Geraldo César Moreira
“Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem”, disse Heráclito de Éfeso, um dos principais filósofos da Antiguidade.
Podemos ressignificar a frase, não só no sentido de alerta, mas porque a natureza sempre se renova. É o caso da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, paraíso das águas, da flora e da fauna do Cerrado, cujas cachoeiras são a principal atração. A região tem o título de Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco.
Um roteiro de seis dias em Alto Paraíso de Goiás, a 230 Km de Brasília e principal cidade da Chapada, inclui de pequenos poços com duchas naturais a imponentes quedas d´água e cataratas.
A Chapada pode ser visitada durante todo o ano, mas a dica é aproveitar os meses de maio a setembro, quando há menor risco de cabeça d´água (aumento repentino de um rio devido à chuva forte nas cabeceiras).
Durante a seca, as cachoeiras têm menor volume de água, e é mais seguro para se banhar e apreciar a beleza do local mais de perto. Inclusive, há circuito na parte visitável do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que só é aberto ao público nos meses de seca.
Pela manhã é melhor
A visita ao Parque Nacional da Chapada deve ser feita, preferencialmente, chegando pela manhã. Assim se tem mais tempo para aproveitar os circuitos, que são apresentados em palestra e vídeo no Centro de Visitantes. O parque fica próximo da Vila de São Jorge, outra atração local.
Uma das trilhas é a Saltos-Carrossel-Corredeiras, que dá acesso ao mirante do Salto do Rio Preto, cuja queda tem 120 metros de altura; banho no poço da cachoeira do Garimpão, de 80 metros; mirante do Carrossel; e mergulho nas Corredeiras, que conta com muitas duchas naturais.
O aplicativo do celular contou mais de 17 mil passos dados, aproximadamente 16 Km, somando ida e volta. Portanto, use roupas e tênis confortáveis, chapéu ou boné, proteja-se com filtro solar, leve água e alimentos leves. Os funcionários do parque alertam para não se afastar das trilhas nem descartar restos de alimentos pelo caminho, porque podem atrair os animais. Já a trilha da Travessia das Sete Quedas, a mais extensa, só fica disponível nos meses de maior seca.
Cachoeira dos Cristais
Para quem chega no início da tarde em Alto Paraíso, uma boa sugestão é a Cachoeira dos Cristais, que fica bem perto da cidade, a poucos quilômetros por rodovia e outros de terra de chão. O complexo tem, em um terreno de declive, várias pequenas quedas d´água, que propiciam vigorosas duchas naturais, e termina na bela cachoeira Véu da Noiva. Há estrutura no local, como um bar que oferece um redário e mesas com vista para o vale, onde se pode provar saborosos pastéis, como os de palmito e de pequi. No final da tarde, é bem comum ver casais de araras voando, o que dá ainda mais a sensação de se estar em contato com a natureza.
Vale da Lua
Uma atração “do outro mundo” é o Vale da Lua. A formação geológica de milhões de anos é impressionante. O rio São Miguel, que passa pelas pedras, forma uma piscina natural que convida ao mergulho. Chegando pela manhã, é possível fazer outro passeio à tarde.
No sentido de volta para Alto Paraíso, uma sugestão é visitar a Pousada Fazenda São Bento. O lugar tem história, remonta ao período da mineração do ouro, no século XVIII, quando as terras pertenciam ao município de Cavalcante, também incluído na região da Chapada dos Veadeiros.
Atualmente, a riqueza do lugar está na beleza das suas três cachoeiras: Almécegas I, uma das mais belas da região, Almécegas II e a São Bento. Para os admiradores de cervejas artesanais, tem a São Bento, produzida e vendida lá.
Cachoeira do Segredo
Uma das mais belas da região, a cachoeira do Segredo tem cerca de 100 metros de queda. Fica a 15 Km da Vila de São Jorge, sendo que 5 Km é em estrada de chão. A trilha é moderada, na maior parte à sombra da vegetação e às margens do rio. É irresistível o mergulho nas piscinas naturais de cor verde e transparência que formam um cenário de sonho.
As Cataratas dos Couros
A 53 Km de Alto Paraíso, boa parte em estrada de terra, ficam as Cataratas dos Couros. É possível chegar sem auxílio de guia turístico, mas é recomendável o uso de algum aplicativo de locomoção. O caminho mais curto foi, na rodovia GO-118 (sentido Brasília) entrar à direita na estrada de terra onde há uma placa sinalizando a cachoeira do Papagaio.
As principais atrações são a cachoeira da Muralha, a que fica mais perto do local de estacionamento, e a cachoeira Almécegas 1000.
Numa outra trilha é possível chegar ao cânion, mas nessa é necessário um guia. As Cataratas dos Couros ficam no Parque Estadual Águas do Paraíso e o local não cobra taxa de visitação.
Onde Comer
Em Alto Paraíso, há opções gastronômicas para todos os bolsos. Na rua principal, o Vendinha 1961 oferece rodízio de caldos, pizzas e diversos pratos, além da cerveja artesanal Vendinha UP.
O restaurante La Vita é Bella tem uma saborosa e bem servida comida italiana. O dono é italiano e, em muitos momentos, podemos vê-lo a trabalhar a massa no balcão. Uma curiosidade: a maior parte dos funcionários são simpáticos e atenciosos indígenas de etnia de Roraima.
O Jambalaya é uma opção sofisticada, com menu brasileiro e internacional, e dá a opção de se ficar no salão ou em tendas de palha à luz de velas, o que torna as noites mais românticas e agradáveis.
Fotografias e pão de mel
Além da cachoeira do Segredo, há um outro segredo em Alto Paraíso: o Pão de Mel Sabor do Paraíso, feito artesanalmente. Entre os sabores, nozes, castanha do Pará, brigadeiro e café. Você pode adquirir diretamente onde são produzidos, na casa da dona Margarete, também conhecida por Vídya; contato pelo telefone (62) 3446-2211. Como não é permitido retirar plantas, flores etc. de um parque natural, além das fotografias, trazer pães de mel é uma boa lembrança. Ao prová-los você vai ao paraíso.
Serviço
As taxas de visitação variam de R$ 20 a R$ 70, sendo que em alguns lugares só é aceito pagamento em espécie. Então, é sempre bom conferir antes.