Brasília foi palco do Fórum Mundial das Águas e, paralelamente, do Fórum Alternativo Mundial das Águas – Fama. Tema principal dos dois importantes eventos: garantir água para a humanidade como um todo. Água que já falta a muita gente, dentro e fora do Brasil. Um em cada três habitantes do Planeta não conta com água potável.
No Brasil, país que detém 12% de toda a água doce da Terra,de 34 milhões a 40 milhões de pessoas não têm acesso uma rede de abastecimento de água potável.Sem considerar as regiões, como o Distrito Federal, onde o abastecimento é intermitente, já que vivem período de racionamento, medida que prejudica mais os carentes, que não possuem caixa d’água em suas casas ou nos locais de trabalho. Para os mais ricos, detentores de grandes reservatórios, o corte de um dia por semana não faz diferença.
Pequenas empresas, comércios e serviços que dependem d’água todos os dias também sofrem prejuízos com os cortes, que não atingem o centro do Poder. Mandatários instalados na Praça dos Três Poderes, que deveriam dar o exemplo à Nação, não são atingidos. Talvez se tivessem sido incluídos no racionamento, medidas mais eficazes teriam surgido mais rapidamente.
Vale lembrar, que em 2015, as principais obras de abastecimento e saneamento financiadas pelo PAC e tocadas pela Caesb estavam paralisadas. A esta coluna, à época, a direção da empresa garantia que o DF não vivenciaria a falta d’água por que passava São Paulo.
O mesmo acontece com os mais de 10 mil participantes que vieram a Brasília. Representando 175 nações, especialistas, políticos, técnicos, cientistas, representantes de organismos internacionais, diplomatas que vieram debater o tema “Compartilhando Água” não sentiram o racionamento.
Foram beneficiados por um jeito diferente de compartilhamento. O racionamento previsto para acontecer na quinta-feira (22) na área central de Brasília foi suspenso. Assim, os locais que abrigaram os eventos e os hotéis que hospedam essa multidão não foram atingidos.
Na prática, o GDF vislumbra o lema “Compartilhando Água” de uma forma criativa. Uns têm assegurado integralmente o abastecimento, enquanto outros padecem com os cortes e a péssima qualidade da água que é fornecida posteriormente às interrupções. É como debater o aquecimento global inserido numa confortável sala climatizada.
Vivenciar na pele o problema de multidões poderia ser uma forma pedagógica de sensibilizar autoridades do mundo inteiro quanto à necessidade de se assegurar água e saneamento à humanidade.
Ibram não lê relatórios da Unesco
Há poucos dias, a Secretaria do Meio-Ambiente rejeitou pleito formulado pela AMAC – Park Way que reivindica a transformação em Parque da área de nascentes do Córrego do Mato Seco, localizada próximo ao Catetinho. As nascentes do Mato Seco afloram de forma irregular numa área que o solo lembra uma turfa. Não há um ponto central específico, mas um solo que se umedece e alimenta o Mato Seco.
É exatamente este tipo de solo que a Unesco propõe preservar em seu relatório de boas práticas, lançado no 8º Fórum Mundial da Água. A preservação desses solos, com a recuperação da cobertura vegetal, faz aflorar águas subterrâneas aumentando o volume nas nascentes. Mas o Ibram parece não estar preocupado com isso, desconsidera o relatório da Unesco e rejeita liminarmente a proposta.