Na incursão jornalística à Amazônia a serviço da revista Manchete, na década de 1970, fui o primeiro repórter a chegar à mina do bamburro de ouro (descoberta de jazida), localizado na inóspita mata virgem da serra de Jacaréacanga. Com a intenção de dar um furo na concorrente O Cruzeiro, mesmo enfrentando uma noite de desconfortável viagem com a bunda molhada no fundo de uma pequena canoa a remo, contratei um caboclo para me levar em sua igarité pelo leito azul do rio Tapajós até Santarém, onde embarcaria no avião de volta ao Rio de Janeiro. De repente, em plena madrugada, afugentei o cansaço ao ouvir a voz de Inesita Barroso no radinho de pilha colado ao meu ouvido, cantando:
“Certa vez de montaria, eu descia um paraná, / O caboclo que remava não parava de falar. / Ah ah, não parava de falar, não parava de falar, / Ah ah, que caboclo falador! / Me contou do lobisomem, da Mãe D’água, do Tajá / Disse do Jurutahi, que se ria pro luar. / E contou, com pavulagem, que pegou o Uirapurú. / Ah, ah, que caboclo falador!…”
À época, duas coincidências: fã de Inesita, porque sempre fui apaixonado por música folclórica; e o caboclo que remava na proa da canoa também não parava de falar, inclusive tentando me convencer do mito ribeirinho (*):
– Eu sou filho de Boto Encantado, dotô!
Voltando a Inesita, leitor inveterado, sei tudo sobre a vida da menina-precoce, nascida no berço de uma família aristocrática de São Paulo e que desde os sete anos de idade começou a tocar violão e cantar numa rádio local. E nunca deixei de acompanhá-la em toda a sua trajetória artística, como atração nos programas folclóricos televisivos, interpretando canções imortais.
Segundo o noticiário, Inesita Barroso faleceu em São Paulo, no Hospital Sírio Libanês, na noite de 9 de maio de 2015, aos 90 anos, depois de 63 de carreira. Tudo não passa de “barriga” da imprensa (notícia falsa). Se é verdade que morreu, ela ressuscitou no recente domingo de fevereiro, 21: eu a vi e ouvi cantando (“ao vivo”) na TV Cultura, no programa Viola, Minha Viola. E, apesar da idade, sua voz de contralto continua mais linda do que nunca!