Um baiano de Morro do Chapéu é idealizador de um sebo móvel que percorre diversas regiões administrativas do Distrito Federal para levar cultura aos brasilienses. Márcio Rocha Soares, de 33 anos, vive há quatro em função de comprar, vender, receber e doar livros nas ruas da Capital e das cidades-satélites.
Ele deixou o emprego formal de gerente comercial de uma loja de calçados e hoje se mantém com a comercialização das obras literárias. O baiano simpático percorre basicamente três cidades e relata diferenças culturais e burocráticas entre elas, o que impacta diretamente em seu trabalho.
Márcio reveza seus pontos entre Ceilândia, em frente ao Fórum, na QNM 11; em Águas Claras, na Estação de metrô com o mesmo nome; e no Guará, também em frente à estação metroviária. Segundo ele, só não vai aos locais em caso de fiscalização da Agefis ou de chuva, que o impede de vender.
“Eu sei que estou ocupando área pública neste momento, mas já tentei por várias vezes regularizar a situação na Administração (de Ceilândia) e não resolve. No Guará, o administrador quase me implora para ir, porque entende o poder que a leitura tem na mudança da vida das pessoas”, diz Márcio. “Aqui (em Ceilândia) não tem nenhum sebo, e os jovens muitas vezes não podem gastar R$ 50 para comprar um livro. Eu vendo obras famosas a R$ 10”, afirma, exibindo um exemplar da saga Crepúsculo.
Jéssica Nayane, 20 anos, moradora de Ceilândia, não conhecia o sebo. “Estava passando por e vi. Sinto falta de livrarias aqui na cidade”, lamenta. A estudante de psicologia diz que os preços são muito acessíveis, o que a levou a comprar, mesmo no final do semestre da faculdade. “Eu gosto muito de ler. Vou comprar e ler durante as férias de janeiro”, disse.
FILANTROPIA – Os livros que Márcio recebe de doações viram ações sociais. Ele conta que não comercializa o que recebe de graça. “Quando alguém me doa, eu vendo o livro pela internet e transformo aquele dinheiro em filantropia”.
Em companhia da esposa, promove um café da manhã mensal para moradores de rua de Ceilândia e ajuda, com auxílio da internet, a encontrar a família daquela pessoa. “Eu pago R$ 10 para me contar uma história. Se a história for boa, pago mais R$ 10 e tento encontrar os parentes dela”, explica.
“Eu já encontrei a família de um senhor que morava na laje do BRB (ao lado do sebo). Ele veio para Brasília em busca de emprego, se envolveu com drogas e há 10 anos os familiares não tinham notícias dele”, relata emocionado. “Depois de um tempo, vi uma foto no Facebook dele, saudável e com sua família no Nordeste. Foi o meu maior pagamento”, concluiu.