Tersandro Vilela (*)
O 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra, é uma data para refletir sobre a contribuição da população negra e a luta contra o racismo em todas as suas formas. Em tempos de crescente dependência da tecnologia, é essencial incluir no debate o racismo algorítmico, uma nova faceta da discriminação que surge no universo digital.
O racismo algorítmico refere-se à reprodução de discriminação por sistemas de Inteligência Artificial (IA), treinados com dados históricos que, muitas vezes, carregam os mesmos vieses da sociedade. Como consequência, esses sistemas podem perpetuar exclusões e ampliar desigualdades, sobretudo com relação as mulheres negras.
Um exemplo evidente ocorre com algoritmos de reconhecimento facial, que apresentam maior taxa de erro ao identificar pessoas negras, resultando em situações como prisões injustas e barreiras no acesso a serviços.
Além disso, ferramentas de seleção de candidatos em processos de recrutamento frequentemente favorecem perfis que refletem os padrões do mercado, predominantemente brancos, excluindo talentos negros e perpetuando a desigualdade.
Isso decorre da origem dos dados utilizados no treinamento dos algoritmos, que refletem uma sociedade marcada por desigualdades estruturais. A falta de diversidade nas equipes que desenvolvem essas tecnologias também agrava o cenário, já que perspectivas e desafios enfrentados por populações negras muitas vezes não são considerados no design dos sistemas.
A implementação de políticas públicas que exijam maior transparência e regulamentação na aplicação de IA são ações essenciais para mitigar os impactos negativos desses sistemas, além de ações para aumentar a representatividade de pessoas negras no setor de tecnologia, por meio de treinamentos, mentoria e redes de apoio, por exemplo.
Para além do Dia da Consciência Negra, é crucial conectar o debate sobre desigualdade racial com os desafios da era digital. A luta pela equidade no uso de tecnologias é uma extensão da luta por direitos humanos, exigindo atenção redobrada ao impacto social das ferramentas tecnológicas.
Combater o racismo algorítmico não é apenas um desafio técnico, mas também um compromisso ético com a construção de um futuro mais justo e inclusivo para todos.
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia e especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento