Com base no calendário deste bendito ano de 2015, estamos às vésperas de comemorar o que se convencionou chamar de Semana Santa. Mas até há pouco tempo, a Igreja Católica tolerava a violência explícita contra Judas, representado pelos bonecos de palha pendurados nos postes e em seguida queimados em meio aos gritos de ódio incontido. Felizmente, essa insólita tradição ficou fora de moda, sendo praticada hoje sem o mesmo entusiasmo dos anos de antigamente, vingança que era extensiva aos judeus que moravam na minha rua.
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Afinal, segundo o Evangelho de Mateus, a troco de 30 moedas de prata que lhe ofereceram os sacerdotes, Judas Iscariotes levou os soldados romanos ao Jardim de Getsêmani, onde Jesus Cristo orava com seus apóstolos, identificando-o com o beijo na face. Posteriormente, movido pelo arrependimento, Judas enforcou-se numa figueira, ficando caracterizado desde então como o Apóstolo da Traição.
Na verdade, neste Sábado de Aleluia, não só as crianças, mas também adultos de todas as idades (incluindo os octogenários, como no meu caso) deveriam sair às ruas para pendurar bonecos de palha nas janelas dos prédios brasilienses (nos postes não sobraria espaço) dos agora mais de 50 políticos taxados de corruptos, cujas cabeças estão sendo entregues de bandeja pelo Ministério Público aos magistrados do Supremo Tribunal Federal, na chamada Operação Lava-Jato (*).
Com base no crescimento desse rol de roupa suja, como resultado das exaustivas investigações da Polícia Federal, os ministros do STF levarão, no mínimo, de dois a três anos de árduos trabalhos para indiciar os autores do rombo de milhões que, somados, chegam a bilhões de reais, furtados dos cofres públicos. E o pior: não só a principal Corte de Justiça do País ficará paralisada por longo tempo, como também tudo leva a crer que esses políticos larápios (que sempre retornam) ficarão impunes, graças à jurisprudência brasileira.
(*) Para não cometer nenhuma injustiça gratuita, até porque, como jornalista, não tenho competência legal para condenar a priori quem quer que seja, faço a ressalva: nessa relação de corruptos, é provável que haja nomes de inocentes, denunciados por dedos-duros participantes das mesmíssimas quadrilhas, favorecidos pela prática da delação -, inconveniente modalidade made in Brazil.