Alexandre Chaves (*)
O setor de segurança no Brasil vive um momento de inflexão histórica. A combinação entre a nova reforma tributária e o amadurecimento regulatório, simbolizado pelo novo Estatuto da Segurança Privada, cria um ambiente de mudanças estruturais que atingem toda a cadeia: fabricantes, distribuidores, integradores, instaladores e consultores.
Historicamente, a indústria da segurança, fortemente baseada em equipamentos físicos, vigilância patrimonial e serviços presenciais, operou de forma segmentada. Hoje, a fronteira entre o físico e o digital praticamente desapareceu. Câmeras inteligentes, sensores conectados, plataformas em nuvem e softwares de monitoramento redefinem o conceito de proteção.
A Lei 14.967/2024, que substitui a antiga Lei 7.102/1983, é um marco dessa modernização. Ela estabelece novas exigências de autorização, fiscalização e qualificação técnica, reforçando a responsabilidade das empresas e a necessidade de inovação tecnológica. Trata-se de um passo importante rumo à profissionalização e à credibilidade institucional do setor.
A reforma tributária, que entrará em vigor gradualmente a partir de 2026, simplifica e unifica o sistema brasileiro por meio da criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços). Essa transição promete reduzir distorções, mas também exigirá uma reorganização profunda nos modelos operacionais e contratuais.
Para o setor de segurança, isso significa revisar os modelos de precificação: novos critérios de crédito e débito tributário afetarão margens e repasses, os contratos de longo prazo: produtos e serviços integrados (como locação de equipamentos com monitoramento) precisarão ser reavaliados e a Gestão de cadeia: fornecedores interestaduais e importadores terão de adequar suas estratégias logísticas.
Um estudo recente da Serasa Experian mostra que 9 em cada 10 empresas Brasileiras planejam aumentar investimentos em tecnologia para se adaptar à nova realidade tributária e o setor de segurança não será exceção. Nesse contexto, a ABESE (Associação Brasileira das Empresas de Segurança Eletrônica) consolida-se como protagonista, articulando o diálogo entre governo e mercado.
Iniciativas como o SegSummit demonstram a maturidade de um setor que passou a discutirminovação, regulação, compliance e tecnologia com seriedade e visão de futuro. Esses movimentos sinalizam que a segurança deixou de ser apenas uma questão operacional tornou-se estratégica, transversal e tecnológica.
A digitalização de equipamentos e processos trouxe consigo uma nova camada de risco: o cibernético. Não há mais segurança patrimonial sem cibersegurança.
Câmeras, sensores, controles de acesso e centrais de monitoramento estão todos conectados e, portanto, vulneráveis. Empresas que ainda tratam o tema como um “problema de TI” correm o risco de transformar sua operação de proteção em um vetor de exposição. A segurança do futuro será híbrida: física, lógica, integrada e inteligente. Essa é a fronteira que separa as empresas preparadas das que serão deixadas para trás.
O Brasil tem diante de si a chance de transformar o setor de segurança em uma indústria estratégica de tecnologia e dados. O que está em jogo não é apenas adaptação regulatória ou tributária, é relevância econômica e institucional. Empresas que compreenderem isso primeiro poderão liderar a nova fase do setor, fornecendo soluções completas e inteligentes, conectadas à agenda de inovação e transformação digital do país.
A segurança é, acima de tudo, um reflexo do nosso tempo: quanto mais complexas as ameaças, mais sofisticadas precisam ser as respostas. E talvez o maior risco, hoje, seja acreditar que o futuro ainda está distante.
(*) Sócio da Auddas que atua há mais de 25 anos nos setores de segurança e tecnologia