Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) no triênio 2012/15, o brasiliense Ibaneis Rocha Barros Júnior, 46 anos, filho de piauienses de Corrente, tem o sonho de governar a capital da República. Morou no interior quando o pai, funcionário da UnB, foi para a Universidade Federal do Piauí implementar o primeiro projeto de desenvolvimento de soja do estado e da expansão dos campus da UFPI. Em 1987, retornou para Brasília, concluiu o segundo grau e ingressou na faculdade. Formou-se em Direito pelo UniCeub em 1983. Seu escritório, especializado em questões trabalhistas, cíveis e tributárias, conta com cerca de 50 advogados, além de funcionários de apoio. Como presidente da Ordem, conheceu os problemas da cidade e vivenciou as dificuldades de sua gente. “A Ordem tem essa característica de se envolver nos problemas para poder solucioná-los. Isso nos abriu muitos campos. Por exemplo, no setor imobiliário nós tínhamos um contato muito próximo com o pessoal da Ademi, da Asbra e do Sinduscon em virtude desta trava existente no sistema imobiliário do DF, no que diz respeito à emissão de alvarás e licenças de funcionamento. Isso fez com que a gente discutisse toda a legislação imobiliária no âmbito da OAB.
Essa sua vivência e convivência com a sociedade organizada é o que lhe faz pensar em disputar o Palácio do Buriti?
Sem dúvidas nenhum, essa vivência, convivência e amor a cidade, que me deu tudo, tem essas perspectiva que pode contribuir com a discussão política do DF. Sabemos da dificuldade por que passam todos os governos. É um momento de gestão muito difícil. Mas também é um momento das pessoas que querem o bem se colocarem a disposição.
O Rollemberg quer o mal?
Eu não acredito que ele queira o mal. Eu digo para algumas pessoas que só querer o bem não resolve. Tem que ter uma habilidade de gestão e vontade de ser gestor executivo. Isto não é um defeito. Tem pessoas que nascem para o parlamento, para a negociação, mas não conseguem executar aquilo que se pretende.
O senhor nasceu para o Executivo?
Eu tenho essa característica. Até como advogado ser um executivo. Acho que teria condições, sim, de ser um solucionador de problemas. Eu tenho a capacidade da negociação na mesa, buscando as partes, tentando tirar os entraves. Sempre foi isso que fiz na vida.
O senhor não acredita nessa crise financeira de Brasília hoje? O governador, desde quando assumiu, alega que existe um déficit muito grande. Qual seria a alternativa para isso?
Crise financeira todo mundo passa, não só o setor público, o privado também. Mas Brasília tem uma característica um pouco diferente. O que falta, realmente, é a priorização e melhoria da gestão. Nós temos um Fundo Constitucional de mais de R$ 13 bilhões, o que estado nenhum tem. Outros estados da federação tem que arcar com saúde, educação e segurança. Aqui nós temos todo essa aporte. Nos demais estados você tem uma receita compartilhada com os municípios. Em Brasília, não tem. É o local de maior renda per capita do país. Você tem condições outras que, se bem geridas, tenho certeza que o resultado seria outra. Eu tenho uma perspectiva que o governante nunca pode vender a desilusão. Mesmo que a situação esteja difícil, você tem que apontar rumos.
O erro do Rollemberg está aí?
Acho que o governante não precisa vender ilusões, mas não também precisa desesperanças. A função de um gestor público, que trabalha e tem que se trabalhar com parcerias público-privadas, com incentivo do empresariado, o que se verifica é que houve uma quebra do empresariado em virtude da desilusão. Imagine um cenário onde você tem em Brasília uma classe trabalhadora voltada para serviço público e você diz para essa pessoas que está em crise profunda. A primeira situação, como consumidor, é retrair as compras. É natural do ser humano. Quando você aponta para ele um cenário somente de crise, você, imediatamente, tira ele do mercado. Isto teve um impacto muito forte nas empresas do DF. Tivemos inúmeras que fecharam, número alto de desempregos e uma fuga muito grande delas. Várias empresas instaladas aqui saíram para cidades vizinhas. Na minha visão, em vez buscar a solução e trazer esperança de desenvolvimento, preferiu-se apostar na crise para, agora, neste momento, se dizer que toda situação está toda regularizada.
Esse “agora, sim, estou pronto” foi em função do confisco do dinheiro da previdência, o Iprev? Essa ação era necessária?
A situação se agravou a tal ponto que as saídas tiveram que ser negociadas neste sentido. Para mim, se tivesse procurado uma saída há três anos, quando se ganhou a eleição – porque você tem que governar já sabendo o que vai ser feito – ele, como um político tradicional, deveria saber a situação de Brasília.
O senhor não é um político profissional, você sabe desta situação?
Tenho buscado estudar ela profundamente, principalmente, a área financeira, sei de onde nós podemos tirar recursos, quais áreas precisam ser motivadas – por exemplo, a área de regularização fundiária –, destravar o andamento das empresas e buscar trazer empresas para o DF nas áreas de maior consumo. Nós temos algumas coisas que podem ser feitas em Brasília que nos colocaria em outra perspectiva de crescimento.
Como advogado, você sabe que a legislação não permite candidatura avulsa. Como o senhor pretende viabilizar sua candidatura, se você não está filiado?
Primeiramente, acho que a candidatura avulsa ainda não é um instrumento que estaria viável no Brasil. É muito discutível para o nosso sistema eleitoral. Para mim, a atual conjuntura depende de uma harmonia, discussão e formação de um grupo partidário que queira recuperar a cidade. Não teremos em Brasília nenhum salvador da pátria. Isso não se busca. Acredito que essa consolidação e estar filiado a um partido será importante, mas essa discussão tem sido feito com os partidos.
Quais partidos?
Tenho conversado com quase todos. Já tive conversa com o PDT, com sua principal liderança, o Joe Valle (presidente da Câmara Legislativa). Tive uma boa conversa com o ex-deputado Alírio Neto, que hoje está no PTB. Tive uma conversa com o senador Cristovam Buarque, que foi governador desta cidade e dois mandatos de senador. Tive conversa com o PMDB, através do ex-vice-governador Tadeu Filippelli. Então, tenho conversado com vários. Já estive com vários partidos menores também, com PHS, PEN e alguns outros daqui.
Você teve uma conversa longa com o governador Rollemberg, não divulgada à imprensa. Em torno de que girou essa conversa?
Em que pese discordar do modo de gestão de Rollemberg, sou amigo pessoal dele. Ele tem uma filha que é advogada, que enfrentou algumas demandas da advocacia conosco. Então, tenho um bom relacionamento com ele. A conversa girou em torno de política. Sobre as pretensões dele de reeleição e a nossa de enfrentá-lo.
Você deixou isso claro para ele?
Isso ficou muito claro para ele.
Ele tentou te atrair para o grupo dele?
De certo modo, houve um convite. Mas deixei bem claro que não concordava com o modo como ele gere a cidade. O momento é de colocar o debate na mesa.
O convite seria para o PSB?
O convite seria para ficar ao lado dele, só que, por não acreditar nessa proposta implementada durante esses anos, não dei nenhuma abertura. Para que isso viesse ocorre, deveria haver muitas conversas e uma mudança de postura muito forte do governador?
Podemos fazer um divisor de águas do Rollemberg que chegou e está dizendo que está tentando colocar a casa em ordem. Antes, veio o PT, com Agnelo Queiroz, com aquela gestão que se comprometeu a dar aumentos grandes ao longo dos dois anos seguintes, que o Rollemberg acabou não cumprindo. E antes disso, houve os problemas dos escândalos. O que é menos ruim para Brasília?
Brasília vem passando por um grande período de desilusão. Saímos de um período de escândalo, onde o ex-governador foi abatido naquele momento, inclusive, vinha fazendo um bom voo. Depois, nós tivemos duas gestões de governadores interinos. Ali, sim, começou aquela farra dos reajustes. Tanto com Rogério Rosso quanto com Wilson Lima. Alguns deles necessários, pois havia uma política de desvalorização do servidor do DF. No governo Agnelo, nós tivemos um período de amplo crescimento da cidade, com grande obras, infelizmente, muitas acusadas de corrupção, mas foi um período em que a cidade passou por uma revolução nas suas obras: estádios, obras viárias ainda não concluídas, o Centro Administrativo que parou na situação que está, mas deveria ter sido concluída. Quem estiver em corrupção que pague pelos seus erros, mas o Centrad é uma obra que está abandonada e que, certamente, estaria servindo para Taguatinga. Existia uma previsão de arrecadação muito grande no governo Agnelo. O governo Agnelo sofria de um problema interno. Agnelo não é originário do PT, ele veio do PCdoB para se candidatar. E o PT tem várias correntes internas. Isso levou a uma desarmonia dentro do próprio governo e a concessão de inúmeros reajustes que não foram pensados. Não se pode dizer que o governador Rollemberg não tinha conhecimento. Ele tinha como senador da República, eleito com apoio de Agnelo, e nunca se colocou contra. Nem na época em que era candidato a governador e muitos deles foram concedidos nesse período. Ele assumiu sabendo qual era o encargo.
Ele deveria ter cumprido?
Acredito que se ele não tivesse feito a política inversa, porque essa conta vai ser paga, talvez até por mim se eu chegar a ser governador. Ele simplesmente adiou a conta, deixando para uma gestão futura. A maneira como foi tratada a questão do reajuste não foi muito bem acertada. Ele deveria ter buscado outros meios de negociação e não gerar um passivo judicial, que vai ficar acrescido de honorários, juros e correções monitórias. Ou seja, deixou aí um passivo para o próximo governo. Sem contar o passivo que tem das empresas. Temos inúmeras ações das empresas, que trabalharam para o DF e foram questionadas na Justiça. São inúmeros processos judiciais transitados em julgado. O passivo que o governo Rollemberg está deixando para o próximo governo é muito elevado.
É possível pagar essa passivo?
O governo não é de pessoas, e sim, do público. Está tudo registrado e terá que ser pago. O pior disso tudo não foi só esse desgaste administrativo nos últimos 10 anos. É que nas últimas eleições nós tivemos sempre uma eleição onde se ganhava o menos pior. Na eleição do Agnelo, ele concorreu com a senhora Weslian Roriz, por uma circunstância do afastamento do candidato Joaquim Roriz à época. Posteriormente, tivemos a eleição de Rollemberg, em virtude de uma, digamos assim, teimosia do Arruda em manter a candidatura que ele já via inviável desde o início. Então, mais uma vez, houve uma ausência de debate. A entrada de Joaquim Frejat, se tivesse sido mais no início, o debate político talvez tivesse sido mais amplo e o governador teria, mesmo que eleito, oportunidade de explanar com mais clareza as suas ideias.
Com a sua postura hoje, não haverá vitória por W.O?
Não só com a minha postura. Nós temos que ter candidatos competitivos. A cidade e os eleitores têm que ter a oportunidade de debater os temas da cidade e escolhe qual rumo que vai se dar. Ele não pode ser escolhido por uma circunstância política em que ficam ausentes os candidatos. Esse é o meu propósito. Se o candidato deste grupo que está em formação for eu, o que vamos fazer é trazer os problemas da cidade e buscar esquadrinhar as soluções possíveis e viáveis a partir desse debate, colocando ele na mesa. Quem for nos enfrentar, se for o governador ou qualquer outro candidato, também terá que partir para este debate de clareza.
O PSB está articulando uma coligação, aliança, para tentar se viabilizar e reeleger. Hoje, a Arlete Sampaio admitiu que pode retornar a atividade política. Afinal, quem são os nomes com o quem o senhor tem conversado que já fazem parte deste pensamento que o inclui como candidato.
Essa conversa tem sido colocada. Ela partiu primeiramente de uma conversa com o deputado Joe Valle. A partir daí, conversamos com o presidente do partido, Michel. E chegamos a conversar com o presidente nacional, Carlos Luppi. Tivemos conversas com o senador Cristovam e com o pessoal que representa o maior ramo das igrejas do DF. Tivemos conversa com o grupo do PRB. Existe uma disposição de se montar um grupo: Alírio Neto, Filippelli…
Esse grupo já tem se reunido?
Tem se reunido. Exatamente com essa convicção de que tem que se montar um grupo voltado para discutir os problemas da cidade e colocar os melhores quadros, aqueles que não estiverem envolvidos em problemas de corrupção e ética. Mas, sim, colocar esse grupo disposto a discutir a cidade e avançar.
Por que você não foi reunião na casa do Izalci?
Acho que eles já haviam começado uma conversa anterior a minha chegada. Acho que foi um momento de eles debaterem sobre o ingresso deste nome.
Você tem essa informação?
Tenho, não sei ainda o resultado e estou aguardando que me comuniquem.
Temos duas frentes diversas. Tem o grupo que reúne os mais à direita e sua conversa anterior seria com políticos de centro-esquerda. Com quem você mais se identifica?
Eu não acredito que Brasília vai conseguir uma recuperação da situação em que ela está se você não fizer uma ampla aliança de negociações. Nós temos a Câmara Legislativa e uma legislação que precisa ser atualizada no DF, nós precisamos do empresariado, nós precisamos discutir com os setores produtivos desta cidade, discutir com os servidores público, porque precisam ser valorizados. Então, acredito que esta deve ser uma ampla aliança no sentido de recuperar a cidade. Brasília sofreu muito com essa polarização. Ela pagou um preço muito claro entre o azul e o vermelho.
O Arruda apareceu como terceira via. Entre o azul e o vemelho, surgiu um verde. O Valmir Campelo colocou o amarelo em uma época. E os seus grupos continuam muito definidos.
Hoje, eles já transitam. Por exemplo, na conversa que tive com o senador Cristovam, ele tem essa ideia de que tem que haver uma aliança um pouco mais ampla no sentido de se trazer governabilidade.
A ética e o não político nos discursos está crescendo, como visto em São Paulo, com a eleição de Dória. Você se alinharia a este perfil?
A partir do momento que você se coloca a disposição para participar da política, você se torna político. Não acredito em soluções públicas fora da política. Todas elas que não são da política são radicalismo e se transformam em ditaduras. Então, todas as linhas e estudos levam a isso. Você só não é político enquanto está fora da discussão política. Quando você entra, tem que se colocar como político. O fato não é ser ou não político. É ser um bom ou mau político. Para mim, a grande diferença está aí. Ser político não é problema, o problema é ser um bom político. O que a população não está acreditando é que existam bons políticos ou que possam existir. Sendo político, já é colocado como um picareta.Ouvi uma frase muito interessante de um colega nossa de advocacia, ele dizia: “Os bons terão que ter a mesma coragem dos maus, porque senão tudo estará perdido”.
Estou muito feliz de ter entrado neste debate e ver que as coisas estão evoluindo. As pessoas estão se reunindo um ano antes da eleição, o que impõe até ao próprio governador a posição de discutir e buscar alianças. Para mim, mesmo que não venha a ser o candidato escolhido por esse grupo que pretende governar o DF, só de proporcionar o debate, já estou feliz.