Campanhas genéricas demais, 123 mil pessoas sem conhecimento da condição de soropositivo, comportamento sexual de risco e falta de capacitação dos profissionais de saúde para lidar com grupos específicos estão no rol de problemas que o Brasil terá de enfrentar na luta contra a Aids. A ameaça de uma nova epidemia no país, com o aumento de 11% no número de casos entre 2005 e 2013, segundo a Organização das Nações Unidas, atinge um grupo específico. Jovens dos 15 aos 29 anos representam 27% dos diagnósticos feitos em 2012, de acordo com o Ministério da Saúde. A taxa de infecção por 100 mil habitantes praticamente dobrou entre rapazes de 15 a 19 anos, passando de 2,4 em 2003 para 4,7 em 2012. Entre 20 e 24 anos, o índice subiu de 16,3 para 25,4.
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De todos os diagnosticados na população masculina em 2012, 32% eram homossexuais — essa taxa, em 2003, foi de 21,8%. Os dados não deixam dúvidas quanto ao segmento que mais preocupa hoje no Brasil. Até o Ministério da Saúde, que, por temer alimentar um estigma, evitou por muito tempo admitir o problema, não tem mais dúvidas. “É possível entender que os jovens gays sustentam esse crescimento (dos casos da doença) nas regiões que têm epidemia concentrada”, afirmou Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde da pasta. Um dos principais desafios é combater a prática de sexo inseguro nessa população. Pesquisa divulgada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no início deste ano apontou que 34% dos jovens entre 14 e 20 anos não usam camisinha.
Na faixa etária de 15 a 24 anos — população pesquisada pelo Ministério da Saúde em levantamentos periódicos —, o uso regular do preservativo caiu de 63% para 55% com parceiros casuais, entre 2004 e 2008. Infectologista do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sandra Wagner Cardoso destaca que é preciso mais do que informação. “Que está disponível, não há dúvida. E por que o comportamento de risco continua? É isso que precisamos investigar. Acredito que campanhas direcionadas para diferentes nichos, como o dos homens que fazem sexo com homens, é uma medida necessária”, afirma.
Pressão política
Uma campanha com esse mote chegou a ser lançada no carnaval de 2012, protagonizada por um casal de jovens gays. Mas acabou vetada, depois de pressões políticas contrárias à peça publicitária. Em nota, o ministério afirmou que “os jovens gays sempre foram foco de campanhas de prevenção à DST e à Aids ao longo de todo o ano”, mas não explicou as polêmicas que envolveram a campanha. Acrescentou que a juventude esteve no centro das ações em 2010, 2011 e 2012. Para João Geraldo Netto, estrategista de marketing de 32 anos, que se descobriu soropositivo há sete, o material de conscientização precisa ser mais direto. “As campanhas não são voltadas para o público mais vulnerável. E os jovens, principalmente gays, estão se cuidando menos”, diz.