O vice-presidente do PT do Distrito Federal e Administrador da Ceilândia, Ary de Almeida, aposta na reeleição do governador Agnelo Queiroz (PT), independente de quem sejam os adversários. Nesta entrevista ao Brasília Capital, ele fala da candidatura de Geraldo Magela ao Senado e do racha com o Senador Rodrigo Rollemberg (PSB), que vai concorrer ao buriti com o ex-aliado.
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BC – O governo tem dito que trabalha muito e que tem realizado projetos reivindicados há anos pela sociedade. Mas isto não se reflete nas pesquisas de opinião pública. Qual a sua expectativa para a campanha e as possibilidades de reeleição do governador Agnelo Queiroz?
Ary – É bem colocado isso. O governo é bem avaliado em várias regiões administrativas, mas isto, às vezes, não se reflete no todo. O governo Agnelo é bem avaliado na Ceilândia, tem uma boa aceitação pelo trabalho que vem desenvolvendo. Nós sabemos que é importante vencer a eleição em Ceilândia, o maior colégio eleitoral do DF. Acontece que o governo começou muito tímido. No início, nós pegamos uma situação pior do que imaginávamos. O primeiro ano – 2011 – foi um período de planejamento, para começar a colocar o governo para funcionar a partir de 2012. E isso tem reflexo nas administrações regionais.
BC – Foi preciso arrumar a casa…
Ary – Costumo dizer que nem é arrumar a casa, é planejar como seriam os próximos três anos. E nós conseguimos fazer isso. O governo se planejou, se preparou e conseguiu, a partir de 2012, colocar o governo nos trilhos.
BC – Mas parece que a população não entendeu assim, em virtude dos maus resultados nas pesquisas…
Ary – É preciso chamar a atenção nessas avaliações, porque os problemas sociais do DF acontecem no Brasil como um todo. Os problemas na saúde no DF são os mesmos de São Paulo, Minas e do Norte e Nordeste. Se pegarmos os problemas no transporte público, eles são os mesmos no Brasil como um todo. Então nisso criou-se uma onda de maior avaliação dos governos que não conseguiram resolver esses problemas: saúde, segurança e educação. E o transporte pela primeira vez isso entrou na pauta nacional. Então o governo teve que se planejar em 2011 para a partir de 2012 começarmos a mostrar o que seria a nossa gestão.
BC – Além da questão administrativa e de planejamento, também houve dificuldade de comunicação?
Ary – A realidade é que o governo começou a andar a partir de 2012. Aí não conseguimos transmitir para a população o que nós fizemos. Mas há de se reconhecer que foi feito muito no DF nos últimos três anos, embora não tenhamos conseguido mostrar isso. E não conseguimos pela emergência de se resolver as coisas. Se pegarmos a área da Saúde, onde o governo ainda é muito criticado, nós avançamos muito e não estamos conseguindo colocar isso para fora.
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BC – Então existiu mesmo o problema de comunicação?
Ary – Na Saúde, ainda temos uma situação, que atrapalha, e muito, que é a mídia. A mídia só vai nos focos do acontecimento do dia, e não consegue dizer que construímos as Upas e elas estão funcionando, que aumentamos o número de profissionais. A mídia trabalha com a visão de “cidade arrasada”, e isso faz com que a população também incorpore esse assunto e esse modelo. Avançamos muito, mas ainda não é modelo que a população do DF merece! Mas estamos fazendo pesados investimentos na Saúde e também na Educação, no transporte e na segurança. São temas que daqui a dois, três, quatro anos perceberemos o que foi feito agora.
BC – Mas este discurso será suficiente para reeleger o governador Agnelo?
Ary – É um governo bom, que dialoga sem terrorismo, sem amedrontar. Enfrentar os movimentos sociais que nós temos enfrentado no dia-a-dia é porque estamos acostumados com isso, porque a maioria de quem está no governo é oriunda dos movimentos sociais. Então reconhecemos, defendemos. E como já estivemos dentro, sabemos como tratar. Temos dialogado também com os empresários e feito muita coisa em conformidade com esses movimentos.
BC – Outro momento crucial, que inclusive antecede as eleições, é a Copa do Mundo. A dez dias do início do Mundial, parece que a torcida ainda não se empolgou. Por que isso?
Ary – O maior ganho cultural do povo brasileiro é o futebol. O Brasil é conhecido lá fora por seus cantores e seus artistas. Mas o que levou o Brasil para fora foi o futebol e seus atletas. Eu não tenho dúvidas de que esse espírito vai acontecer. Na Copa das Confederações o povo não tinha embalado. Quando a equipe começou a ganhar, o povo foi junto.
BC – Este era o momento oportuno de o Brasil sediar uma Copa?
Ary – Eu avalio que estão equivocadas as pessoas que dizem que a Copa do Mundo não deveria ser no Brasil. Por mim, a cada quatro anos a Copa deveria ser no Brasil. Os investimentos que o governo fez para construir os estádios – que são a polêmica – nós fizemos 55 vezes mais na questão da mobilidade urbana e na Saúde.
BC – A partir do dia 12 de junho, cada brasileiro estará pagando para realizar a Copa. Por que o povo ainda não assumiu isso?
Ary – Primeiro, porque antes da responsabilidade de fazer a Copa, vem a questão da Saúde, das melhorias na segurança, no transporte. Existe um grande elenco de reivindicações. Mas não tenho dúvidas de que a partir do dia 12 o povo vai assumir.
BC – O resultado da Copa vai influenciar nas eleições?
Ary – Pode direcionar muito. Se seleção for bem, esquece-se tudo. Se não, vamos ter problemas.
BC – Será que esse aparente desinteresse pela Copa está ligado ao grande volume de denúncias de superfaturamento, de desvios, de não execução do que estava previsto para o evento?
Ary – Ai nós temos que analisar. No DF, 70% do que estava acertado para a realização da Copa do Mundo foi feito. Qual a grande obra do DF para Copa do Mundo que não foi realizada? O VLT. O resto todo foi cumprido. Algumas
obras atrasaram, outras foram entregues antes do tempo. Não tem jeito! Onde você tiver obra grande, sempre vai ter denuncismo, superfaturamento, ilegalidade. Denúncias sempre vão existir, e isso faz com que o povo se revolte. Hoje em dia, para você virar réu é ligeiro. Só basta falar que fulano desviou alguma coisa, e quando você vai ver, nem aconteceu isso, mas já foi para fora. Isso contribui para indignação do povo.
BC – Mas o PT já fez muito isso…
Ary – Eu não afirmo jamais, e nunca afirmei, que obras são superfaturadas, e que recursos são desviados. Agora, a onda denuncismo deixa o povo desconfiado com a Copa do Mundo.
BC – Voltando à questão da campanha em Brasília. A chapa do PT está fechada?
Ary – Nós vamos repetir Agnelo e Filipelli. O PT apresentou um nome para ao Senado. Vamos frisar: que o PT apresentou um nome. Nós do PT queremos muito que seja o Magela. O partido tem a carência de ter um senador da República. Se você pegar a trajetória da eleição para o Senado no DF, o Lauro Campos, eleito pelo PT, na reta final foi para o PDT. Depois, tivemos o Cristovam eleito pelo PT, que também foi para o PDT. Então o PT ainda não tem um senador para chamar de seu.
BC – E, por último, elegeu o Rodrigo Rollemberg, que agora está na oposição.
Ary – Mas este é o preço que se paga em uma chapa grande. O Rodrigo optou por sair porque o PSB tem os projetos nacional e local deles. Eu acho que é legítimo e que é a escolha que eles fizeram. Depois da eleição nós vamos saber se fizeram certo ou não. O que o PSB no DF não entende é que tem outras eleições. Anteriormente, todas as vezes que o Rodrigo Rollemberg foi eleito ele esteve atrelado com a gente. Será a primeira vez que ele vai disputar sem nós, sabendo que em 2018 ele pode voltar.
BC – Isto não vai dividir os votos da esquerda?
Ary – Eu penso que foi uma avaliação errada do PSB, mas eles optaram e eu respeito.
BC – Será que os aliados vão aceitar a escolha do Magela?
Ary – O PT não está impondo o nome do Magela. Nós temos levado o nome do Magela aos partidos e dialogamos.
BC – Está sendo boa a receptividade?
Ary – Ah sim! Nós temos alguns problemas, alguns gargalos. Mas eles entendem que a candidatura do Magela ao Senado é boa para a chapa majoritária. Nós estamos querendo um senador que ajude na chapa. E um senador que depois de eleito vá ajudar tanto o governo local quanto a presidente Dilma na sua reeleição. Queremos um senador que esteja atrelado à campanha para a vitória do Agnelo.
BC – E que seja um possível candidato à sucessão do próximo governador?
Ary – A gente não trabalha nisso. Nós vamos por vez. Eu sou o vice-presidente no PT do DF, Policarpo é o presidente, e a gente trabalha com muita tranquilidade nisso. Sabemos que vai chegar um momento em que vamos ter que abrir mão, porque em uma relação, seja qual for, chega um momento em que você tem que abrir mão. Então, nós temos construído primeiro para 2014, mas com um olhinho em 2018, na verdade.
BC – O cenário está muito indefinido. O candidato mais forte da oposição, o Arruda, não tem sequer a certeza de que poderá concorrer. Caso ele tenha condição jurídica de ser candidato, é uma campanha. Sem o Arruda, é outra campanha. Qual é a articulação que o PT tem feito para superar essa adversidade?
Ary – Nós temos em nível nacional um aliado do nosso governo que é o PR. A decisão de ter uma candidatura própria encabeçada pelo ex-governador Arruda é do PR. Então cabe ao PR dizer se vai levar essa candidatura adiante, ou não. O PT está se preparando para disputar as eleições, contra o governador Arruda, seja contra o Rodrigo Rollemberg, ou o Toninho do PSol, ou o Pitiman ou a Eliana Pedrosa. Nós temos o que mostrar e com o que comparar. Independentemente de quem sejam os candidatos, nós vamos fazer uma bela campanha, porque temos o que mostrar, o que comparar e o que defender.
BC – Mas o caminho seria facilitado se os adversários forem mais fracos…
Ary – É verdade que se candidatos de maior potencial não estiverem no páreo,seria menos complicado uma eleição nossa. Agora, o partido tem conversado nacionalmente com seus aliados e automaticamente dentro dessa conversa nacional entram as questões estaduais. Se a direção nacional do PR, que é nosso aliado nacionalmente, sabendo que nós temos um governador aqui, resolve lançar um candidato próprio contra a gente, então que a direção nacional trate disso. O PT está muito tranquilo. Se nós tivermos que disputar com o governador Arruda, estamos preparados para disputar e preparados para mostrar o que foi feito e fazer as comparações.
BC – O sr. acha que essa campanha com a presença do Arruda vai ser uma campanha propositiva ou será uma campanha mais baixa?
Ary – É muito difícil responder essa pergunta. Eu vou dizer que o DF tem a oportunidade de amenizar o denuncismo. Eu acho que essa campanha tem que ser propositiva, Se você entra com campanha suja, você não contribui com nada. Independente de quem venha a disputar, eu penso que essa campanha deve ser com propostas para o DF. E quem ganhar essa eleição tem um grande desafio de criar uma unidade para governar em torno de Brasília, senão não governa.
BC – Mas o que a gente tem visto nas redes sociais são pessoas, aparentemente petistas, fazendo uma campanha declarada até de pedir a prisão do Arruda.
Ary – Ninguém controla sua militância no total. Nós temos que analisar o comportamento da direção do PT. Ninguém tem visto de um dirigente do PT, no seu conjunto de dirigentes, de parlamentares, nada em torno disso! Estamos esperando definir os candidatos. A partir daí, iremos para a rua fazer campanha.