Em recente crônica anterior, baixei o pau nos reis brasileiros de mentirinha, que continuam nascendo e se multiplicando tal qual ervas daninhas, frutos de vãs vaidades pessoais de figurões que se julgam mesmo como monarcas, graças às demonstrações de tietes alopradas que têm vácuos nas cabecinhas. Mas abro uma exceção em relação ao Rei Momo. Eis que o reinado desse Rei negro gorducho vigorará, de fato e de direito, em fevereiro, durante quatro dias consecutivos, de sábado, 14, a terça-feira, 17. E a maior prova de que se trata de um reinado de verdade, no Rio de Janeiro o prefeito entrega à Sua Majestade as chaves da cidade, que continua sendo maravilhosa, com o acréscimo circunstancial de ninguém é de ninguém. Mas, diga-se de passagem, que ao contrário dos falsos reis, Momo surgiu na mitologia grega, com nome de deusa.
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Embora fosse mulher, na Roma antiga o mais belo soldado era designado para representar a divindade feminina de Momo, nos três dias de festividades carnavalescas, ocasião em que era tratado como a mais alta autoridade local, sendo o anfitrião de toda a orgia. Posteriormente, passou-se a escolher o homem mais obeso da cidade, para servir de símbolo de fartura, de excesso e de extravagância. Depois de trafegar pela Espanha, no século XVI, o Rei Momo apareceu pela primeira vez em público em 1888, na cidade colombiana de Barranquila. No Brasil, o palhaço negro Benjamim Oliveira foi o primeiro a personificar o Rei Momo, em 1910, no Rio de Janeiro. Desde então, o monarca carnavalesco nacional passou a ser negro, gorducho e sempre pronto a dar uma boa gargalhada, só sendo então entronizado oficialmente em 1968, através de uma lei estadual.
Por falar em Momo e, consequentemente, no carnaval brasileiro que se aproxima, sempre me senti como um palhaço no salão, nas pouquíssimas vezes que participei de um baile momesco, lembrando a marchinha carnavalesca de meu saudoso amigo Zé Kéti: “Tanto riso, oh quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão / O Arlequim está chorando / pelo amor da Colombina, no meio da multidão…”
Sem dúvida que estão certos os sociólogos ao afirmarem que o carnaval “é o Ópio do Povo”, para esquecer durante alguns dias a realidade do País. Como sou um Arlequim apaixonado pelo Brasil, prefiro chorar de raiva ao desfilar no Eixão pelo bloco do Eu Sozinho.