Eleito presidente do PT-DF para o período 2020-2023, o sindicalista Jacy Afonso tem o compromisso de “reorganizar o partido para reconquistar a sociedade”, como ele mesmo define nesta entrevista ao Brasília Capital. Apoiado pelos principais líderes petistas locais, ele quer unir a esquerda para 2022.
Como foi o processo de eleições internas do PT? Houve muitos desgastes entre os filiados? – O PT é um partido histórico. O PT já governou o DF duas vezes. Somos um partido extremamente democrático, com participação dos filiados. Essa construção interna é sempre difícil.
Mas o processo, em alguns momentos, foi traumático. Deixou sequelas? – Não chamaria de traumático. Aquilo foi cabeça quente das pessoas. O congresso transcorreu na maior tranquilidade. Concluímos toda pauta e já temos as resoluções aprovadas. Todos os companheiros que disputaram proposições, apresentaram chapas (foram 6) terão representação no partido. Superamos todas as divergências. O PT está unido na busca de recuperar o espaço que perdemos.
O apoio da deputada Erika Kokay foi fundamental para a sua vitória? – Eu sou da Articulação, uma corrente interna histórica do PT, e tive o apoio da companheira Erika, que me convenceu para que eu fosse o sucessor dela. Tive o apoio, também, do Chico Vigilante, da Arlete Sampaio e do movimento social. Nós temos um campo de unidade importante para ter uma representação dos movimentos sociais. O PT junto, com os demais partidos de esquerda, ganhou o DCE da UnB na semana que antecedeu nossas eleições internas. Lá, tivemos a unidade da esquerda. E queremos que isso se repita na disputa política em Brasília.
Como pretende organizar o PT-DF para as eleições de 2022? – Com muita humildade, com sensibilidade para procurar conhecer os problemas da cidade, dialogar com os partidos políticos. Estou querendo dizer o seguinte: nós precisamos reorganizar o PT para reconquistar a sociedade. Temos que ter muito diálogo com todos os partidos do DF. Precisamos recuperar essa relação.
Esse diálogo não vai desaguar naquilo de sempre: o PT lança seu candidato e espera que os outros o apoiem? – Não. Nós não fizemos isso em 2018. O problema que nós temos aqui no DF é que sofremos o efeito retardado do que acontece no restante do País nas eleições municipais. O efeito das eleições de 2016 nós só fomos perceber em 2018, que era uma dificuldade que se tinha em toda a lógica que foi imputada ao PT pelas fake news. Não há nenhuma hegemonia ou pré-condição de que só o candidato do PT receba o apoio dos demais partidos. Estou dizendo o seguinte: Se nós queremos ter a unidade desses partidos em 2022, vamos fazer um exercício em 2020, no Entorno. Nós não podemos ter uma política de alianças no DF e outra nas cidades do Entorno. 2022 passa por 2020. Agora, tanto a eleição de 2020 quanto a de 2022, vai depender da nossa atuação como PT na defesa dos interesses dos trabalhadores que estão sendo ameaçados. O resultado eleitoral vai depender dessa capacidade de resistência, de dialogar com os sindicatos, de dialogar com o movimento popular.
Se o PT foi vítima das fake News em 2018, como lidar com as redes sociais daqui em diante? – O PT está muito atento a isso. Não vamos usar da mesma arma. Queremos falar a verdade e pontuar os problemas, porque hoje as pessoas vulgarizaram. Acho importante que a gente tenha uma política em relação a isso que envolva uma comunicação democrática.
O PT está convencido de que precisa levar sua mensagem para toda a sociedade e não apenas para a militância e simpatizantes? – O PT tem 60 mil filiados no DF…
… Este número não é confirmado pelo TRE… – Aqui, diferentemente das outras cidades, ninguém se preocupa com a filiação oficial no TRE. A gente se preocupa se os principais líderes estão registrados lá. As fichas que temos estão no cadastro do PT, e esse cadastro está desatualizado. O PT vai fazer recenseamento e esses filiados serão capacitados para denunciar e agir quando ocorrer fake news e para propagar as boas notícias.
E a estratégia de levar a mensagem do PT à sociedade – Como eu dizia, nós queremos participar do dia-a-dia do trabalhador. Já estou conversando com a direção da CUT e da Central de Movimentos Populares para discutir como será nossa atuação no movimento sindical e no movimento popular nas cidades.
Como pretende contornar aquela briga em Planaltina que foi parar na polícia? – Eu tenho a missão de, nos próximos dias, solucionar aquele conflito. É a única pendência que temos. Vamos encontrar, nas formas do PT, uma solução para o assunto.
O PT ainda lidera a esquerda? – A gente quer estreitar essa relação. Queremos dialogar com os diretórios do PT, do PCdoB, do PSB, do PDT, do Psol. Queremos conversar com pessoas fora de partidos. O PT tem a sua base social nos sindicatos, mas não vai dialogar exclusivamente com sindicatos. Espero, com a ajuda de todos, que a gente possa fazer um bom mandato a partir de 1º de janeiro de 2020 e que a partir de 2023 a gente possa ter de novo companheiros ou companheiras de esquerda ocupando os palácios do Planalto e do Buriti.