O Brasil precisa de paz para iniciar a reconstrução dos desastres que estamos atravessando, não só por aqueles provocados pela crise sanitária devastadora, mas, principalmente, pela destruição promovida pelo atual desgoverno despótico e odioso. Nessa retomada da caminhada rumo à democracia, à paz e à harmonia social devemos adotar duas ações principais:
1 – É preciso priorizar o investimento no povo, promovendo uma ampla mobilização da sociedade, com o objetivo de realizar o que nunca foi feito antes – a inclusão social, econômica e política do povo, por meio de uma revolução educacional e cultural, visando mitigar a desigualdade social que nos caracteriza e dificulta a formação de uma identidade nacional. Mais do que nunca, ficou evidente que, se quisermos avançar para nos tornarmos uma nação democrática, é fundamental fortalecer na consciência social os valores democráticos e humanitários.
Até o presente, todos os grandes movimentos sociais e políticos na nossa sociedade, desde o golpe militar que proclamou a República, têm sido feitos de “cima para baixo”, com absoluta exclusão do povo. Por isso, a maioria da nossa sociedade permanece sem condições de participar da vida política e social, pelo que a nossa democracia é frágil e sempre sujeita a ataques e periódicas rupturas.
Neste momento tenebroso que vivemos, a democracia ficou inteiramente órfã, sem ninguém que a defenda. O povo, por falta de consciência da importância dos valores democráticos, permanece apático. Por esse mesmo motivo e pela falta de conhecimento de sua realidade ou de vontade para mudá-la, o povo continua constituindo um Poder Legislativo descompromissado com seus interesses e com os do País. Todos os eleitos só pensam em ampliar os seus patrimônios individuais e/ou de grupos. E as demais instituições que deveriam defender, a Constituição e a democracia estão “aparelhadas”.
2 – Precisamos repensar, redimensionar e reestruturar as Forças Armadas, para que elas deixem de ser elemento de atraso e passem, de fato, a servir à Nação e não a projetos políticos e a defesa de seus próprios interesses. Para os seus atuais integrantes, as Forças, e não a Nação, estão em primeiro lugar, pelo que elas constituem o maior reduto de corporativismo do País.
Na verdade, todos sabemos que, historicamente, as Forças Armadas têm sido fator de ameaça permanente e de rupturas da marcha pela democracia, com a sua índole golpista e com a arrogância, sem legitimidade, de quererem ser tutoras da sociedade
civil. Precisamos ter militares autênticos – aí incluídos as polícias -, apartidários em ideologia e em política, armados pela sociedade para servir ao Estado e à Nação e não para amedrontar e agir com violência contra o povo. Para isso, é fundamental eliminar a aceitação do militarismo pela sociedade, mediante o aprofundamento da consciência sobre a importância da democracia.
Democracia sem povo consciente da sua importância não sobrevive. E uma nação dividida entre poucos ricos e privilegiados e muitos pobres não subsiste.
(*) Geólogo e Advogado