No domingo (15), o Brasil assistiu uma cena, no mínimo, hilária. Não diria surpreendente, porque, por mais inusitada que pareça, Pablo Marçal desafiou diversas vezes seus adversários a fazerem o que Luiz Datena acabou fazendo. Era apenas uma questão de tempo. E, como diz o ditado, remédio para doido é outro doido.
Marçal, numa estratégia arriscada, tentou se vitimizar. Em suas redes, comparou o ocorrido com a facada em Jair Bolsonaro, em 2018, e o tiro em Donald Trump, em julho deste ano.
Parece que não colou. Minutos depois da cadeirada, o candidato do PRTB voltou ao púlpito, e antes do reinício do debate, alegou, sem qualquer base em parecer médico ou exame de imagem, que estava com uma costela quebrada.
E seguiu para o Hospital Sírio Libanês numa ambulância, com máscaras de oxigênio. Uma encenação, no mínimo, curiosa.
Tragédias – Relembremos alguns cenários em que tragédias interferiram no resultado de eleições, além da facada em Bolsonaro, em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), que o levou à vitória no mês seguinte.
A atual governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), teve de lidar com a morte de seu marido, Fernando Lucena, dias antes da votação em primeiro turno, nas eleições de 2022. Cogitou não disputar o pleito. Mas não desistiu e, ao final, desbancou Marília Arraes.
Em 2014, Marina Silva (Rede Sustentabilidade) chegou a ultrapassar Aécio Neves (PSDB) nas pesquisas, após assumir a cabeça de chapa depois da tragédia aérea que tirou a vida do então presidenciável Eduardo Campos (PSB). Mas, com o desenrolar da campanha, ela perdeu fôlego e não chegou ao segundo turno.
Seria muita pretensão de Marçal comparar tentativas de homicídio, acidente aéreo ou a morte do cônjuge a uma cadeirada que ele quase implorava para levar, provavelmente para usar a imagem nas redes sociais se vitimizando.
(Na minha humilde opinião, ele provocou a reação de Datena, por saber que o adversário tucano era o mais vulnerável, do ponto de vista emocional, por seu temperamento “estourado”, para gerar a imagem que Marçal tanto almejava).
Não nos esqueçamos de que, em agosto deste ano, durante um debate na Band, o prefeito de Teresina (PI), Dr. Pessoa (PRD), agrediu o candidato Francinaldo Leão (PSol) com uma cabeçada.
Mudanças – Portanto, o que Datena, Marçal e Pessoa podem provocar são mudanças nas regras dos próximos debates televisivos, tal qual o histórico debate de 1989 (vale a pena conhecer esta parte da história política recente do Brasil no livro Debate na Veia – Nos Bastidores da Tevê, A Democracia no Centro do Jogo, do editor da Band, Fernando Mitre).
Até aquele momento, após quase 20 anos de ditadura militar, os programas eram gravados e editados. E o primeiro debate ao vivo, promovido pela Band, quebrou este paradigma.
(Quase 20 anos, a Rede Globo fez mea culpa e assumiu que influenciou para a vitória de Fernando Collor contra Lula).
Desde então, os debates passaram a ser transmitidos ao vivo e na íntegra, com regras discutidas e aprovadas pelas coordenações de campanha de todos os candidatos participantes.
O comportamento de Marçal e a reação destemperada de Datena pode ser um marco na reavaliação das regras dos debates doravante.