Os produtores rurais não são os responsáveis pela alta no preço do arroz. O que há é uma série de fatores que geraram esses aumentos. Atualmente, a saca de arroz está valendo perto de R$ 100, mas poucos produtores têm grãos armazenados para usufruir dessa valorização.
De acordo com estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o Brasil possui uma menor disponibilidade interna de arroz, o consumo do grão continua em queda e as exportações foram favorecidas pela atual situação de pandemia. Além disso, o custo da produção em 2020 subiu 13,34% em relação a 2019.
O arroz, produto reservado quase exclusivamente à alimentação humana, é o segundo cereal mais produzido no mundo. Cerca de 100 países o cultivam, e neles quase toda a produção se destina ao consumo interno. O Brasil é o maior consumidor fora da Ásia.
De toda a produção mundial, apenas 4% a 5% são comercializados em nível internacional, tornando o mercado significativamente sensível. Assim, pequenas oscilações na produção ou no consumo podem acarretar grandes mudanças em termos de comercialização.
O Brasil produziu, em 2019, 10,4 milhões de toneladas, ou seja, 13,4% a menos do que em 2018. E para 2020 a estimativa é de que serão produzidos 10,5 milhões de toneladas (aumento de 0,6% em relação à safra de 2019).
O Rio Grande do Sul é responsável por 70,5% da produção nacional (7,3 milhões de toneladas – crescimento de 1,8% em relação ao ano passado). O custo da saca oscila de R$ 46 a R$ 61, dependendo da região.
A área plantada foi reduzida de 1,17 milhão para 930 mil hectares em cinco anos no Rio Grande do Sul, e foi substituída por soja e pecuária. O custo por hectare cultivado registrou uma alta de 13,34% neste ano.
Portanto, o que gera o aumento do preço do arroz é o aumento dos custos da produção: energia elétrica (para irrigação); combustível (transporte); fertilizante; logística e a capacidade produtiva de cada pais.
Os itens que mais subiram na safra 2019/2020 na comparação com o ciclo anterior foram aguador (55,59%), terra arrendada (55,59%), secagem (55,57%), administrador (55,55%), aviação (53,71%) e água (51,73%).
Alguns insumos tiveram redução: transportes internos (-65,15%), juros sobre custeio (-48,64%), fretes (-22,76%) e combustíveis, tanto nas operações de lavoura (-14,16%) quanto na irrigação (-14,54%).
Os itens que tiveram maior aumento estão relacionados com o preço do arroz, que teve uma valorização de 51,73% no período, apontou o Irga (Instituto Rio Grandense do Arroz). O combustível, no entanto, teve uma queda no preço, refletindo na diminuição dos custos relacionados.
Dos rizicultores que recorrem a financiamentos, 30% têm acesso a crédito agrícola oficial e os outros 70% são financiados pela indústria e precisam pagar os empréstimos na época da safra (de janeiro a maio, no Rio Grande do Sul), quando o valor do produto está mais baixo. Por isso, poucos têm estoque no segundo semestre.
Com 70% da produção do arroz no País, as grandes indústrias de alimentos possuem estoques garantidos até a próxima safra e isto acabou gerando especulação. De sorte que é muito simplista imputar ao produtor o aumento do preço do arroz, sem analisar os fatores que levaram a este aumento.
(*) Advogado