Tempo quente no Cidadania – ex-Partido Popular Socialista (PPS), derivado de um revisionismo, em 1992, do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). O partido busca agora sobreviver e uma ala entende que o Cidadania deve apoiar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva(PT), mas enfrenta a resistência ideológica de Roberto Freire e seus discípulos. No DF, a atual presidente, Paula Belmonte não quer saber de adesão ao governo Lula e, por isso, pode perder a direção partidária.
Nessa trajetória PCB-PPS-Cidadania, a legenda deixou de ser de esquerda e basculou à direita. Desde então, perde espaço, principalmente no Congresso Nacional. Não possui assento no Senado e, em 2022, elegeu apenas cinco deputados. Sobreviveu à cláusula de barreira, graças à formação de uma federação com o PSDB. Assim, conseguiu manter tempo de TV e o fundo partidário. Nesses 31 anos, esteve sob o comando de uma mesma pessoa: Roberto Freire.
Em janeiro, o diretório nacional já havia aprovado o apoio ao governo federal, mas os cinco deputados federais se recusaram a se alinhar. Preferiram ir à direita, ao Centrão, e apoiar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). O PSDB, a quem o Cidadania está federado até 2026, já declarou oposição ao governo, mas os tucanos também definham desde a era FHC.
Às vésperas das eleições municipais, importantes lideranças internas voltam a defender o efetivo apoio ao governo Lula, No último dia 19, a direção executiva se reuniu de forma virtual para convocar o Diretório Nacional para o dia 9 de setembro, quando será deliberada a data de eleições internas antecipadas. Gravações da reunião vieram a público nas redes sociais. Os adjetivos trocados entre os camaradas são na maioria impublicáveis. Nos mais educados o tratamento dentre os correligionários era de “vagabundo, cínico, cachorro, picareta, golpista, caudilho”. “Foi uma baixaria” – analisou o ex-governador Cristovam Buarque, para quem, “o Cidadania cansou e não se sabe ainda se vai ter folego para respirar e mudar – definir bandeiras e se posicionar a favor do governo Lula – ou morrer de fadiga”.
Divergência candanga
A atual presidente do Cidadania-DF, Paula Belmonte, discorda. “Considero que Lula não está à altura de voltar ao cargo de Presidente da República. Entendo que o Cidadania não deve integrar a sua base de apoio, e nisso concordo plenamente com o presidente Roberto Freire, e por isso votei com ele na reunião da executiva”.
Em Brasília, o Cidadania herdou a capilaridade do antigo PCB, que dirigiu por anos o sindicato dos Bancários e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT). A disputa com o PT e a CUT é anterior à autonomia política de Brasília. Um dos nomes mais tradicionais foi o do bancário, Augusto Carvalho que, em 2015, migrou para o Solidariedade. Atualmente, a deputada distrital, Paula Belmonte, é a única no DF com mandato político.
Longevidade
No perfil no twitter de Roberto Freire, seguidores questionam a longevidade dele à frente do partido. “Uma pessoa continuar como presidente por 31 anos sem renovação não é muito democrático” – comentou um deles. Em termos de longevidade à frente de um partido, Freire se equipara a Roberto Jefferson (PTB), José Eymael (Democracia Cristã) e Rui Costa Pimenta (PCO). “Independentemente do período em que o presidente Roberto Freire está à frente do partido, ele sempre tem uma postura extremamente democrática na condução do Cidadania” – avalia Belmonte.
Freire não quer que o Diretório Nacional delibere a antecipação das eleições, traduz isso como sendo um ato de sua expulsão do partido. Prefere convocar um congresso onde todos os filiados deliberem. Mas não há confiança nas palavras dele. Uma transição amigável estava sendo construída, assegurando, inclusive, o cargo de presidente de honra a Freire, em homenagem a sua história. No popular – disse um integrante do Cidadania – na reunião chutaram o pau da barraca e por 13 a 10, prevaleceu a convocação do diretório para deliberar a realização de eleições antecipadas.
“A crise é de cansaço. Cansou a falta de rumo do cidadania, um partido sem bandeiras; cansou o conflito entre os que desejam um partido de esquerda alternativa e os bolsonaristas que se abrigam no partido; cansou a eternização do Roberto Freire na presidência, sem qualquer liderança, nem inspiração e sofrendo de uma patologia chamada antipetismo e anti lula” – detalha Cristovam. ‘
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