No relato, a empresária Michelly Nogueira conta que, além de atender o setor privado em demandas avulsas, trabalha para alguns parlamentares. Segundo ela, a empresa foi criada em 2012. No ano seguinte, teria sido convidada para “compor o time da campanha da deputada Sandra Faraj”.
A proposta seria “para fazer o trabalho por um preço em conta visando o futuro. Caso a deputada ganhasse as eleições, ela contrataria a empresa para ‘caminhar junto’ ao mandato”, diz o documento. Foi feito, então, um acordo de R$ 64 mil com o CNPJ da empresa Studio Nogueira — hoje Studio Web —, do marido de Michelly, Filipe Nogueira. De acordo com os empresários, no entanto, o serviço nunca foi pago.
“Como éramos fiéis, não queríamos criar indisposição junto aos líderes da igreja e tampouco correr o risco de perder esse contrato”, diz Michelly em sua denúncia documentada.
Em fevereiro de 2015, quando Sandra já havia sido empossada na CLDF, a distrital contratou a Netpub para criar um sistema de informática para o gabinete. “O valor do contrato foi de seis parcelas de R$ 15 mil e outras seis de R$ 14 mil. Seriam seis meses de construção e seis meses de manutenção”, afirma o documento.
Segundo Michelly, a condição estabelecida pela deputada — e que teve como testemunha o então chefe de gabinete da parlamentar, Manoel Carneiro — foi a entrega das notas fiscais antes da execução e do pagamento pelo serviço.
O problema é que Sandra Faraj apresentou à Câmara Legislativa notas fiscais referentes ao serviço executado pela Netpub ao longo de, no mínimo 12 meses, com os mesmos valores reclamados pela empresária. A desconfiança da denunciante é de que a deputada tenha se apropriado dos valores. Por meio de assessoria, Sandra Faraj assegura que “pagou pelas notas. Inclusive, há o carimbo de ‘recebido’ em todas”.
Já Filipe Nogueira, afirmou ao Metrópoles que fazia parte do acordo com Sandra entregar as notas antes, já com o carimbo de recebido. Mas a deputada não teria pago. “Ela não pagou nada até abril de 2015. Quando cobramos, ela afirmou que pagaria boletos mensais de R$ 2.655. Logo depois, eles nos pediram os códigos do site (que produzimos), porque afirmaram ter contratado outra empresa”, afirmou.
Segundo Nogueira, o caso não foi denunciado antes porque havia um envolvimento pessoal com a parlamentar, devido a questões religiosas — o casal frequenta a mesma igreja em que Sandra é pastora, o Ministério da Fé, em Taguatinga. “Ela disse que estava investindo esse dinheiro em outras áreas. Por isso, esperamos. As contas da empresa estão abertas para a Justiça pesquisar e ver que não foram realizados os depósitos”, afirmou.
Em entrevista à TV Globo, nesta segunda-feira (13), o empresário também admitiu ter trabalhado ilegalmente no gabinete da deputada, em 2015. Nogueira afirma que a relação com Sandra Faraj começou em 2014, na campanha eleitoral. Quando assumiu o cargo, ela o contratou para um cargo comissionado de alto posto, com salário de R$ 11 mil. Ele foi exonerado hoje.
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