A Justiça começa a definir hoje, em Ceilândia, o tempo de permanência do artesão Rômulo Sebastião Nascimento de Sousa, 21 anos, na prisão. Ele está detido desde maio deste ano, quando confessou ter incendiado a casa onde estavam uma criança de nove anos e uma adolescente de 13. O crime ocorreu após o suspeito invadir o imóvel para cobrar uma dívida do irmão mais velho das vítimas.
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Quase quatro meses depois do episódio, o sofrimento da perda faz parte da rotina dos familiares. Em um apartamento pequeno na QNM 7 de Ceilândia Sul, os pais Valdir Luiz dos Santos, 44, e Márcia Machado da Silva, 43, tentam reconstruir a vida depois da tragédia. Mas tarefa não é fácil. “A gente não consegue viver direito. Continuamos a vida, mas o colorido acabou”, diz.
Tratamento
Para seguir a vida, Márcia conta com a ajuda de uma psicóloga oferecida pelo governo. O tratamento a preparou, segundo ela, justamente para hoje: quando deve ficar de frente com o algoz dos filhos Driele da Silva Santos e João Guilherme da Silva Santos, mortos no incêndio. “Minha psicóloga me orientou como agir no dia”, garante Márcia.
Os pais esperam a punição do réu. “Queremos que a justiça seja feita. Não quero que ele saia impune”, cobra Valdir. O julgamento está marcado para as 10h na Segunda Vara Criminal de Ceilândia. O acusado pode responder por latrocínio.
Ao ser perguntada sobre como reagiria se pudesse conversar com Rômulo, a mãe disse que perguntaria qual foi a razão que o fez cometer um crime tão bárbaro.
Vivos na memória
O incêndio consumiu tudo que estava na casa. A única lembrança que os pais guardam de Driele e João são as fotografias que restaram no e-mail e nas redes sociais do casal e dos irmãos das vítimas. As imagens serviram para ilustrar um filme que Valdir fez em homenagem aos dois na internet. Com a ajuda dos vizinhos, a família conseguiu mobiliar a residência novamente.
Crueldade sem justificativa
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Na ocasião em que foi preso, Rômulo confessou à polícia que cometeu o crime porque as vítimas, que morreram carbonizadas, gritaram quando ele invadiu a residência para levar um notebook, um tablet e uma máquina fotográfica como forma de pagamento por uma dívida de R$ 500, feita pelo irmão mais velho delas.
O suspeito afirmou que teria vendido, alguns dias antes, peças de artesanato ao irmão mais velho das vítimas. No fim de semana, ele afirmou que havia cobrado do cliente o valor dos produtos e teria sido orientado a ir à casa da família na segunda-feira, para receber parte do valor.
Segundo Rômulo, assim que os menores começaram a gritar, ele resolveu trancar a menina em um quarto e amarrou as mãos dela com um fio de telefone. Depois, conduziu o garoto a outro quarto e também o amarrou com um pedaço de lençol rasgado.
Ele decidiu, então, escorar cadeiras e um sofá nas portas dos dormitórios para impedir que os irmãos saíssem, e colocou fogo na residência. Saindo de lá, o acusado encontrou a mãe das vítimas na rua e chegou a cumprimentar. “Eu quero esquecer que ele existe”, repete a mãe.
Devido ao incêndio, que consumiu tudo o que havia na casa, a lembrança de João e Driele, estão na memória dos pais e dos três irmãos. “Ela era muito apegada a mim. Quando vou dormir, sinto muita sua falta. Nunca Driele ia deitar sozinha. João gostava de desenho. Ela gostava de séries”, descreve.