Ex-governador aponta corrupção no GDF e chama Ibaneis de mentiroso: “prometeu extinguir o IHB e não privatizar a CEB e acabou ampliando o IGES e vendendo a Companhia”
José Silva Jr
Desde que perdeu a eleição para Ibaneis Rocha (MDB), o ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) não concedia uma longa entrevista a um veículo de comunicação. Mas quebrou o silêncio – e abriu o verbo! – na segunda-feira (7), ao aceitar o convite do programa Brasília Capital Notícias – Eleições 2022, uma parceria do jornal Brasília Capital, com a TV Comunitária e o blog Brasília por Chico Sant’Anna.
Durante 30 minutos, Rollemberg foi bombardeado por perguntas dos jornalistas Chico Sant’Anna e Orlando Pontes. E não fugiu de nenhuma delas. Garantiu que não concorrerá ao Executivo – tentará uma das oito vagas de deputado federal – e reiterou apoio ao correligionário Rafael Parente na corrida sucessória de Ibaneis Rocha (MDB). “Rafael é a renovação”.
Já na segunda-feira, Rollemberg antecipou que dificilmente o PSB participaria da federação com PT-PV-PCdoB-PV, o que se confirmou na quarta-feira (9). “O PSB perderia sua identidade. Temos nossa história, assuntos diferentes do PT. O PSB dará uma contribuição maior ao DF e ao país se for independente”. Mas garante que isto não inviabiliza uma coligação para as eleições majoritárias, “com Rafael Parente na cabeça de chapa”.
Mesmo defendendo a candidatura de Parente, o ex-governador não descarta apoiar um postulante de outra sigla da frente que reunirá partidos de esquerda, como Rosilene Corrêa e Geraldo Magela, do PT. A exceção, neste caso, é a senadora Leila Barros. “Não vejo razão objetiva para ela ter saído do PSB. Então, se o PSB não servia para ela sair como candidata, porque vai servir agora para dar apoio?”, alfinetou.
Desvios no IGES-DF
Perguntado sobre os desvios na Secretaria de Saúde – cuja cúpula chegou a ser presa no início da pandemia da covid-19, em 2021 – e no IGES, gestado no seu governo como Instituto Hospital de Base (IHB), Rollemberg lamentou que o projeto tenha tomado rumo diferente do proposto originalmente. Ele defende o modelo e garante que não houve corrupção enquanto esteve no Buriti.
“Desafio a quem quiser se fiz alguma indicação para o IHB”. Tenho muita pena do Distrito Federal perder de usar um modelo de saúde 100% público, gratuito e moderno, com capacidade de comprar mais rápido e atender mais pacientes. Mas o IGES foi povoado de cabo eleitoral”, lamenta. E aponta: “A corrupção no governo de Ibaneis não está só no IGES. Está nas Secretarias de Governo, de Educação, de Economia…”.
“Ibaneis é mediano”
Apesar de ser adversário de Ibaneis, o socialista classificou o governo do sucessor como mediano. “Ele pegou uma situação muito melhor do que eu peguei. Encontrou recursos, pagamentos de servidores em dia. Isto o permitiu fazer investimentos”.
Para ele, porém, Ibaneis falha no campo social. A seu ver, o governador não foi capaz de desenvolver políticas públicas para combater o aumento da pobreza. “O DF é a unidade da Federação com a maior desigualdade social do País. Há regiões extremante ricas e outras extremamente pobres. Faltam programas sociais para socorrer essas famílias”, avalia.
Segundo Rollemberg, a menção “mediana” de Ibaneis só foi possível em virtude das obras em andamento, como o túnel de Taguatinga. Mas que é um exagero dizer que o GDF está fazendo 1.400 obras. “Ele reforma um banheiro e coloca como se fosse uma obra”, ironiza.
Obras inconclusas
O ex-governador enumera obras iniciadas em sua gestão e que Ibaneis batizou como sendo suas filhas. “Não inauguramos o Trevo de Triagem Norte porque faltava 10% para ficar pronto. Deixamos o túnel de Taguatinga licitado. Não iniciamos as obras em nosso governo por causa de uma briga judicial”.
Rollemberg criticou a privatização da Companhia Energética de Brasília (CEB), que chamou de má-fé, assim como a promessa do então candidato do MDB de acabar com o Instituto Hospital de Base. “Ao assumir, ele transformou o IGES num cabide de empregos. Cadê os sindicatos, que estão calados? Eu jamais privatizaria a CEB. Eu saneei a CEB, que no meu governo foi premiada pela melhoria do serviço”.
Quem mente?
Questionado quanto a quem mente, se ele ou Ibaneis, sobre a situação do caixa do GDF ao fim de sua gestão (Rollemberg diz ter deixado as contas saneadas e uma reserva de R$ 600 milhões, enquanto o sucessor afirma ter recebido o governo falido), o ex-governador responde com outras perguntas: “Quem mentiu sobre a privatização da CEB? Quem mentiu em relação ao IGES-DF? A resposta está aí? Quem mente é o governador atual”.
O socialista concluiu analisando o cenário da eleição de outubro.
“A rejeição de Ibaneis é muito grande. O eleitor tem uma percepção de que não é um governo que se interessa pelos mais pobres; que prefere privilegiar o Flamengo do que ter um tratamento equânime com os clubes do Distrito Federal; que pega milhões de reais de forma secreta e leva para o Piauí. Ibaneis não tem empatia com os mais pobres. Ele ganhou porque ninguém o conhecia. Agora vai perder porque o eleitor já o conhece”.