José Silva Jr
Moradores de Taguatinga estão mobilizados contra uma obra que pode desconfigurar a Praça do DI (setor CSA), considerada o principal ponto de eventos e comemorações da cidade. Denominada de “A praça é nossa! É do povo! É de todos”, a manifestação está prevista para começar às 10h desde sábado e a previsão é de reunir mais de 2 mil pessoas.
O terreno de 800m² no meio da Praça do DI foi vendido em dezembro do ano passado. A área pertencia à Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e foi vendida por R$ 2,3 milhões (cerca de R$ 3.000 o metro quadrado) para a Seasons Imobiliária Ltda., de propriedade de um empresário do ramo de distribuição de combustíveis.
Procurada, a Administração Regional explicou que não pode intervir no assunto (o que poderá vir a ser construído no espaço que, até o fim do ano era de uso da população) porque o terreno é de propriedade particular.
Passividade
Mas é justamente esta passividade do Poder Público local que incomoda o médico Júlio Carneiro, 65 anos, morador de uma quadra no setor QNA, próxima ao DI. “Aqui é, historicamente, o principal espaço dos eventos e comemorações da comunidade de Taguatinga. Não podemos admitir passivamente que ele seja destruído para dar lugar a um prédio que não sabemos nem mesmo o que virá a abrigar”, diz ele.
O advogado Eloy Barbosa de Oliveira, 76 anos, chega a ficar com os olhos marejados quando fala do assunto. Morador de Taguatinga há 46 anos, ele conta que visitar a praça era uma tradição que perpassa gerações de sua família. “Perdi um pedaço da minha identidade. Quando falo disso aqui dá até vontade de chorar”, lamenta o aposentado.
Referência do skate nacional
Os dois antigos moradores se juntam a outros grupos da cidade que têm cobrado das autoridades a mudança da destinação da área, que até a década passada abrigava, por exemplo, um dos melhores “ralf” para prática de skate do País e foi demolido durante gestões anteriores.
“À época, a Praça do DI era conhecida em todo o Brasil. Infelizmente, o ralf foi demolido e deixou um grande vazio cultural e esportivo em nossa cidade”, lembra Júlio Carneiro. Eloy Barbosa recorda, ainda, dos bancos e mesas de concreto onde jovens e idosos se reuniam para jogar dama ou xadrez.
“Certamente, não vai ser nada de praça. Vai ser um prédio. A empresa pode ter comprado, mas não tem direito de construir nada porque é um lugar público”, argumentam.
Mau presságio
Pode ser um mau presságio, mas o futuro daquele quinhão do DI, considerado Área Especial, pode não estar tão longe. Na última quarta-feira (30), a Administração de Taguatinga e o GDF inauguraram a revitalização da praça. Foram recuperados alguns equipamentos, como a quadra, os bancos, parte do piso e estacionamentos. Porém, a obra acaba quando se inicia o limite da área vendida pela ECT.
Isto aguçou o temor dos defensores da praça de que, em vez de equipamentos lúdicos para a população, esteja em andamento a implantação de um prédio de apartamentos ou estabelecimentos comerciais, desde bar, restaurante, lanchonete, rede de fast food ou até mesmo uma igreja. “O certo é que a praça está tendo prejuízo porque impede de ser reformada”, disse Felipe Resende, de 28 anos.
Terreno foi doado à ECT
Os moradores recordam que o espaço foi reconhecido como bem público (praça de uso comunitário) em 1962. Apenas em 1968 o terreno de 800² foi doado aos Correios – que, à época, também ganhou áreas em outras praças de Taguatinga. “É injusto agora venderem uma área pública que receberam de graça”, alega Carneiro.
A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), aprovada em 2019, define que o lote é de uso institucional, mas para se instalar equipamento público, o que compreende uma agência dos Correios, mas não um posto de gasolina, por exemplo.