Recentemente, o noticiário televisivo divulgou a foto de um velhinho apoiado numa bengala adentrando o presídio da Papuda. E, quem diria? Tratava-se do famoso político paulistano Paulo Maluf, afinal condenado por dezenas de falcatruas milionárias, quando ocupou cargos relevantes no Legislativo e no Executivo, inclusive como prefeito da capital e governador do estado de São Paulo.
No dia seguinte, o Supremo Tribunal Federal negou o pedido de habeas-corpus de seus advogados, que alegavam estado precário de saúde do presidiário de 86 anos. Os ministros do STF simplesmente se basearam na imagem em que ele foi flagrado, na véspera da prisão, caminhando posudo de mãos dadas com sua esposa Sylvia.
O flagrante significava mais um de tantos truques de Maluf, um dos quais testemunhei de perto quando fiz parte de sua comitiva de imprensa, na campanha nacional das Indiretas para presidente da República, em 1985. Da equipe de repórteres, eu era um dos poucos que não viajava por conta de Maluf, porque meu jornal custeara minhas despesas integrais, o que me dava liberdade para escrever o que acontecesse no transcurso dos vários comícios.
Figura arrogante pela própria natureza, Maluf recomendou ao seu assessor de imprensa que os jornalistas de nosso grupo o chamassem de \”Doutor Paulo\”, muito embora ele não tivesse nenhum título que justificasse esse respeitoso tratamento. De minha parte, atendi sem protestos porque já o conhecia nas lides em que participei em São Paulo, principalmente quando ele ocupou o Palácio dos Campos Elísios, primeiro como interventor e depois como governador eleito, transformando o local em seu reinado, embora fosse um rei sem coroa.
Como a minha missão era transcrever os encontros mantidos pelo candidato, não houve qualquer atrito entre nós, a não ser quando ele tentou me barrar numa reunião fechada com os repórteres sobre Economia Política, alegando falta de conhecimentos específicos de minha parte. Retruquei que era bacharel em Ciências Sociais pela Faculdade Nacional de Filosofia e estudara Economia em quatro anos de meu currículo. Mas que não assistiria à tal reunião porque não fazia parte de minha pauta. E lhe virei as costas, à guisa de desaforo!
P.S. – Na votação aberta do colégio eleitoral para a Presidência da República, em 1985, Maluf perdeu para Tancredo Neves por mais de 300 votos.