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Geral

Reprodução Humana

  • Redação
  • 17/02/2022
  • 09:35

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Anna Ribeiro (*)

A gente sempre busca os produtos mais novos mais novos nas prateleiras dos supermercados, sem marcas e com boa aparência. Afinal, se consome primeiro com os olhos. Embalagens tortas, mal etiquetadas, não são atrativas. O que dizer, então, de  um produto com a data de validade expirada? Se o produto já não entrega o motivo de sua criação, descarte. 

Uma fruta podre descartada no chão. Era assim que ela se sentiu ao ser descartada de um lugar intitulado de reprodução humana. Foi tratada como um animal cujo potencial fundamental fora perdido. Um termo comum para o que não presta mais e precisa ser descartado. Numa sociedade onde se compra quase tudo, o que é que tem comprar um bebê, um óvulo ou coisa que o valha? Ela pode. Mas não foi oferecida uma possibilidade, e sim uma salvação para este destino de descarte. 

Ela não sabe nem ao certo o próprio nome. Ficou tonta com a queda. Ainda está buscando a certidão de nascimento para verificar se a validade é assim tão curta mesmo. Onde fica o Procon divino? Ela estava com a alma no varal, com muitas perguntas penduradas à espera do sol, da luz. A veterinária, quer dizer, a especialista em reprodução humana, tinha agido como um touro violento.

Alguma coisa está fora da ordem. Ela se questionava por não poder gestar. Mais que isso: se questionava por sentir tanto. Foi oferecido a ela um cardápio de óvulos. Pode-se escolher as características e, pasmem, a nacionalidade. A médica, brasileira, afirmou que as reprodutoras argentinas são bem superiores.

Assustada, pensou: Será que um pão dormido se sente assim ao ser descartado? Coitado do pão. Coitado do mundo. Só não tinha pena das Hermanas, que, pelo visto, possuem alguma superioridade, tipo gado do tipo Angus? Ela havia lido em algum lugar: “Angus destaca-se como gado fértil”.

Depois da tal avaliação para ser inoculada, foi ao mercado, ainda tonta. Pensou nos produtos da prateleira. Algumas coisas são melhores com o tempo, outras coisas deve-se consumir novas. Mas ela não é uma coisa; é uma mulher, uma pessoa, muito além de uma carne dura ou mole. Não se gesta só com a barriga, mas com a mente. Estava mais grávida que nunca.

Passado o baque inicial, decidiu seguir os conselhos de uma amiga: “depois de um tempo, isso será só uma sombra, você não vai lembrar. E mais, você comprou o óvulo! Então é seu!”.

Retomou o processo, engordou como uma vaca! Entre pílulas e injeções de hormônio para conseguir ser uma incubadora de sucesso. Meses à espera do tal óvulo doado, que de doado não tem nada. Paga-se em dólar! Conta bancária magra, ela gorda, o casamento em crise. Mas tudo certo: ela gravidinha da Silva!

Ostentava a barriga com orgulho. Nas reuniões de família, passaram a tratá-la melhor. Afinal, agora ela já era mãe! E mãe só tem uma. Não neste caso, não para ela. Sozinha, à noite pensava nas muitas mulheres que poderiam ser a doadora. 

A criança nasceu. e com ela o processo narcísico tomou força. Ela queria encontrar os seus traços na criança. Impossível. Passaram-se anos e ela resolveu tirar férias sozinha. Adivinha? Foi para a Argentina… 

Desde o aeroporto ao hotel e cafés, ficava investigando cada traço de cada uma das mulheres com as quais se encontrava. Estava obcecada pela ideia de encontrar a doadora. Busca vã. Desistiu. Poderia ser qualquer uma ou nenhuma. Não havia o que fazer. Talvez resignar-se. Será? 

Voltou ao Brasil. A filha estava doente. Tinha um amigo médico geneticista. Início do pesadelo. Teria que confessar a verdade. Não era filha dela. Era do marido com outra. Entre lágrimas e constrangimento, confessou o crime ao amigo. 

Ele tinha uma notícia para a qual ela não estava preparada. Surpreso, aflito, desconcertado, o médico disparou: “A filha é sua! É o seu material genético, seu e do seu marido”. 

Outra vez ela se sentiu como no supermercado. Tonta, jogada no chão. Enganada. O que fazer com tanto sentimento? Como explicar a si mesma por que não se via na própria filha até o momento em que a verdade foi descoberta? Agora estava novamente no chão, sem chão. 

E balbuciou com voz trêmula à filha: Me perdoe!

(*) Escritora

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