Em meio à greve dos caminhoneiros, surgiram focos de manifestações pedindo intervenção militar. Qual sua visão em relação a isso? – É algo fora de tempo e fora de época. Conversava com alguns parlamentares e havia certa preocupação. Eu não tenho essa preocupação. Sei que as Forças Armadas não têm o menor interesse numa intervenção militar. É claro que esse grupo se infiltrou.
Já existem provas dessa infiltração? – Sim. Além da declaração do presidente da Associação de Caminhoneiros (ABCAM), o governo está levantando os nomes e as lideranças. Esse movimento está sendo insuflado. Não faz sentido a gente discutir uma intervenção. Seria a volta de um regime autoritário, e nos tempos de hoje a democracia está consolidada.
Mas o senhor, que é coronel da PM, apoia Bolsonaro, que também é militar, como candidato a candidato a presidente da República… – Bolsonaro nunca apoiou a hipótese de intervenção militar. Não é porque ele tem uma origem no Exército que tem esse tipo de pensamento. De forma alguma. No máximo, quando ele fala de militarismo, é que algumas funções, como ministro da Defesa, tenha que ser alguém da carreira de farda. Nada mais que isso. Pegaram um projeto que Bolsonaro fez tempos atrás, que penaliza com quatro anos de prisão quem bloquear estrada. Mas ele fez esse projeto para alcançar o MST. E hoje o pessoal está usando isso nas redes sociais de uma forma muito cruel para detoná-lo perante a categoria. Projeto é uma coisa, lei é totalmente diferente.
O senhor é antigo aliado do Bolsonaro, mas agora apareceu o general Paulo Chagas dizendo que terá o apoio dele como candidato ao Buriti. Qual é a verdade nisso? – Bolsonaro é uma pessoa muito corporativista. Claro que ele pode ter uma simpatia pelo general, mas em momento nenhum Bolsonaro disse para mim que vai apoiá-lo. O general inclusive fez vídeos dizendo isso. Com todo o respeito, mas o general teve uma experiência muito ruim quando fizeram uma reunião com alguns militares em Brasília e o convidaram. Ele foi muito inábil com relação aos bombeiros e aos policiais militares. Quando os PMs começaram a questionar a respeito de salário, atendimento de saúde, disse que policial militar que reclama é miliciano. Com isso, mais de 30 pessoas da plateia foram embora. É claro que um apoio a Bolsonaro é importante, mas é necessário que as ideias também estejam conectadas. Já eu tenho o voto dos eleitores de Bolsonaro porque minhas ideias são as mesmas dele. Estamos juntos há anos, e temos sempre concordância de ideias.
Sua aliança com o PR de Jofran Frejat está consolidada? – Não só com o PR, mas também com o PP e o MDB.
Então a sua candidatura ao Senado está garantida… – Se tem uma pessoa por quem tenho muito respeito e confiança na palavra, é o Frejat. Ele não tem mais idade para ficar mentindo. Ele é muito transparente em suas posições. Quando decidi apoiá-lo e não disputar mais o Buriti, tivemos uma conversa em que ficou certo que a vaga seria assegurada.
E de quem seria a segunda vaga? – Do Paulo Octávio. Mas tem um detalhe: Ele diz que está tudo bem, mas algumas pessoas apostam que ele não será candidato. Não sou eu que tenho que dizer se ele vai ou não se candidatar. Há um mês, falei com Paulo Octavio, nos encontramos com Frejat, e ele nos disse que, na opinião de seus advogados, ele seria candidato sim. Estamos apostando que ele será candidato.
Fechando essa chapa, não sobrará espaço para o acordo que o Joe Valle vem anunciando.O senhor acredita nessas conversas entre Frejat e Joe?– Não acredito. Em um dos encontros que Frejat teve com Cristovam e Rosso, ele disse ao Cristovam que não poderia assumir compromisso com relação às vagas do Senado, que ele já tinha se comprometido. Se o Paulo Octavio não puder ser o candidato, até abriria a possibilidade dele estar com nossa segunda vaga ao Senado.
Isso seria bom para a coligação? – Acho que seria bom para a coligação, sim. Agora, se perguntar se seria bom para mim, não teria essa resposta ainda. O que sei é que o segundo voto de Paulo Octavio pode migrar para o Fraga, e o meu migrar para o PauloOctavio. Já o segundo voto do Cristovam não vem para mim. Não tem o meu perfil. Nossas ideias são contrárias.
O senhor não acha queo Cristovam mudou? Passou do PT para o PDT e agora está no PPS…– Embora ele seja um nome conhecido em Brasília, a gente sabe que o Cristovam tenta migrar para a direita porque teve problema durante o processo de impeachment da Dilma Rousseff. Antigamente, as pesquisas o mostraram com boas intenções de voto. Hoje não mais. Na verdade, hoje não vejo a eleição garantida para ninguém.
E o Alírio Neto? – Nós começamos um trabalho juntos. O Alírio sempre teve o compromisso de dizer que quem estivesse melhor estaria na cabeça da chapa. Isso sempre foi discutido em nossas reuniões. E na última reunião na minha casa, o Alírio não concordou com alguns posicionamentos do Frejat, e a partir dali criou uma outra alternativa para ele. Ainda acho que Alírio é uma pessoa muito boa e que deveria estar em nosso grupo. Sozinho do jeito que está não vai a lugar nenhum.
E o Izalci? – Desde o início ele vem dizendo que quera cabeça de chapa. Também acho uma precipitação falar dessa forma. Ninguém pode ser candidato de si próprio, mas sim de um grupo político.
Pela sua análise, a cabeça de chapa com Frejat, e duas vagas ao Senado preenchidas, o que resta é a vice. Quem seria a vice? – Acho que seria o Izalci.
E o Joe Valle? – Para ele só sobra uma vaga para deputado federal, se ele vier. Ele é um garoto bom, mas, sem querer desmerecê-lo, ele não tem densidade política para querer um posto majoritário. No momento não.
Joe fala em se aproximar do Frejat, mas o partido dele, o PDT, não é muito simpático. Isso complica o cenário para ele? – Completamente. E não entendo que conversas são essas. A gente sabe que o PR pode dar palanque para Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia ou Henrique Meirelles.
E o Bolsonaro? – O PR e Bolsonaro andaram muito próximos. Eu ainda acho que o vice do Bolsonaro será do PR. Já se tentou o senador Magno Malta (ES), mas ele disse preferir disputar a reeleição ao Senado. Ainda está se procurando um nome.
Seu partido sempre foi da base do presidente Michel Temer. Mas agora ameaça desembarcar. O senhor é favorável a essa saída? – Acho que só podemos desembarcar de um barco quando há pontos conflitantes. Rodrigo Maia tem uma pré-candidatura que está ali patinando. Ele sabe que só pode avançar se der uma subida nas intenções de voto. Hoje ele reconhece que a situação é muito difícil.
Como o senhor vê a disputa pelo GDF? – Não podemos desprezar a máquina. O Agnelo tinha a máquina e não foi ao segundo turno. O Agnelo tinha uma vantagem sobre oRollemberg, que era um bom time. O Rollemberg se isola, não ouve ninguém. E deu um baita tiro no pé com esses rolezinhos na orla do Paranoá. Seria muito mais fácil pegaros 11 pontos que existem na orla e fazer uma coisa como criar uma estrutura, uma prainha, por exemplo, para o povo se divertir. Acho que isso seria natural. Mas isso que ele fez vai poluir o lago Paranoá de novo. A fauna está tendo um problema sério de capivaras sendo mortas para o povo comer. Na minha casa todos os dias apareciam mais de dez capivaras, e hoje em dia sumiram. Agora aparecem mortas. Rollemberg mexeu com quem estava quieto. Ele conseguiu tirar isso tudo dos moradores de Brasília. Fez de uma forma muito inábil. O governador não tem muita coisa para mostrar.
Mas e a obra do trevo de triagem norte? – Aquilo foi um projeto meu. O Agnelo Queiroz fez a licitação. Rollemberg pegou quase tudo pronto, só para concluir. Esse projeto eu fiz quando o Arruda quis fazer uma terceira ponte para o lago norte, e os moradores não aceitaram. O Agnelo, mesmo dando reajuste para 17 categorias, perdeu a eleição. O Rollemberg ficou muito tempo dizendo que pegou o DF quebrado, que estava sem dinheiro…
Isso era verdade? – Era verdade nos 12 primeiros meses. Mas o Fundo Constitucional de Brasília é de 13 bilhões de reais. Ele conta com um orçamento de 41 milhões.
Mas ele alega ter recebido um rombo de R$ 6,5 bilhões… – Isso é o que ele diz. Eu não acredito.
Ele tem chances de se reeleger? – Claro que não se pode desprezar a máquina, que é poderosa, inclusive para fazer as maldades que ele está autorizando que façam. O que o secretário de Comunicação está fazendo com os adversários é algo cruel. Estão requentando notícias velhas, buscando processos de 2007 para poder desmoralizar possíveis adversários. O Frejat não tem nada, porque está há 15 anos sem função pública. Existe um lado ruim do Executivo, que comparo com o policial. Se o policial tem 20 anos de profissão e nenhum processo, então não foi policial. Ficava escondido. No Executivo você também precisa se expor diante da burocracia.
O senhor já respondeu a quantos processos como policial? – Passou de 20.
Por quais as acusações? – Homicídio, troca de tiro por resistências. Mas nunca fui condenado.
E como gestor público? – Enquanto estive na Secretaria de Transportes, a pasta nunca se envolveu em escândalo. Depois que saí, quando explodiu a Caixa de Pandora – que eu não estava envolvido – o senhor Agnelo Queiroz determinou a um grupo de delegados “temos que pegar o Fraga”. E aí inventaram aquela história de alguém que foi pegar dinheiro, e que ia para o Arruda e para mim.
Mas não existia mesmo nenhuma irregularidade ali? – Como eu posso impedir um funcionário de agir de forma desonesta. Mas, quando tomei ciência, exonerei o servidor e tomei as medidas cabíveis. Como posso ser acusado? O pior é indiciado por “ouvi dizer”. Não existe nenhuma prova. Tenho declaração de quem deu dinheiro afirmando que nunca tiveram contato comigo.
Acha que isso vai ressurgir na campanha?– Já ressurgiu. Tenho as declarações que provam a verdade. Vou me antecipar. O que dói é receber uma condenação por possuir posse ilegal de arma. Isso chega a ser bizarro. Eu sou coronel. Sou caçador, atirador e colecionador. Tenho armas registradas. Plantaram uma arma num flat que não era meu e me condenaram por posse ilegal de arma. Eu responderia até por 20 portes ilegais de armas, mas me dói muito quando me falamque estou respondendo por propina. Eu respondo normalmente por processos por coisas que fiz. No dia que você me ver calado é porque eu tenho culpa. Agora, responder por algo que não fiz, enquanto eu tiver voz, eu vou gritar. Na minha vida pública, acumulei muitos processos provenientes da minha atividade. Nunca tive e não tenho medo de processos. Tenho medo das injustiças.
Acredita que sofrerá perseguição do atual governo? – Eu acho que temos que ter cuidado com a máquina, que é poderosa e usa de meios não muito republicanos para atacar os adversários. Em recente reunião com Rollemberg e alguns coronéis dos bombeiros, o governador exonerou quem estava em uma foto com Frejat. Nas últimas semanas, ocorreu outro encontro com coronéis da PM, dos bombeiros e vários policiais militares. Chegou a mim a notícia de que o tenente coronel da PM Marco Alves, comandante do Centro de Treinamento e Especialização do Departamento de Educação e Cultura, foi exonerado. Ele disse que aparecia apoiando a mim e a Frejat. Covardia. Minha mensagem a ele é que nosso grupo é grande e vamos ganhar isso.
O que Brasília irá ganhar se o senhor deixar de ser deputado e passar a ser senador?– Vou continuar com a bandeira da segurança pública. Prometi na minha campanha para deputado federal que iria lutar pela redução da maioridade penal. Aprovamos e tiramos da gaveta após 17 anos. Chegando no Senado, vamos colocar isso para voto. Queremos tirar também o estatuto do desarmamento. Vários projetos da segurança pública, como por exemplo, pedir restrições com relação aos saidões. Eu queria a revogação, mas não consegui. Restringi bastante. O preso tinha direito a sete saídas, passou agora a só ter uma por ano. No Senado vou ter condições de concluir esse trabalho de brigar e criar leis. Quero também ser um senador que vai buscar recursos para o DF.
Qual sua opinião sobre a distribuição do Fundo Constitucional, que inclusive causou confusão entre o deputado Laerte Bessa e um assessor do GDF. O senhor é favorável a passar 65% para a segurança e apenas 35% para a saúde e a educação? – Se analisar a emenda constitucional verá que o Fundo foi criado para segurança pública.
Então o senhor concorda com Bessa? – Sim.
Isso não afetaria outras áreas? – Não, porque a saúde e educação são custeadas pelo estado. O percentual da segurança pública foi dividido por causa de sindicatos fortes, que anunciam greves e pressionam governos. Há alguns impedimentos. Não se pode usar esse fundo para pagar, por exemplo, os inativos da saúde. Para a PolíciaMilitar pode. E eles têm usado isso.