“A primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la”. A frase, do escritor uruguaio Eduardo Galeano, deveria ser um mantra para todo e qualquer governante. Porém, claramente, não é o que acontece no Distrito Federal. Mesmo três anos após assumir o Palácio do Buriti, Rodrigo Rollemberg insiste em querer ajustar a realidade de Brasília e das outras Regiões Administrativas à imaginação dele. Aqui, estamos no caminho contrário ou, no mundo fictício do GDF, “no rumo certo”. Qual? Nem o governador sabe.
E isso ficou bem claro com a publicação no Diário Oficial (DODF), no dia 7 deste mês, do Decreto nº 38.914, que permitia manter sigilosas as viagens dos chefes do Executivo e familiares. Depois de assinar o texto, arrependido (não pelo comportamento nada democrático, mas pelas críticas que recebeu), Rollemberg voltou atrás e afirmou à imprensa ter rubricado o documento sem conhecer o “teor das alterações e no que elas acarretariam”. Sim. Essas são aspas do próprio governador.
O interessante, no entanto, é enxergar esse comportamento nada pontual de Rollemberg sob outro ângulo. Ou, melhor dizendo, outras áreas, para além do decreto das viagens sigilosas. Assim como desconhecia o teor do texto em questão, suspeita-se, diante do caos espalhado por todo o DF, que o governador desconheça que foi eleito para governar. E, sim, com transparência. Nada de mudar as regras e querer impedir a população de saber para onde está indo o dinheiro suado dos impostos pagos.
Como não tem capacidade de gestão, nem técnica nem intelectual, tudo nos leva a crer que Rollemberg realmente não sabe o que faz. Na saúde, até agora, as poucas mudanças realizadas não surtiram qualquer efeito positivo: começou com a tentativa de implantar as Organizações Sociais na gestão dos hospitais públicos, criou uma fake news com a fictícia expansão da Atenção Básica, está terceirizando o Hospital de Base, com um instituto que, na prática, não aumenta a produtividade e nem amplia os atendimentos.
Enquanto isso, no DF real, desconhecido pelo governador, a população pena nas filas dos hospitais, para conseguir atendimento nas Unidades Básicas de Saúde e, mesmo com familiares em busca de uma saída para salvar as vidas daqueles que amam, a SES-DF despreza ações judiciais e deixa, ano a ano, centenas de pessoas sem acesso às UTIs. Só em 2017, segundo dados da própria Defensoria Pública, 645 ficaram sem vaga na rede pública. E isso sem falar do assédio moral ao qual os servidores são expostos diariamente: sem as condições mínimas para trabalhar.
E, como para mudar uma realidade é preciso conhecê-la, até o fim deste governo o cenário não deve melhorar. Se o governador sequer sabe o que assina, que dirá o que se passa longe do conforto do Palácio do Buriti.