Por Antonio Villarreal (*)
Setembro nos remete à Independência do Brasil, que, no decorrer do processo histórico da América Latina, é vista como relativa e mal resolvida. E isso tem consequências em nossa sociedade. As nações da América Latina surgiram no século XIX, a partir de grandes movimentos dirigidos pelas elites agrárias, os caudilhos, como eram chamados os grandes proprietários rurais.
San Martín, com seu Exército dos Andes, libertou a Argentina (1816), o Chile (1818), e, ao norte, Simón Bolívar, libertou a Colômbia (1819), a Venezuela (1821), o Peru (1824), e, com José de Sucre, libertaram o Equador (1822) e a Bolívia (1825). Tiveram suas divergências, San Martín defendia governos de príncipes de origem europeia. Simón Bolivar, por sua vez, defendia uma grande nação na América, independente e unificada.
Todos acabaram optando por um projeto republicano, baseado na produção agrária. A única exceção foi o Brasil, que optou por continuar a monarquia escravista também baseada na produção agrária.
Tinham em comum os novos governos na América Latina a submissão às políticas econômicas da Inglaterra, no século XIX, e dos Estados Unidos no século XX.
Isso nos impediu de construir uma economia industrial. Ficamos resignados a fornecedores de matérias-primas e produtos agrários, por consequência, afastados do capitalismo industrial e da modernização.
Fica na história uma independência a partir dos interesses das elites agrárias e da burocracia colonial em se perpetuar e manter seus privilégios. Interesses que sobrepuseram aos interesses da maioria da população latina, de origem africana e indígena. Criaram Estados usando a força militar para manter privilégios e dar continuidade a uma cultura europeia sem respeito às sociedades africanas e indígenas e à mestiçagem em evolução.
Ser brasileiro, ser latino é entender que temos uma grande disputa a fazer no seio de nossa sociedade preconceituosa que se espelha em culturas europeias. Uma luta organizada e unificada com todos os que se reivindicam latino-americanos por uma vida com mais direitos, mais cidadania, paz, justiça e igualdade para todos.
(*) Antonio Villarreal – Professor de história aposentado da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal.
5 de setembro de 2020.