Chico Sant’Anna
Tomando por base os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a chamada Agenda 2030 da ONU, Brasília está longe de ser exemplo a ser seguido. Pelo Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades – Brasil (IDSC-BR), do Instituto Cidades Sustentáveis, o DF apresenta uma pontuação de 57,52, numa escala onde 100 é a excelência.
Está na 311ª posição, dentre os 5.570 municípios do Brasil, perdendo para cidades com bem menos recursos, como São Caetano do Sul, Jundiaí e Valinhos, que lideram o ranking. Fazer Brasília subir nesse ranking seria um excelente desempenho para os próximos quatro anos de governo.
A cidade que prometia ser a capital da esperança peca nas desigualdades sociais, como o combate à fome e a promoção da igualdade entre gêneros. Sem falar na dicotomia de possuir um dos maiores PIB per capita e ser a campeã de desigualdade.
No Lago Sul, o rendimento médio mensal é de R$ 8,3 mil. Já em Samambaia, Varjão, Paranoá, Riacho Fundo II e Estrutural, a renda média é menor do que um salário mínimo. Pelo índice de Gini, medidor da desigualdade na distribuição de renda, o DF ocupa a segunda posição no ranking de desigualdade econômica. Perde apenas para Sergipe.
Omissões – O baixo desempenho reflete as omissões do poder público. Apesar dos quase R$ 50 bilhões em orçamento para 2023, o investimento em infraestrutura sustentável é quase nulo.
A avaliação foi de 28,7, nota muito baixa diante dos desafios a serem superados. O brasiliense não conta com malha eficiente de metrô. Os ônibus são velhos e movidos a óleo diesel, quando em 2013, , uma lei de autoria do deputado Joe Valle foi aprovada determinando que a cada ano, um décimo da frota fosse substituída por ônibus elétricos ou a biodiesel.
Desempenho nos quesitos sociais
Fome – 49,43. Nesse quesito, a quantidade de recém-nascidos que vêm ao mundo com baixo peso; a amplitude da desnutrição infantil, a quantidade de produtores rurais cadastrados pelo Programa de Apoio à Agricultura Familiar, bem como os voltados à produção de alimentos orgânicos com incentivo oficial.
Redução das desigualdades – 43,16. Foram computados os percentuais de pessoas inscritas no cadastro único, bem como quantas, desse universo, são atendidas pelo Bolsa Família.
Cidades e comunidades sustentáveis – 41,62. Nesse quesito, a baixa qualidade do transporte público, 22,45; a quantidade de mortes no trânsito, 8,90; quantidade de moradores residentes em favelas e invasões, 5,20; falta de equipamentos públicos para a prática de esporte e lazer, 0,47.
Igualdade de gênero – 39,61. Aqui há forte discriminação de gênero, com elevada taxa de feminicídio, diferenças salariais entre homens e mulheres, maior taxa de desemprego feminino.
Inovação e Infraestrutura – 28,7. Falta de investimentos em mobilidade urbana e infraestrutura sustentável. O GDF há décadas não investe na ampliação do metrô, deixou de implantar o VLT e posterga a renovação da frota de ônibus com a introdução de ônibus elétricos.
O DF apresentou desempenho mediano nos seguintes quesitos:
Proteger a vida terrestre – 64,38. Calculado a partir da taxa de áreas que preservam vegetação natural, áreas reflorestadas, unidades de conservação e volume de financiamento da proteção ambiental.
Trabalho decente e crescimento econômico – 63,36. Considera a taxa de PIB per capita; nível de desemprego geral e especifico de jovens e percentual de jovens de 15 a 24 anos de idade que não estudam nem trabalham.
Paz, justiça e instituições eficazes – 62,12. Medido a partir de uma coletânea de indicadores, tais como taxa de homicídio, em especial o juvenil; mortes por armas de fogo, transparência nas estruturas policiais, combate à corrupção policial, grau de comprometimento policial no fomento aos Direitos Humanos.
Educação de qualidade – 59,17. O DF tem grandes desafios a vencer, em especial a erradicação do analfabetismo. Também avaliou-se a qualidade das instalações dos colégios, a existência de rede de internet nas escolas, o desempenho no Ideb (em 2020 o DF ficou abaixo da meta em todos os níveis da educação básica), dentre outros indicadores.
O desempenho de Brasília foi satisfatório ou elevado nos seguintes itens:
Oferta de energia limpa e acessível – 94,22; de água limpa e saneamento – 86,94, ação contra a mudança global do clima – 75,55; Saúde e bem-estar – 71,13.
Pode se dizer que quem vier a governar a partir de 2023 terá desafios enormes e sérios pela frente, se desejar alterar a posição de Brasília e torná-la uma cidade efetivamente sustentável.
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