O termo filó tem origem em uma tradição italiana, onde famílias e vizinhos passavam os invernos nos estábulos se aquecendo e economizando madeira. Provavelmente, filó deriva do latim (filatum), que significa “uma rede”, mas, como verbo, pode referir-se a uma atividade de fiação.
Portanto, o termo representa o passar do tempo, mas também a criação de laços estruturais e integração de partes. Era por meio do filó que o povo da época transmitia sua enciclopédia cultural, como uma biblioteca transmitida oralmente.
No Brasil essa tradição foi trazida pelos imigrantes italianos que se instalaram no sul do país. Naquela época, os vizinhos se reuniam para partilhar boas histórias, cantar cantigas e criar laços.
O ritmo que orquestrava toda essa sinfonia era a comida. Diversos personagens surgiam nessa dança sublime. As nonas na cozinha com suas colheres de pau e panelas ressonantes; as crianças que corriam por toda a casa parando só pela retumbante voz que abrandava seus estômagos: “a comida está na mesa!”; os jovens que aproveitavam aquele encontro sedutor para seus jogos de conquistas; e os homens saudosistas que gritavam para o mundo todo ouvir suas histórias já passadas.
Agora, qual é a nossa filó? Na jovem capital, árida, seca e com gente de todo o Brasil e do mundo, com culturas diferentes, comeres diversos e histórias aos montes? Onde está o momento de partilhar quem somos e tecer laços? Há, em Brasília, um potencial imenso, ainda pouco explorado, de saberes e sabores.
E onde o nutricionista entra nessa dança?
Ora, seu objeto de estudo é o alimento, e este é, por si só, o maior vetor de relacionamentos humanos. Em uma época em que se discute sobre a epidemia da solidão, é nossa responsabilidade operar essa ferramenta que clama para ser desfrutada.
(*) Texto do estudante de Nutrição da Universidade Católica de Brasília, Asafe Cristino. Supervisão da professora Caroline Romeiro