos equipamentos necessários para acompanhar aulas a distância pela Internet.
“Nesses 3 meses de suspensão das aulas, a Secretaria de Educação tem tentado se organizar para uma volta às aulas por meio digital, mas a opção de não ter aulas presenciais como solução para o durante e o pós-pandemia deixará mais de 25% dos estudantes do DF num abandono educacional nunca antes visto na cidade”, afirma Cláudio Antunes, diretor do Sinpro-DF.
Teleaula – O levantamento do Sinproaponta, também, que 57,9% dos estudantes não assistiram as teleaulas disponibilizadaspela Secretaria de Educação do DF. Dos 460 mil matriculados, 265 mil não assistiram a nenhuma teleaula da programação da SEEDF.
Quando a pergunta envolvia a avaliação das teleaulas entre os que assistiram, 42,1% dos pais, mães e responsáveis, tiveram acesso à programação, mas 56% estão insatisfeitos e 19% declararam que os filhos não estão conseguindo acompanhar as teleaulas. Apenas 25% dos pesquisados declararam que estão satisfeitos com a alternativa de substituir as aulas presenciais por esse modelo de Educação a Distância (EaD).
O Sinpro-DF mostra que as teleaulas – primeira estratégia de retomada das aulas durante a pandemia de covid-19 – surgiram na programação de TV em canais pouco utilizados pela população e, em alguns casos, há relatos de falta do sinal. A pesquisa revelou que a maior rejeição às teleaulas ocorreu em Taguatinga e noNúcleo Bandeirante, onde o grau de insatisfação superou os 60%.
Cláudio Antunes informa que a pesquisa do Sinpro foi realizada dois meses após a exibição das aulas da Secretaria de Educação pela TV. “Mesmo após esse período, 265 mil estudantes não assistiram a nenhuma teleaula. Portanto, a constatação é de que elas não estão sendo aproveitadas pela comunidade do DF”.
O diretor explica que uma das hipóteses para a avaliação negativa pode ser o fato de os estudantes não estarem tendo aula com seus professores de classe. “A falta da interação humana entre professor da turma e estudante pode explicar parte do fracasso dessa estratégia. Por mais que se tente, não dá para substituir o professor por um computador, por um robô ou por uma televisão”.
A diretoria colegiada do Sinpro-DF entende que o ano letivo de 2020 deve ter como foco as aulas presenciais, as quais devem ocorrer após a passagem do pico da pandemia. “Somente com aulas presenciais é possível uma interação direta do professor com todos os estudantes. É essa interação que oportuniza, de fato, neste momento de emergência, uma educação inclusiva”.