A tarifa de contingência, taxa que será cobrada na conta de água de todos os consumidores que gastem mais que 10 mil litros d’água, já começa a valer assim que esse percentual chegar a 25%, mas há muitos especialistas que acreditam que ela será cobrada tarde demais e não vai trazer o efeito desejado: uma redução de 15% no consumo dos brasilienses. Para Henrique Marinho Leite Chaves, professor de manejo de bacias hidrográficas da Universidade de Brasília (UnB), a possibilidade de o aumento na conta não ser suficiente pode causar, ainda, uma revolta nos consumidores. “Como ela está sendo cobrada com muito atraso, há ainda o risco do racionamento. Isso pode levar a um descrédito da população, que vai ter pagado mais caro e, mesmo assim, ficará sem água”, avalia.
Para o especialista, a cobrança pode ser considerada retardada porque os avisos vêm sendo dados desde o início de 2016. “Esse doente já chegou ao hospital muito debilitado. O governo deveria ter começado esse debate desde maio, quando ficou provado que o regime de chuvas não tinha sido satisfatório.” Porém, o professor lembra: racionar água não é sinal de calamidade. “Isso faz parte do elenco de medidas que os gestores hídricos têm para gerir o bem. Não pode ser considerada calamidade. Calamitoso é o desabastecimento completo.\”
Cássio Cossenzo, porém, admite: mesmo que na Resolução nº 14, de 27 de outubro de 2011, fique determinado que “toda unidade usuária deverá contar com reservação de volume mínimo correspondente ao consumo médio diário”, nem todas as residências contam com caixa d’água. “As pessoas mais humildes serão as mais prejudicadas. Ainda mais se elas tiverem um volume médio de consumo alto — algo que é comum no DF. Se não houver um regime maior de chuvas e mais investimentos na captação, esse problema pode se repetir. Essa realidade é nova para o brasiliense e para a Adasa, mas estamos trabalhando para minimizar os seus efeitos”, completa.
O presidente da Caesb, Maurício Luduvice, afirma que há medidas previstas, mas espera que elas não sejam necessárias. “Apresentamos um plano de racionamento, mas esperamos que não venha a ocorrer. Ele só ocorre quando o nível do reservatório chega a 20%. Nesse caso, uma das estratégias é fechar algumas das redes, e determinadas regiões ficarão 24 horas sem água”, explica.
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