Uma curiosa coincidência tem ocorrido em nosso país. Desde 1930, a cada
trinta (ou vinte e nove) anos, tivemos momentos marcantes em nossa história política (1960, 1989 e 2018), com súbitas ascensões de candidatos à Presidência da República “inventados” pela “elite”, que vencem as eleições e mergulham o Brasil em graves crises políticas e econômicas.
Tudo começa com a chamada “Revolução de 30”, que não foi exatamente
uma revolução, mas essencialmente uma reação das oligarquias gaúcha e mineira contra a tentativa de hegemonia exclusiva por parte da oligarquia paulista.
O que se seguiu foi Vargas substituindo as manipulações eleitorais da “Velha República” pela supressão das eleições; a substituição da repressão aos sindicatos pela sua cooptação pela máquina governamental; e até mesmo o processo de industrialização que se iniciou, deveu-se não a um projeto de desenvolvimento, mas à substituição forçada da importação de manufaturas (a crise de 1929 derrubou o preço do café no mercado mundial, limitando a obtenção de divisas pelo país para importar bens industriais, e a 2ª Guerra Mundial provocou a queda da oferta de produtos industriais pelos países centrais).
De todo modo, a industrialização e a urbanização fizeram emergir uma
considerável massa trabalhadora, que as elites retrógradas viam como ameaça.
Trinta anos depois do “golpe de 30”, a UDN, o partido da elite liberal, após ser derrotada em 1945, 1950 e 1955, “descobre” Jânio, que, numa ascensão
meteórica, se revelou o antídoto ideal contra a chapa nacionalista Lott/Jango.
E apenas sete meses após sua posse, o inepto candidato renuncia, gerando
uma enorme crise política e econômica, que vai resultar no golpe e instalação da Ditadura Militar, em 1º de abril de 1964.
Exatamente 29 anos depois da “aventura” Jânio, dois candidatos de
esquerda surgiam como favoritos na eleição para presidente em 1989: Brizola e Lula. Eis que a elite brasileira “descobre” o governador de Alagoas, e “turbina” o “Caçador de Marajás” Fernando Collor para vencer as eleições. Pouco mais de dois anos depois, o candidato “inventado” se revela uma farsa e uma grave crise política e econômica leva a seu afastamento.
Pois se passam mais 29 anos e, em 2018, novas eleições. Após o golpe que
afastou Dilma em 2016, emergia como favorito em todas as pesquisas o ex-
presidente Lula, mas, novamente, a elite brasileira entra em cena, afasta a
candidatura favorita e “descobre” um certo capitão como o candidato ideal para derrotar as candidaturas de esquerda.
E mais uma vez a história se repete. Sua inaptidão é evidente e o País afunda, mais uma vez, em grave crise política e econômica. Que sina é esta!?
(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia