As eleições para os Conselho Tutelares, no último dia 6, criaram um clima eleitoral e, com ele, todos os defeitos de nosso sistema representativo. De 2,078 milhões de eleitores aptos a votar, apenas 155.609 foram as urnas escolher as 200 pessoas que serão os olhos da sociedade no trato e proteção das crianças e adolescentes do Distrito Federal.
Contando votos brancos, nulos e válidos, compareceram às urnas apenas 7,6% do universo de eleitores. Além da desorganização, que levou à impossibilidade do voto de milhares de cidadãos, a eleição dos conselheiros trouxe os velhos vícios da política nacional: compra e venda de votos, aparelhamento dos candidatos por parlamentares e uma forte cruzada religiosa.
Basta um passeio pela imprensa, pelos blogs e pelas redes sociais para se ter ideia da deformação que foi o pleito. Antes das eleições, a Defensoria Pública denunciava – e a Justiça não acatou – que as regras impediriam maior participação de eleitores pelo fato de as 19 zonas eleitorais não representarem condignamente as 33 regiões administrativas do DF. A denúncia se fez realidade.
No Park Way, inserido na 10ª zona eleitoral, ao lado do Núcleo Bandeirante, Candangolândia e Riacho Fundo, somente os inscritos na sessão eleitoral da Vargem Bonita puderam votar. Resultado: de 5.770 eleitores, apenas 638 escolheram os conselheiros.
No Jardim Botânico, num universo de 10.476 eleitores, foram registrados 319 votos válidos. O bairro está na 18ª, a mesma dos que moram no Lago Sul e em São Sebastião. Quem não estava inscrito em sessões eleitorais inseridas na poligonal territorial do bairro ficou impedido de votar.
E exemplos desse tipo se repetiram em pelo menos cinco outras zonas eleitorais que abrigam mais de uma Região Administrativa. A falta de perspicácia dos organizadores do pleito cerceou a cidadania de muitos brasilienses e trouxe ao espaço de um serviço público sensível, como é o de Conselheiro Tutelar, pessoas com baixíssimas representatividade social.
Politicagem – Para parlamentares e lideranças políticas, o pleito serviu para mostrar musculatura e ampliar as bases. Os conselheiros tutelares eleitos ficarão no cargo por quatro anos e poderão ser importantes cabos eleitorais em 2022.
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