Rodrigo Rollemberg (PSB) assume o Governo do Distrito Federal em meio a uma das mais profundas crises financeiras já experimentadas pela população da Capital da República. Greves pipocaram em vários segmentos durante todo o ano e se agravaram após as eleições de outubro, nas quais o governador Agnelo Queiroz (PT) sequer passou para o segundo turno. A maioria dos problemas se deu por falta de pagamento de salários de servidores públicos e de trabalhadores contratados por empresas terceirizadas. A instabilidade preocupa a todos e comprometeu até as comemorações do tradicional révellion na Esplanada dos Ministérios e na Prainha do Lago Sul.
Agnelo tenta mostrar suas realizações, e não admite o caos apontado pela equipe de transição do sucessor. Mesmo com os atrasos nos repasses de recursos para empresas de ônibus, de manutenção de hospitais e de creches, entre outras áreas, o petista garante que deixará as contas em ordem. E é bom, para o seu próprio bem, que esteja falando a verdade. O novo presidente do Tribunal de Contas do DF, Renato Rainha, ameaça a enquadrá-lo na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), caso o órgão de controle externo confirme que houve desrespeito à norma.
Em meio à troca de farpas e acusações, Agnelo cogitou não transmitir o cargo para Rollemberg. Acusou o sucessor de “estelionato eleitoral”. Mas o assunto não se encerrou aí. O socialista disse que o petista já havia recebido a resposta dos brasilienses nas urnas de outubro, onde foi rechaçado. Mas as rusgas entre os ex-aliados – Rollemberg se elegeu senador na chapa vitoriosa de Agnelo em 2010 – não impedirão a troca de comando no Palácio do Buriti. Assim, a partir de primeiro de janeiro, com crise ou sem crise, caberá a Rollemberg definir os rumos de Brasília. E o mesmo Renato Rainha avisa: “o débito em atraso é do Estado, não deste ou daquele governo. E o Estado terá que pagar”.
Significa dizer que no momento em que tomar posse, começará a contagem regressiva para Rodrigo Rollemberg mostrar a que veio. Ele precisará reduzir despesas, aumentar a arrecadação e pagar o que o GDF deve. Para isso, tentará a antecipação de uma parcela do Fundo Constitucional que a União paga mensalmente ao GDF. Já anunciou, entre outras medidas, o corte de 60% dos cargos comissionados e a redução do número de secretarias – de 39 para 25. Especula-se a possibilidade de fusão de administrações regionais de cidades como Riacho Fundo I e II, Paranoá e Itapoã, Lago Norte e Varão, Sobradinho I e II e Fercal, SIA e Estrutural. Mas também isto não está decidido.
Dentro do suposto “estelionato” apontado por Agnelo estaria a promessa se promover eleições diretas para administradores regionais e não lotear os cargos de primeiro e segundo escalões do governo para políticos em troca de apoio no Parlamento. Como o Brasília Capital antecipou na edição 186, Rollemberg pretende fazer a consulta popular no segundo semestre de 2016, no mesmo período em que os municípios brasileiros elegerão prefeitos e vereadores. Há sempre, porém, a hipótese de a Justiça barrar esta pretensão. Afinal, constitucionalmente, não é possível considerar as cidades-satélites de Brasília como municípios.
Enfim, Rollemberg não foi “condenado” a ser governador de Brasília. Ao contrário. Ele lutou muito para alcançar essa posição, ambicionada por muitos outros políticos. Foi eleito pela esmagadora maioria da população do DF e carrega a esperança de todos de que honrará os compromissos assumidos e melhorará a qualidade de vida dos brasilienses. Agnelo pode estar transferindo um grande abacaxi para as mãos do sucessor. E Brasília, além de torcer pelo sucesso do novo governador, precisará acompanhar o dia-a-dia do GDF e cobrar soluções para os gravíssimos problemas da cidade. Afinal, quem pariu Mateus que o embale.