No Hospital Esperança, temos uma ala edificada em plena natureza, na qual são realizadas atividades de apoio aos suicidas em recuperação. Ali, trabalhamos o valor da vida, por meio de depoimentos e técnicas de sensibilização dos sentimentos. O objetivo é que todos aprendam a tratar com respeito os seus atos impensados, adquiram domínio interior e honestidade emocional.
– Maria Clara será nossa expositora.
– Dizem que os que se matam fazem isso para livrarem-se de um acontecimento infeliz. Engano! Fazemos isso para nos livrar de nós mesmos. O suicídio é apenas mais uma decepção que se soma ao conjunto de insatisfações que colecionamos.
Maria Clara parou de falar, olhando para o chão como que envergonhada de si mesma. Dona Modesta imediatamente, conclamou-a:
– Cabeça erguida, Clara! Fracasso só existe para quem nada aprende com seus próprios erros (…).
– O pior dessa morte é querer deixar de existir e não ser possível. O suicídio é a decisão desesperada da criatura que não está pulsando com a vida. Não matamos a nós mesmos por covardia ou para pôr fim a algo; matamo-nos porque não sabemos como existir, como resgatar o sopro de vida dentro de nós.
Perambulei por Centros e Templos Religiosos e só ouvi sentenças sobre carma, obsessão, doença e ruína (…). Procurei quem pudesse ouvir minha dor com o coração. Entretanto, o que recebi foram doutrinações e reprimendas pelo que sentia. Não encontrei quem me ajudasse a perdoar-me; quem tivesse respeito pelo que eu sentia.
O Centro Espírita e os demais templos religiosos devem consolidar-se como espaço de recuperação da dignidade humana, uma praça de convívio e alegria, espiritualizado o homem por meio do amor (…). Estou me esforçando no intuito de esquecer um pouco as minhas próprias dores e pensar nos dramas alheios. Estou viva, sinto a vida, estou serena!