Candidatos a governador prometem um DF de Primeiro Mundo
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Ray Cunha
O Distrito Federal que surge nos programas de governo dos principais candidatos ao Palácio do Buriti levam o eleitor a acreditar que, após as eleições de 5 de outubro, viveremos numa das unidades da Federação mais aprazíveis do País. Pena, no entanto, que, de um modo geral, sejam apenas (boas) intenções que tendem a ser engavetadas logo em seguida.
De qualquer modo, os programas entregues ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) contêm, além de utopias, autoelogios e alfinetadas, e algumas ideias comuns e imprescindíveis para aliviar o colapso para o qual Brasília descarrila, especialmente nos transportes públicos. Confira nestas duas páginas o que pretendem fazer cada um deles, caso conquistem nas urnas o direito de governar a capital da República a partir de primeiro de janeiro de 2015.
AGNELO QUEIROZ – O programa do governador Agnelo Queiroz, candidato à reeleição, é farto em autoelogios ao Partido dos Trabalhadores (PT) e de alfinetada nos adversários. “Experimentando um período de estabilidade institucional duradouro, a ação do governo federal tem sido capaz de alcançar positivamente segmentos sociais inteiros. O DF se incorporou a esse ciclo virtuoso tardiamente”.
Ao reclamar como o PT recebeu o DF, o programa de Agnelo argumenta que o atual governo serviu apenas para arrumar a casa. “As cidades estavam malcuidadas, com sujeira e mato dominando o cenário; o DF ostentava o maior índice de desigualdade do País; e o povo enxergava o seu governo com enorme desconfiança”. E logo adiante: “somente ao fim de 2011, foi superada a inadimplência, e, a partir disso, a máquina começa a andar”.
Bem, segundo o próprio PT, a casa já está arrumada. O plano, agora, em caso de vitória de Agnelo, é focar na conclusão do Expresso DF e na ampliação do metrô; universalizar o programa Saúde da Família; inaugurar novas UPAs; e criar 3,2 mil vagas para presidiários (o índice de criminosos condenados no DF é crescente, como de resto em todo o País).
ARRUDA – O candidato que vem liderando as pesquisas de intenção de voto, o ex-governador José Roberto Arruda, do Partido da República (PR), garante que já demonstrou sua capacidade de gerir o DF e tem excelentes idéias. Porém, se vencer o páreo, não sabe se assumirá, pois corre o risco de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
De qualquer maneira, o programa de governo de Arruda é arrojado: integrar todo o sistema de transporte público; investir na educação; dar mais agilidade à emissão de alvarás e licenças, em até 10 dias, e por meio eletrônico; ampliação dos serviços do Na Hora para o Entorno; construção de hospitais regionais em parcerias público-privadas (PPPs); fim do déficit habitacional do DF, com a construção de 120 mil residências; e manter intenso diálogo com a população no que diz respeito à tomada de decisões.
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Arruda também critica o atual endividamento do GDF. “Em 2014, o resultado primário será negativo e deve somar R$ 1,5 bilhão. Esse resultado exigirá muita austeridade fiscal do governo que se iniciará em 2015, com redução de despesas e esforço para aumento de receitas”.
LUIZ PITIMAN – O candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), deputado federal Luiz Pitiman, reporta-se ao sonho de Dom Bosco, ao trabalho de JK, e se lembra do Fundo Constitucional e do Orçamento do DF para 2015.
“É inequívoco que os recursos são expressivos. Contudo, é imperioso se fazer uma pergunta: os recursos são suficientes e estão sendo bem administrados?”. “O binômio controle do gasto público e fomento à atividade econômica é iniciativa que se mostra adequada para se alcançar uma administração pública com responsabilidade fiscal”.
Na área de saúde, o candidato tucano é vago. Promete que fará, em caso de vitória, parceria com a União e com os estados de Goiás e Minas Gerais, e que “reformulará” os hospitais do DF. No setor educacional, Pitiman instituirá a educação integral, a federalização do ensino fundamental e um plano de metas de estímulo aos profissionais da área. E nos transportes, pretende investir em corredores exclusivos para ônibus e a expansão do metrô.
RODRIGO ROLLEMBERG – O programa do senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, dá alfinetadas em Agnelo Queiroz. “Para superar a falta de transparência, a burocracia e a ineficiência do Estado, desenvolveremos políticas públicas estruturadas e adequadas para promover o desenvolvimento sustentável, que expressem o compromisso com os verdadeiros anseios da população e produzam resultados concretos e mensuráveis”.
Ao focar em um dos grandes problemas do DF, se Rollemberg for eleito, ele pensa em criar um sistema intermodal de transportes, integrando bicicleta, ônibus, metrô, trem metropolitano (que ainda não existe) e automóveis, com bilhete único – sonho de todos os brasilienses.
Tanto na Educação quanto na Saúde, o programa de Rollemberg é vago. Fala em ampliar a cobertura do sistema educacional em todos os níveis, com a universalização da educação básica e ampliação das creches públicas, e quer tornar a Saúde “mais descentralizada e eficiente, inclusive do ponto de vista financeiro”.
TONINHO DO PSOL – Das 29 páginas da proposta de Toninho do Psol, mais da metade do documento esmiúça a ideologia do partido, detendo-se, por exemplo, em ressaltar que “não há soberania nem uma verdadeira independência nacional sem romper com a dominação imperialista”.
Ao descer para a parte prática, Toninho propõe a implementação do Programa Saúde em Casa, a reforma das unidades de saúde do DF, com o provimento de material e pessoal para atendimento da população, e auditoria nas contas da Secretaria de Saúde.
Aliás, o programa do Psol é farto em auditoria. Nos transportes públicos, além de auditoria, o partido, em caso de vitória, intervirá e integrará o sistema urbano com o transporte metropolitano, com bilhete único. Na Educação, Toninho pretende investir 30% da arrecadação do GDF. Na Segurança, seu projeto é, no mínimo, polêmico: vai desmilitarizar a polícia e extinguir o Bope.
PERCI MARRARA – O programa centralizador do Psol é fichinha diante do projeto de trabalho do Partido da Causa Operária (PCO), que tem Perci Marrara como candidata. A maioria das oito páginas do plano é ideológica, usando expressões como “política de rapina imperialista”.
“A luta da classe operária e do seu partido não se resume à luta contra o governo burguês de plantão. A classe operária luta contra a burguesia, contra o regime político burguês em seu conjunto e contra os governos burgueses”, dispara o documento, fazendo, também, uma proposta tentadora, mas inviável: salário mínimo de R$ 3,5 mil por cinco horas semanais de trabalho. Promete ainda imposto único, e sobre o capital e as grandes fortunas. Quem aposta?