Secretário nacional-adjunto de Relações de Trabalho da CUT, Pedro Armengol, critica a retirada de assuntos previdenciários da Constituição, prevista na reforma enviada pelo governo. Foto: Geraldo Magela/Agência SenadoA proposta de reforma da Previdência enviada pelo presidente
Jair Bolsonaro ao Congresso (PEC 6/2019) não se justifica e é altamente
prejudicial à classe trabalhadora, impedindo as pessoas de se aposentarem,
especialmente quando falta uma ação mais incisiva do governo para cobrar as
dívidas de grandes empresas com o sistema.
Esta foi a conclusão a que chegaram 17 representantes de
organizações sindicais e de estudos da seguridade social reunidos em audiência
pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
Para eles, o chamado “rombo” na Previdência Social é fruto de uma manobra
contábil de técnicos do governo e não leva em conta nem a legislação nem
problemas de gestão do sistema de seguridade.
Os especialistas enfatizaram que, somada à reforma
trabalhista encaminhada pelo ex-presidente Michel Temer e pela atual gestão, a
reforma da Previdência empurrará a sociedade para um regime de capitalização
previdenciária – modelo que acaba com ideia de uma geração garantir a
aposentadoria da outra e aposta na lógica de que o cidadão precisa garantir o próprio
futuro.
De acordo com o representante do Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Alexandre Ferraz, os
parlamentares e a sociedade devem estar atentos ao impacto que a reforma terá
sobre um mercado de trabalho marcado por altos índices de desemprego,
informalidade, precarização e baixos salários. Para ele, a chamada nova
Previdência, caso passe nos moldes planejados pelo governo, será desastrosa
para os pobres e para a classe média.
“Pouquíssimos trabalhadores conseguirão somar os 40 anos de
contribuição para acessar o benefício pleno. Hoje já são raríssimos os casos de
contribuição ininterrupta no Brasil. A reforma empurra os mais pobres para a
capitalização, reduz os valores dos benefícios para quem fica, aumenta as
alíquotas da classe média de famílias pobres, além de acabar com a contribuição
patronal”, disse Ferraz.
Com o mesmo raciocínio, a advogada Carolina Grassi, do
Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), alerta que a aprovação
da PEC 6/2019 levará a um achatamento ainda maior dos benefícios. Para ela, os
valores dos benefícios são fortemente afetados.
“O trabalhador terá direito a apenas 60% do benefício se
conseguir comprovar 20 anos de contribuição, aumentando 2% a cada ano a mais
que comprovar. Lembrando ainda que hoje o cálculo dos benefícios exclui 20% das
contribuições menores, e a PEC passa a incluir a média de todas as
contribuições. Esta medida vai diminuir muito os vencimentos dos benefícios,
forçando as pessoas a manterem-se indefinidamente no mercado de trabalho”.
Isenções em fim – O representante da Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Paulo Penteado, enfatizou
que, de 2007 a 2016, o Brasil abriu mão de R$ 2,265 trilhões através de
isenções previdenciárias, segundo cálculos atualizados. O procurador ressaltou
que as isenções fiscais já chegam a 4% do PIB, um recorde mundial. Segundo ele,
somente em 2017 o governo federal abriu mão de R$ 354 bilhões com isenções.
“O governo diz que quer economizar R$ 1 trilhão em dez anos com a reforma da Previdência, na prática suprimindo direitos. Economiza mais
do que isso em três anos se acabar com estas isenções”.
A reunião
foi conduzida pelo presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS). Ele também
avalia que o objetivo real da reforma da Previdência é levar toda a classe
trabalhadora a gradualmente aderir ao sistema de capitalização. Segundo Paim, este
novo modelo beneficiará apenas os grandes bancos e o mercado financeiro,
significando, na prática, a privatização do sistema.