Carioca filho de nordestinos, criado na Asa Sul, aluno de Escola Classe, do Setor Leste, do Elefante Branco e da Universidade de Brasília (UnB). Frequentador dos campinhos de futebol das áreas verdes, do Lago Paranoá e das piscinas públicas. Apreciador do chope e dos tira-gostos do Beirute e do Libanus. Testemunha do surgimento de bandas como Legião Urbana e Plebe Rude. Místico, fã de cachoeira, torcedor de time carioca, o Botafogo, servidor público, praticante de corrida de rua, morador de condomínio horizontal.
O governador eleito Rodrigo Rollemberg (PSB) é um legítimo representante da primeira geração da classe média brasiliense.No entanto, o socialista difere dos candangos de meia-idade bem-sucedidos. Aos 55 anos e tendo conquistado cargos públicos até chegar a senador e a governador, Rollemberg dispensa carro oficial, ternos, calçados e relógios de grife. Tampouco entende de carros e motos. Tem apenas um veículo na garagem, uma caminhonete S10 fabricada em 2004. Não é de viajar com a família para o exterior. Prefere sua fazenda no Entorno e a casa de praia do clã Rollemberg, em Aracaju (SE). Só não abre mão de um bom vinho e de motorista.
O homem que ontem conquistou 812.036 votos chegou a Brasília em 1960 ainda bebê, quando o pai, o então deputado federal pelo PR de Sergipe Armando Leite Rollemberg — como todos os demais parlamentares daquela legislatura — teve de trocar o Rio de Janeiro pela recém-inaugurada capital. Com Armando, ex-juiz de direito, vieram a mulher, Teresa Sobral, e os primeiros dos 15 filhos do casal. Os Rollembergs ocuparam um apartamento no primeiro andar do Bloco E da 206 Sul, ainda cercado pela poeira vermelha dos primeiros tempos.
Quando começou a frequentar a escola, Rodrigo fez as primeiras amizades. Sempre que havia sol, ele e os vizinhos da mesma idade desciam dos blocos para jogar bola no campinho da 206 Sul. Rodrigo tomou gosto pelo futebol e pela posição de atacante. “Era daqueles fominhas. Queria jogar todas as partidas e sempre na frente”, conta o irmão Carlos Augusto Rollemberg, mais conhecido como Guto, um dos irmãos mais íntimos de Rodrigo.
Sempre um bom aluno, Rodrigo não era de dar muita dor de cabeça aos pais. Na infância, a maior estripulia era ignorar a ordem severa da mãe de não atravessar o Eixão a pé. Aos 18 anos, quando já havia despertado o gosto pela cerveja, pelas festinhas nos apartamentos do Plano Piloto e pelas meninas, Rodrigo partiu para a sua maior aventura até então. Com pouco dinheiro, ele e mais três amigos decidiram viajar pelo Nordeste de mochila nas costas, pedindo carona e dormindo em barracas.
Boa de prosa
A atração pelas disciplinas de humanas levou Rollemberg a optar por cursar história na UnB. Logo no início das aulas, em 1980, conheceu aquele que viria a ser um dos melhores amigos e mais próximo assessor político, Marcelo Dourado. Com a mesma idade, ambos se tornaram militantes de esquerda em um país ainda dominado pelos militares. Dividiram a direção do Centro Acadêmico do curso de história. Rollemberg não usava os típicos trajes dos integrantes da política estudantil da época. Conservava apenas os cabelos longos. “Bom de prosa, inteligente, fazia sucesso entre a mulherada. Era muito romântico”, entrega Dourado.
Nessa época, dividido entre as músicas de protesto da MPB dos anos de chumbo e do rock nacional, que começava a ressurgir por meio de bandas paulistas, cariocas e candangas, Rodrigo descobriu a maconha — o que assumiu recentemente em entrevista, na campanha, alegando ser um hábito dos jovens da época e não recomendado a ninguém. Rodrigo concluiu o curso de história em 1983. Dois anos depois, filiou-se ao PSB, aquele que viria a ser o seu único partido político.
Nos anos 1990, os jovens da família Rollemberg eram sinônimo de festa. Movidas a álcool, azaração e rock’n’roll, as baladas atraíam centenas de brasilienses à Mansão Rollemberg, uma das cinco do condomínio da família no Park Way. Rodrigo era visto na pista de dança, embalada principalmente pelo rock. “O Rodrigo gosta de festas porque gosta de gente, de ouvir as pessoas e de conversar”, diz o irmão Guto.
Aos poucos, cada vez mais envolvido com a política local e nacional,Rollemberg foi substituindo as festas jovens por reuniões. Também acabou trocando a cerveja por outra preferência. “Ele gosta de vinho, considera-se um expert, mas entende pouco”, brinca Dourado. O gosto pelo vinho levou Rollemberg a eleger o Bistrô Expand, na 403 Sul, um dos seus pontos de encontro favoritos. Quando quer um chope com tira-gosto, prefere os tradicionais Libanus e Beirute, na Asa Sul.
Amigos, parentes e assessores mais próximos garantem que o governador eleito nunca foi de ostentar. Jamais teve especialista para cuidar da imagem. Para alguns, até se vestia mal para um senador. Ultimamente, tem ouvido mais a mulher, Márcia, em uma tentativa de compor melhor o vestuário. Durante a campanha, usou praticamente o mesmo sapato. Mudou quando comprou um novo na Rodoviária.
Refúgio
Rollemberg costuma se refugiar em Luziânia (GO), a 70km do DF. Na sua Fazenda Veredas, de 75 hectares, recarrega as baterias e medita. Com bota de peão, calça desbotada e a mão na terra, cultiva uma horta e um pomar. Sabe os nomes das frutas e verduras. Também tem apreço pelas flores. Ao longo de 30 anos, criou uma alameda de flamboyants. É ainda apaixonado por ipês. Cria galinhas, patos, gansos, porcos, bois e perus. Vez ou outra, reúne o excedente, coloca na S10 e leva pessoalmente à Feira do Núcleo Bandeirante, onde vende os bichos. A atração pela natureza veio por acaso. Até o fim dos anos 1980, cabia a Ricardo, irmão de Rodrigo, cuidar da Fazenda Araras, propriedade dos Rollembergs em Luziânia. A história mudou quando Ricardo sofreu um acidente de carro a caminho da fazenda. Após 45 dias em coma e um longo tratamento, Ricardo voltou a andar, mas ficou com sequelas.
Nesse período, Rodrigo assumiu a Araras. Gostou tanto do contato com a terra que, anos depois, comprou a propriedade ao lado, a Veredas. Mas, 20 anos após sofrer um baque com o acidente, o irmão perdeu a luta contra a leucemia. A morte de Ricardo, em 2012, foi a primeira grande tragédia na vida do senador. A segunda veio dois anos depois, com o acidente aéreo que culminou na morte de Eduardo Campos.
Rollemberg chorou por quatro dias a perda do amigo e conselheiro político. Amizade iniciada pela admiração que Rodrigo tinha pelo avô de Eduardo, Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco. “Rodrigo sempre se espelhou em Arraes e o imita como ninguém, com os trejeitos e o pigarro. Isso tirava boas gargalhadas do Eduardo”, conta Dourado.
Rollemberg acorda cedo todos os dias, entre as 5h30 e 6h. Não sai de casa antes de fazer uma oração em frente às imagens de santos e a uma vela acesa. Quando deixa a residência, não para. Costuma ter uma agenda extensa. Para muitos, a energia demonstrada aos 55 anos é uma herança da mãe. Dona Tereza mobilizou filhos, netos, noras e genros a plantar uma floresta em sua propriedade, em Planaltina de Goiás, a 60km de Brasília. A família já plantou 70 mil mudas. Aos 83 anos, a matriarca nunca reclama de cansaço. Faz questão de reunir a família para almoços dominicais, aniversários e outras datas comemorativas.
Os fortes laços familiares sempre guiaram a carreira de Rodrigo. Nas decisões políticas, costuma ouvir pouquíssimas pessoas. Uma delas é a mãe. Também não abre mão de um almoço semanal com os irmãos, cunhados, cunhadas e sobrinhos. Em meio à correria da campanha, arrumava tempo para, vez ou outra, almoçar com a mulher, Márcia Helena Gonçalves Rollemberg, 53 anos.
Rodrigo e a assistente social Márcia se conheceram na UnB, onde faziam uma disciplina juntos. Quando ele entrou na sala de aula pela primeira vez, a jovem reparou no rapaz cabeludo. Depois de um trabalho em grupo, o namoro começou. No último sábado, completaram 34 anos de casados, renovados com a chegada da primeira neta, Mel. O casal tem três filhos: Gabriela, 30 anos; Ícaro, 29; e Pedro Ivo, 24. Nenhum enveredou para a política, mas Gabriela se especializou em direito eleitoral e atuou como advogada da campanha do pai.
Católico fervoroso, Rollemberg também procura o médium João de Deus, quando sabe de um amigo ou parente com problema de saúde. Apesar de ter santos espalhados pela casa e sempre ir à igreja, o governador eleito tem no morador de Abadiânia seu maior consultor espiritual.