De repente, o passado vira presente no exato momento em que relembro dos bons tempos, vivenciando aventuras pelos quatro cantos do mundo, como repórter de uma bendita profissão chamada Jornalismo, a exemplo de quando fiquei conhecendo um pedaço da China comunista, na década de 60. À época, viajara a serviço da revista Manchete, em companhia do fotógrafo Gervásio Baptista. Após enviar uma sugestiva reportagem sobre Hong Kong, ao ser surpreendido pelo convite de um jornalista do PC chinês, sugeri uma possível entrevista com Mao Tsé Tung, a quem admirava, o que era verdade.. Como resposta, o colega explicou que suas ordens se limitavam a nos acompanhar até as proximidades da fronteira, para que víssemos com os próprios olhos os benefícios da reforma agrária maoísta, o que de fato constataríamos: não havia um palmo de terra que não tivesse plantios de trigo, milho e outros gêneros alimentícios vegetais.
- Advertisement -
Percorrendo estradas dentro de um velho jipe, fomos recepcionados à beira de um bonito lago pelo prefeito local, que nos convidou para almoçar em sua companhia. E perguntou qual era o nosso prato preferido. Não contei até três e respondi: “Caranguejo!” -, ratificado pelo Gervásio. Então, nosso anfitrião encomendou o petisco ao chef da cozinha, um gigante de quase dois metros. Meia hora depois, o artífice culinário voltou, carregando no ombro uma enorme bandeja de prata contendo a carne branca de Caranguejo, devidamente catada. Como se tivesse ensaiado com o Gervásio, fizemos a mesma careta de desagrado. Expliquei ao senhor prefeito que brasileiro comia Caranguejo com a ajuda de um pequeno cassetete. Ele mandou que o chef nos atendesse. Mas jamais esquecerei do olhar de ódio que o cozinheiro nos dirigiu. E, de propósito ou não, só enviaria os crustáceos uma hora mais tarde, assim mesmo mal cozidos, que era uma forma de se vingar de nosotros, trogloditas.
Relembro esse fato, ocorrido há 52 anos, porque aqui em casa o prato preferido é o Caranguejo, também na base do toc-toc. Descobrimos um bar na Asa Norte, no qual há Caranguejos maiores do que no Nordeste. Vivos e lindos, eles chegam por via aérea, diariamente, às centenas. E esgotam todo o estoque, na hora do jantar.
Pelo visto, vale a pena fundar o Clube Candango do Caranguejo.