Celina Leão (*)
A arte é o mais poderoso reflexo da alma de uma cidade. Ela guarda memórias, cria pontes entre o passado e o futuro e, sobretudo, enche de vida os lugares que habitamos. Após dez anos de silêncio, a reabertura da Sala Martins Pena do Teatro Nacional Claudio Santoro devolve a Brasília mais do que um espaço físico: devolve-lhe um símbolo, uma identidade cultural há muito aguardada e ansiosamente desejada.
O Teatro Nacional não é apenas um edifício. Ele é parte do imaginário coletivo do DF, uma obra-prima arquitetônica de Oscar Niemeyer que abriga a história de nossa cultura. É lá que a Orquestra Sinfônica (OSTNCS) por quatro décadas ressoou com maestria as notas de compositores nacionais e internacionais. É ali que os sonhos dos artistas locais e as emoções do público se encontram e se completam.
Quando as portas se fecharam, em 2014, a sensação foi de vazio, como se parte da alma artística de Brasília tivesse sido silenciada. Esse silêncio, porém, nunca significou esquecimento. Pelo contrário, ele fortaleceu a necessidade de reaver aquilo que é essencial: o pertencimento, o respeito ao talento dos nossos artistas e a cultura como um direito inegociável.
Agora, o som das orquestras, o brilho das luzes no palco e os aplausos renovam esse espaço que, além de beleza, carrega em si a esperança de um novo tempo. A reabertura da Sala Martins Pena é um marco. Não apenas pela sua imponência restaurada, mas pelo significado profundo que carrega: a cultura voltou a pulsar no coração de Brasília.
Uma década de espera trouxe consigo desafios e resiliência – o restauro não se limitou a tijolos e poltronas. Ele se estendeu ao resgate do orgulho que sentimos, como brasilienses, ao devolver à população um espaço digno de sua grandeza cultural.
A celebração de cinco dias programada para marcar este retorno não poderia ser mais simbólica. Ela mistura os talentos locais, que são o alicerce da nossa arte, e a presença de grandes nomes nacionais, como Chitãozinho e Xororó, Almir Sater e a Plebe Rude. São sons que conversam entre si e que ecoam a diversidade de um Brasil múltiplo, bem representado na capital. É a prova de que a cultura não tem fronteiras e que, quando bem cuidada, é capaz de unir públicos distintos, tradições e modernidades em um mesmo espetáculo.
Entre os muitos simbolismos deste momento, há um especialmente comovente: o retorno da OSTNCS à sua casa. É como se, durante todos esses anos, as notas musicais tivessem viajado pela cidade em busca de abrigo, passando por diferentes palcos e ambientes e agora retornam ao local a que pertencem, ao espaço preparado para que ressoem em sua plenitude, com acústica adequada e estrutura pensada para a excelência.
Mais do que um gesto simbólico, essa volta tem o peso de um reconhecimento. A Orquestra Sinfônica é patrimônio imaterial da nossa cidade. Ela carrega o nome de Claudio Santoro, um dos maiores compositores brasileiros. E existência da Orquestra é uma homenagem viva à música erudita nacional. O retorno ao Teatro Nacional é o reencontro com a história, com a identidade, com o orgulho de ser brasiliense.
Os trabalhadores que participaram do restauro da Sala Martins Pena, homenageados com o concerto “Sinfonia do Concreto”, representam o esforço e a dedicação de centenas de mãos que tornaram esse momento possível. A eles, também, devemos o retorno da música, do espetáculo e da emoção que farão vibrar as paredes do teatro.
O investimento na cultura é o investimento em um futuro mais humano, mais sensível, mais conectado com a alma das pessoas. A reabertura da Sala Martins Pena é apenas o início. O Teatro Nacional renasce com a promessa de um amanhã em que cada uma de suas salas, incluindo a Villa-Lobos e a Dercy Gonçalves, estará pronta para acolher mais sonhos, mais aplausos e mais histórias.
Brasília nasceu para ser única. Seu céu inigualável, sua arquitetura monumental e seus artistas vibrantes são a prova de que a cidade é, desde sua origem, uma capital feita de arte. Ao devolver o Teatro Nacional ao seu povo, o GDF reafirma a importância de se preservar o que é nosso, resgatando não só um espaço, mas um compromisso: o de cuidar da cultura como parte inseparável da vida da cidade.
A Sala Martins Pena reabre com sua capacidade ampliada, moderna e acessível. São 480 lugares pensados para acolher todos os públicos, respeitando a diversidade e a inclusão. Novos sistemas de ventilação, iluminação e segurança garantem não apenas o conforto, mas a dignidade que o teatro merece. Cada detalhe foi cuidado com o respeito que o patrimônio exige e a grandeza do legado cultural que Brasília demanda.
Que as luzes nunca mais se apaguem. Que os aplausos nunca mais cessem. Que o palco da Martins Pena seja, a partir de agora, um convite permanente para que Brasília sonhe, celebre e vibre ao som das suas histórias. Porque, afinal, a arte é isso: um permante recomeço que nos conecta ao melhor que podemos ser.
Que o novo ato do Teatro Nacional Claudio Santoro seja eterno!
(*) Vice-governadora do Distrito Federal