A terceira fase de testes com um medicamento revolucionário para prevenir a doença de Alzheimer começará em outubro em 19 países de três continentes, incluindo o Brasil. Durante os próximos dois anos, 210 brasileiros, num universo de mais ou menos três mil pessoas, receberão doses do remédio injetável junto com placebo (substância sem nenhum efeito), que faz parte dos testes. “É revolucionário”, afirma o médico brasiliense Eduardo Freire Vasconcelos, do CCBR Centro de Pesquisas. O que ele denomina de “revolucionário” é a forma de atuação do medicamento.
Vasconcelos explica que a nova droga funciona como prevenção da enfermidade, ao barrar o avanço do mal no organismo do paciente. Sua animação é porque nas fases 1 e 2 de testes “a resposta foi extremamente animadora” para uma enfermidade que não tem cura. Portanto, o que poderá acontecer é o desenvolvimento de uma espécie de vacina para Alzheimer, permitindo deixar a “pessoa no mesmo padrão de vida”, esclarece. Por isso, é grande a expectativa diante dos resultados positivos até agora. “O ideal é etabilizar antes” ― impedindo que a chamada demência senil tome conta do cérebro.
As pessoas que participarão dos testes serão monitoradas mensalmente. A coordenação dos trabalhos fica na Alemanha, sede do laboratório que está desenvolvendo a substância. Eduardo Freire Vasconcelos afirma que, por questões éticas, não pode adiantar o nome do medicamento e que todo esse processo faz parte de exigências mundiais para que uma determinada droga tenha autorização para ser vendida comercialmente. Agora em outubro, começará o que se chama “de duplo cego” ou “cegamento”, quando tanto quem recebe quanto quem aplica o remédio não sabe se a injeção contém a substância ou se é apenas placebo, quando não há nenhuma substância medicamentosa.
Motivo
“Eticamente, não passo informações sobre o fármaco”, acentua o médico. Além dele, em Brasília, há dois profissionais de São Paulo, um do Rio de Janeiro, um de Belo Horizonte e outro de Porto Alegre. Ele conta que o Brasil foi escolhido porque há um grande contingente de pessoas envelhecendo-se, existem médicos qualificados, e o país alinha-se com Índia e China nestes aspectos. Existe ainda um fator determinante para a escolha de brasileiros para testar o novo medicamento: o de que em 2025 o número de enfermos chegue próximo ao percentual de casos registrados nos Estados Unidos atualmente (20% da população acima dos 70 anos), contabiliza. Atualmente o Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes.
Os estudos com a nova droga começaram há cinco anos. Espera-se que esteja de acordo com as exigências sanitárias logo depois dos próximos dois anos. Eduardo Freire Vasconcelos só pôde adiantar que se trata “um derivado de células humanas” e que até o momento tem sido um sucesso, impedindo a continuidade do mal de Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que provoca o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social e interferindo no comportamento e na personalidade.
De acordo com o CCBR, o mais frequente é o diagnóstico em pessoas acima de 65 anos de idade, embora a doença possa ocorrer muito antes. Em 2006, havia 26,6 milhões de pessoas afetadas no mundo todo. A estimativa é que, até 2050, o Alzheimer ataque 1 em cada 85 pessoas. Embora o mal de Alzheimer se desenvolva de forma diferente para cada indivíduo, há muitos sintomas em comum.
Nos estágios iniciais, o sintoma mais comum é a dificuldade de lembrar os eventos recentes. Quando há a suspeita da doença, o diagnóstico é normalmente confirmado com testes que avaliam o comportamento e as habilidades cognitivas, em geral seguidos de uma tomografia cerebral. Os sintomas frequentemente incluem a confusão, irritabilidade e agressividade, mudanças de humor, problemas com a linguagem e perda de memória de longo prazo. Com o passar do tempo, as funções biológicas são perdidas gradualmente, finalmente levando à morte.
Como a doença é diferente para cada indivíduo, é muito difícil prever como ela afetará a pessoa. O mal de Alzheimer ― de causa ainda desconhecida ― desenvolve-se por um período de tempo desconhecido e variável, antes de se tornar totalmente aparente. Ele pode progredir sem diagnóstico por anos. A expectativa de vida depois do diagnóstico é de aproximadamente sete anos. Os tratamentos atuais ajudam apenas com os sintomas da doença. Não há tratamentos disponíveis que possam interromper ou reverter a progressão da doença.