Entrevistada pelo Brasília Capital na semana passada, a administradora de Taguatinga, Karolyne Guimarães, admitiu que apenas 15% dos 300 servidores da Regional fazem trabalhos externos, como pequenas obras e operações tapa-buracos nas ruas da cidade. Os demais 85% cumprem tarefas burocráticas. A proporção se repete ou se aproxima em praticamente todas as demais trinta regiões administrativas.
Ela disse ainda que a Administração não tem receita própria, e limita-se a negociar emendas com os deputados distritais quando detecta demandas importantes da comunidade. Para resolver problemas do cotidiano, recorre a outros órgãos do GDF, que enviam equipes e equipamentos. Entre eles, a Novacap, o DER, o Detran e as Secretarias de Estado.
Ainda assim, sem recursos próprios e sem estrutura de pessoal e de maquinário – para atender às reivindicações da população ela estima que precisaria de cerca de 200 trabalhadores braçais – Karolyne Guimarães mostrou-se interessada a permanecer no cargo, caso seja convidada pelo governador eleito Ibaneis Rocha, para “continuar a cumprir uma missão”.
O sonho da chefe da Regional de Taguatinga também é acalentado por centenas de outros candidatos a administradores das mais de trinta cidades do DF. Desde que Ibaneis admitiu nomear para esses cargos pessoas indicadas em listas tríplices formadas a partir de consultas à sociedade civil das próprias cidades, instalou-se um verdadeiro terceiro turno das eleições de outubro.
De norte a sul, de leste a oeste do quadradinho, pretendentes se articulam e desenvolvem verdadeiras campanhas em busca de aliados. Como trata-se de uma “eleição indireta”, eles não se descuidam das articulações de bastidores. Buscam apoios de políticos, especialmente de deputados distritais eleitos. Sabem que, ao cabo dessas brigas, poderá ser destes a palavra final, a partir de acordos em troca de voto na Câmara Legislativa. O velho e bom toma-lá-dá-cá.
O Brasília Capital tem acompanhado essas movimentações. Na terça-feira (11), a reportagem foi à reunião de um inusitado Conselho de Desenvolvimento da Região Oeste do Distrito Federal, que engloba Guará, Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Riacho Fundo I, Águas Claras e Vicente Pires. O encontro foi no Colégio Kadima, em Taguatinga, organizado pelo empresário Eliseu Kadesh. Como coordenador da reunião, ele seguiu dinâmica semelhante à adotada no encontro da região Norte, que aconteceu em 28 de novembro.
A intenção do grupo é elaborar uma carta de demandas prioritárias e entregá-la a Gustavo Aires, ex-presidente do MDB-DF e indicado por Ibaneis como coordenador das administrações regionais. Os mais de trinta líderes comunitários presentes também fizeram indicações de nomes para administradores regionais.
Segundo eles, \”as sugestões seguem os critérios apontados pelo próprio governador eleito: ouvir os deputados, os partidos da base e a sociedade civil\”. Gestor público e coordenador-adjunto da frente na Região Norte, Hélio Rosa garante que este é um novo instrumento de participação popular na política e que “no momento de transição é preciso celeridade”.
Os líderes presentes – muitos, posteriormente, reclamaram não terem sido convidados – apresentaram as principais necessidades de suas localidades, depois de levantamentos feitos por eles próprios. As necessidades são pontuais, como campos sintéticos, quadras poliesportivas, alargamento de vias, e até mesmo um viaduto na EPNB, sugerido por Rosana Lúcia Alves, moradora do Riacho Fundo.
Eugênio Piedade e Hélio Rosa, que encabeçaram o movimento na região norte, entregaram nomes para administradores de Sobradinho II (Estevão Reis, com o apoio da deputada federal eleita Celina Leão); de Planaltina (Hélio Rosa, que teria a simpatia de Cláudio Abrantes); do Itapoã (Eugênio Piedade, supostamente indicado por Agaciel Maia); do Jardim Botânico (Hamilton Santos, aliado do vice-governador eleito Paco Britto); do Varjão (Tia Nair, indicada por seu partido, Avante); e do Lago Norte (José Roberto Furquim, em tese com o suporte do atual presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle).
O Conselho da região Oeste vai apresentar os nomes de possíveis administradores a Gustavo Aires nesta sexta-feira (14).
Ceilândia – Rubens Estêvão, o Galego do Ibaneis, “é assim que ele me chama”, referindo-se ao governador eleito, afirmou que sozinho conseguiu 40 mil votos para o emedebista, e que tem “bala na agulha” para apontar o administrador da cidade mais populosa do DF: Paulo Florentino da Silveira, Roberto Araújo e Walter Marcelo. Não ficou esclarecido quem seriam os padrinhos políticos de cada um deles.