Orlando Pontes
O vice-presidente da Câmara Legislativa e primeiro vice-presidente do PT-DF, Ricardo Vale, afirma, nesta entrevista ao Brasília Capital, que o partido já decidiu lançar candidatura própria ao Buriti e deve definir o nome até o fim de novembro. São dois pré-candidatos: Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e o ex-deputado Geraldo Magela.
“Queremos resolver essa questão logo e apresentar o nome à população do DF”, defende. Vale trabalha por um consenso para evitar as prévias eleitorais, previstas no estatuto do PT. O distrital fala, ainda, sobre a necessidade de unidade da esquerda, investimentos do governo Lula no DF e projetos voltados à cultura, meio ambiente e defesa dos animais.
Como estão as conversas internas do PT para a formação da chapa que disputará a sucessão de Ibaneis Rocha? – Na primeira reunião da nova direção do PT, semana passada, discutimos o assunto. Vamos avançar na reunião do diretório e acelerar esse processo. O partido tem entendimento, em todas as correntes, de que teremos candidato ao governo do Distrito Federal. Até o momento, temos dois nomes colocados: Magela e Grass. É possível que tenha prévia. Neste caso, pediremos autorização à Direção Nacional para realizá-las até o final de novembro. Queremos apresentar o pré-candidato do PT até lá.
A impressão é de que o Leandro Grass tem o apoio da maioria das lideranças do PT-DF e até do Lula. Há uma busca de consenso para evitar as prévias defendidas por Geraldo Magela? – Estamos conversando muito com o Magela. Tenho mostrado a importância de chegar a um acordo e evitar prévias. Mas ele acredita que pode vencer. O partido respeita todas as candidaturas. Se caminhar para as prévias, vamos fazer rapidamente, para não perder tempo. Vários partidos já têm nomes colocados, e o PT ainda não apresentou o seu. Queremos resolver essa questão e apresentar o nome à população.
Também vem crescendo a pré-candidatura de Ricardo Cappelli, do PSB. Há conversas para evitar o racha na esquerda? – Precisamos, após definir nosso nome, sentar com Cappelli, com o PSB e outros partidos para tentar acordo e ter um único candidato de esquerda ao GDF. É legítimo o movimento do PSB, mas o PT decidiu, em congresso, que terá candidato próprio. Espero que o PSB possa se somar.
Ricardo Vale: “Fomos atropelados na eleição passada porque demoramos demais a decidir. Havia indefinição entre Rosilene e Magela. Acabou que o presidente Lula pediu apoio ao Leandro Grass, que era do PV”. – Foto: Rodrigo Soares
Na última campanha, o PT local acabou atropelado pela Direção Nacional em nome de acordos em outras unidades da Federação. Há este risco para 2026? – Fomos atropelados na eleição passada porque demoramos demais a decidir. Havia indefinição entre Rosilene (Corrêa) e (Geraldo) Magela. Acabou que o presidente Lula pediu apoio ao Leandro Grass, que era do PV. A chegada do Leandro ao PT agora minimiza esse problema. Ele foi candidato do campo de esquerda e teve boa votação. Mas precisamos decidir logo, senão pode haver interferência da Nacional. Se o PT se unir e negociar com os partidos, dificilmente haverá intervenção.
Em 2026, haverá uma diferença: o PT terá a máquina federal em mãos, ao contrário de 2022, quando era oposição nacional e local. Aliás, já há movimentos mostrando o que Lula está fazendo pelo DF… – A disputa com Lula no Planalto muda tudo. O governo federal tem mandado muitos recursos para o DF, principalmente para mobilidade, por meio do PAC. Lula tem crescido nas pesquisas. Ele vai puxar candidaturas ao governo, ao Senado, à Câmara e às Assembleias. O país vive outro momento. Se soubermos aproveitar os investimentos e políticas sociais — Minha Casa Minha Vida, Farmácia Popular, Mais Médicos — podemos ganhar o governo do DF.
Como morador de Sobradinho e representante da região Norte do DF na Câmara Legislativa, o que destaca entre os benefícios trazidos por Lula para seu eleitorado? – A principal obra do PAC para a região Norte do DF é o BRT, que deve começar ainda este ano. Um investimento de quase R$ 3 bilhões que ligará a Asa Norte a Planaltina. Outra é o IFB (Instituto Federal de Brasília), já licitado, que será construído em Sobradinho II.
Há previsão de algum investimento federal para a Saúde do DF? – O governo federal criou políticas como o Agora Tem Especialistas, com mutirões para acabar com filas de consultas e cirurgias nos hospitais e nas UPAs. Espero que o GDF seja parceiro, porque a saúde pública está muito ruim. O governo também oferece apoio para reduzir demandas do SUS e segue ampliando o Mais Médicos.
A Câmara cumprirá o compromisso de aprovar o PDOT até o final deste ano? – O Projeto de Desenvolvimento e Ordenamento Territorial chegou em março aqui na Câmara. Temos feito muitos debates. Meu gabinete acompanha de perto, principalmente a questão ambiental. Há áreas rurais que podem virar regiões administrativas e urbanas. Precisamos estar atentos para preservar o que resta e acompanhar a regularização de condomínios (mais de 500 são irregulares). O PDOT vai tratar disso. A Câmara fará audiências públicas, e a sociedade precisa participar. Há muitos interesses econômicos. Vamos tentar melhorar o texto sem permitir retrocessos ambientais.
Seu mandato tem uma preocupação especial com a cultura e com os animais. O que avançou na Câmara a partir de suas iniciativas? – Nosso mandato escuta muito a sociedade. Na cultura, atuamos na defesa do Eixão do Lazer, que o GDF queria acabar. Conseguimos reverter. E seguimos apoiando projetos que geram emprego e renda. Também impedimos a privatização das feiras, que poderia transformar bancas em espaços privados. O governo recuou após nossas audiências. Na causa animal, há cerca de 1,5 milhão de cães e gatos em situação de rua no DF. Faltam políticas públicas. Nosso mandato apresentou projetos e virou referência na proteção dos pets, sobretudo os de rua, que sofrem com fome, frio e sede, e ainda transmitem doenças para a população. Nós entramos com toda a força nesse processo e estamos virando uma referência nesse quesito.
Qual mensagem deixa para a população do DF neste momento? – O presidente Lula tem trabalhado para que o País viva um momento de mais tranquilidade e diálogo, sem ódio. É importante que a população fique atenta nas eleições do ano que vem, sem se deixar levar por fake news e mentiras, como nas últimas eleições. Muitos foram enganados, inclusive religiosos, por discursos falsos. Que o voto seja consciente, em candidatos comprometidos com o interesse público, e não em quem usa o nome de Deus para ganhar eleição. Espero que tenhamos uma disputa tranquila, que a esquerda volte a vencer no DF e o presidente Lula seja reeleito.