Na edição 523, este Brasília Capital estampou a manchete “Ibaneis, o novo Roriz”. Alguns leitores e seguidores de nossas redes sociais chegaram a questionar se o título não mereceria uma interrogação. Ficou a dúvida. O certo é que a falta do ponto atraiu alguns para o texto e afugentou outros.
Mas quem se dedicou a ler a matéria assinada por este editor, com a luxuosa colaboração do repórter Ary Filgueira, publicada em três páginas internas, dividida em oito subtítulos, pôde ter um panorama do cenário político do Distrito Federal na disputa pela sucessão do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Esses leitores mais atentos também puderam entender o porque do título sem interrogação. A reportagem de Filgueira mostra que há, sim, profunda semelhança entre a política habitacional implementada pelo atual chefe do Executivo local e seu antecessor mais carismático. Ibaneis, como Roriz, tem facilitado o acesso à moradia a milhares de brasilienses. E isso rende votos.
Uma leitora, entretanto, sintetizou o sentimento de quem vê pelo em ovo e chifre em cabeça de cavalo. Ana Santos, que se identifica como moradora de Ceilândia e dona de um suposto jornal que pelo menos três dos moradores mais ilustres daquela cidade não conhecem – os deputados distritais Guarda Jânio, Fernando Fernandes e Chico Vigilante – revelou que “monitora” o Brasília Capital e que o semanário publica “matérias controvérsias (sic)”.
Ela quis dizer matérias controversas, polêmicas. Mas Ana dos Santos, assim como outros tantos que não leram com a devida atenção o conteúdo, talvez não tenha tido a capacidade de perceber tratar-se, aquela reportagem, de uma análise de cenário feita a partir de informações colhidas junto a várias fontes dos mais diversos espectros políticos locais.
Em off (que talvez Ana dos Santos e seus assemelhados não saibam) – quando a fonte passa informações, mas pede para ter sua identidade preservada – vários dos principais atores da cena política brasiliense avaliam que a criação de bairros e de novas cidades e a legalização de condomínios é uma estratégia de Ibaneis para permanecer no Buriti a partir de 2023.
Também preferindo o anonimato, vários desses personagens revelaram manobras de bastidores feitas por potenciais adversários de Ibaneis. Eles citam, quase que unanimemente, os senadores José Antônio Reguffe (Podemos), Izalci Lucas (PSDB), Leila Barros (PSB a caminho do Cidadania) e a deputada federal Flávia Arruda (PL). Além do petista Geraldo Magela.
Particularmente, o que parece ter incomodado a todas as “Anas dos Santos” foi justamente a citação de Flávia Arruda. Afinal, até agora, a ministra de Jair Bolsonaro é tratada como pré-candidata ao Senado na chapa de Ibaneis.
Os analistas mais atentos percebem, porém, que Flávia pode subir mais um degrau na escala de poder: tornar-se vice do atual governador, na vaga de Paco Britto (Avante). Ou, ainda, aproveitar a boa relação com o titular do Planalto e montar o palanque de Bolsonaro no DF.
Isto, cara Ana dos Santos, moradora de Ceilândia e dona de um jornal que ninguém conhece, não é “matéria controvérsia”. Muito menos, não é “não ser parceiro” de A ou B. Este é o jogo político. E nem sempre ele é justo ou injusto. Ele simplesmente é jogado. E alguns têm capacidade de compreendê-lo. Já outros só conseguem se vitimizar.