De macacão, coroado ou no colo da mãe, Gabriel, então com oito dias, ganhou seu primeiro álbum de fotografia. Ele é filho de Gabriela Lúcia Carvalho Silva, de 18 anos, que recebeu um dos 12 books a serem doados pela fotógrafa Sheyla Pinheiro, especializada em ensaios de recém-nascidos. A iniciativa procura dar a mães solteiras e humildes a chance de ter em casa fotos que não saem por menos de R$ 900.
“Eu sou muito grata à Sheila porque é um sonho que eu queria”, disse Gabriela que chegou a trabalhar como faxineira e até em fabricação de sandálias para se sustentar durante a gravidez, já que sua mãe estava desempregada.
“Foi uma luta. Quando que estava no sexto mês, ele (Gabriel) não tinha nada, só um pacote de fralda”, contou. O alívio só veio por meio de doações que chegaram no fim da gravidez.
A jovem ficou grávida quinze dias após ter sofrido um aborto espontâneo. “Quando eu descobri, eu só chorava. Como eu ia contar para os meus pais que estava esperando filho de novo e que o pai tinha sumido?”, disse Gabriela. “Eu fiquei com muito medo pela sociedade. Que eles julgam muito o fato de ser mãe solteira”.
Na época, ela vivia com o pai e a madrasta. Depois foi morar com um dos três irmãos. Por fim, resolveu ficar com a mãe em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “A luta que eu tive que passar, o choro, as brigas, a minha ignorância, tudo teve um motivo. E ele está aqui. Ele é tudo pra mim agora”, desabafou Gabriela.
A mãe ficou sabendo do projeto de fotografia através do irmão. “Eu pensei, ‘eu vou mês inscrever, não custa nada, né?’. Mandei minha história pra ela. Eu até achei que ela ia olhar e falar ‘essa menina precisa é trabalhar’. Quando eu penso que não, ela (Sheyla) entrou em contato comigo. Comecei a chorar”, contou.
O projeto reflete a vida da própria fotógrafa. Filha de mãe solteira, a catarinense Sheyla Pinheiro também teve um filho nestas condições aos 19 anos. Anos mais tarde, ela pressionou a mãe para que lhe dissesse quem era o seu pai. Sheyla descobriu que ele era de Belo Horizonte, mas que já tinha falecido. Então, decidiu escrever para a avó paterna. Para sua surpresa, a família do pai ignorava sua existência e fez questão de conhecê-la. Ela saiu de Blumenau e veio à capital mineira. “Me apaixonei pelo pessoal”, disse a fotógrafa.
Para sua surpresa, seus parentes insistiram para que ela se mudasse para Minas Gerais. Mais tarde, conheceu um mineiro na empresa em que trabalhava, começaram a namorar e decidiram seguir para Belo Horizonte onde vivem até hoje.
“Como foi uma história tão sofrida, eu sei o que elas (mães) estão passando, a vergonha, o preconceito, medo. Então você poder dar um pouco de carinho, um pouco de autoestima, então que ajuda na aceitação. Eu me sinto meio que tendo que retribuir, sabe?”.
Para participar, as mães solteiras devem ter sido atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e por hospitais públicos. Até agora, três mães solteiras procuraram o projeto. Outras informações no site. Interessadas podem se inscrever aqui.