Miguel Setembrino Emery de Carvalho (*)
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Tenho um amigo que diz que sempre quando chega a um país ou a uma cidade que não conhece e deseja saber como caminha a economia local, procura prestar atenção na quantidade de placas de vende-se ou aluga-se imóveis espalhadas pela rua. Se forem muitas, ensina-me, é sinal de que a situação não vai nada bem.
Sorte que esse amigo frequenta muito Brasília e não corre o risco de se assustar, pois ao passar por certos logradouros da cidade, em especial a W3 Sul, terá a medida exata da hecatombe econômica que nos assola. A outrora principal artéria econômica da cidade é hoje um espantalho do que foi, largada às traças, com centenas de imóveis comerciais fechados, gerando prejuízo e insegurança para a população.
Projetos de revitalização, como o mais recente VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), pensado para a Copa do Mundo (seria um dos legados), vão sendo postergados para as calendas e a via relegada a um abandono que só faz aumentar sua degradação, tornando qualquer recuperação futura muito mais onerosa e, talvez por isso, inviável. Círculo vicioso.
E a situação se espraia para toda a cidade, ao ponto de se alguém dispuser de recursos para comprar um imóvel em Brasília, o momento é mais que propício. E se puder pagar à vista, então, as possibilidades de realizar um excelente negócio aumentam exponencialmente, uma vez que o mercado imobiliário local está em crise, ainda que construtores e agentes do mercado se benzam cada vez que ouvem essa palavra.
Mas, a verdade é que, depois de muito tempo, finalmente o poder de barganha passou para as mãos dos compradores, invertendo uma tendência que parecia imutável na capital. Nos dois últimos anos, a queda na venda de apartamentos novos e usados foi da ordem de 12% e a quantidade de lançamentos despencou de forma generalizada, principalmente no Setor Noroeste, que registrou uma queda de incríveis 42%.
E os preços? Ah, os preços tiveram, enfim, que ser reajustados para baixo, coisa jamais vista no mercado candango, onde até pouco tempo atrás, com a desaceleração econômica, se apostava pelo menos na estabilização dos preços nos patamares em que se encontravam.
Mas agora, face à situação, aqui e ali já é possível entreouvir trechos de discursos mais realistas, que confirmam a percepção geral de que o mercado imobiliário candango sempre operou fora da realidade e que a crise econômica, já com força de tsunami e não mais aquela marolinha, se encarregou de fazer com que os operadores começassem a praticar preços mais em conta, em nome da própria sobrevivência. Sinal dos tempos…
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Já foi prá rua?
(*) Advogado e vice-presidente da Fecomércio/DF
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