Da Redação
A adesão em massa às compras virtuais fez com que o faturamento do setor tivesse um crescimento de 73,88% em 2020 no Brasil, de acordo com o índice MCC-ENET do Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital. Essa expansão do comércio eletrônico desde 2019 já é uma realidade conhecida e as restrições sanitárias e de mobilidade no mundo ensejaram a aceleração da transformação digital.
Não apenas a demanda aumentou, mas os métodos de operação de oferta e publicidade para vendas virtuais passaram por mudanças. Uma das mais significativas delas foi a sofisticação do rastreamento de clientes.
Atualmente, optar por não armazenar cookies não é suficiente para evitar que dados de navegação sejam rastreados no ambiente digital de grandes marcas varejistas como Wal Mart, Target e outras.
Mais do que isso, programas de fidelidade e aplicativos de descontos de grandes redes como Magazine Luiza, Americanas ou Mercado Livre têm se tornado comuns num contexto de busca por praticidade e preços que contornem a inflação mundial crescente. Porém, muitos desses aplicativos e programas abrem margem para a coleta e processamento de dados ainda mais detalhados de sua clientela.
Customização e marketing
Empresas de varejo vêm utilizando cookies e outros rastreadores para personalizar vendas pela internet. Do ponto de vista da clientela, a vantagem é a maior chance de sugestões acertadas e relevantes de ofertas de produtos e serviços. Já para o vendedor, a vantagem é vender mais e aumentar a chance de vendas futuras.
No entanto, algumas alterações com preocupações de segurança e privacidade tomadas por grandes empresas de tecnologia têm modificado expectativas e práticas do comércio eletrônico. As principais delas foram as medidas de privacidade mais estritas aplicadas ao iPhone, anunciadas pela Apple em 2021 e a perspectiva de remoção de rastreadores de atividade do navegador Chrome até 2024, anunciado pela Google.
Um resultado dessas políticas é que varejistas podem, cada vez menos, contar com o processamento de dados de clientes feitos por terceiros para personalizar suas vendas.
No entanto, como a taxa de retorno em lojas virtuais é muito baixa (estimada em menos de 10% de quem acessa páginas), as empresas precisam encontrar maneiras de lembrar os consumidores de suas ofertas e redirecioná-los a seus ambientes. Isso é feito de forma estratégica, com a prática conhecida como “retargeting”.
Para isso, muitos varejistas têm colhido e processado diretamente os dados de compras de sua clientela. Programas de fidelidade, geralmente em aplicativos próprios, oferecem cupons, descontos e cashback, enquanto rastreiam tudo o que acontece em seus ambientes. O rastreamento as ajuda a compreender e prever melhor o comportamento e as necessidades da clientela.
Tanto a AppStore quanto a Play Store impõem políticas de transparência sobre os dados coletados dos usuários e exigem o compartilhamento somente de dados anônimos com anunciantes. Mas muitos varejistas hoje combinam dados coletados com ou sem cookies para formar perfis mais detalhados de clientes potenciais para direcionar propagandas de anunciantes.
Nesse contexto, clientes que não queiram ter seus dados de compras cotidianas e navegação colhidos, ficam cada vez mais vulneráveis ao decidir adquirir produtos e serviços virtualmente.
Privacidade
É verdade que boa parte da clientela não se importa em compartilhar alguns dados em troca de preços menores e anúncios mais relevantes. No entanto, quem preza por mais privacidade no atual contexto, não encontra uma fórmula infalível para isso, mas algumas medidas que podem ajudar na tarefa.
Usar um bloqueador de rastreadores no celular (no caso do uso de aplicativos) ou no computador é uma maneira de aumentar as barreiras de coleta de dados que não são cookies num dispositivo.
Além disso, a escolha de ceder ou não dados pessoais é consciente. Assim, usar navegadores que bloqueiam não apenas cookies, mas também rastreadores, pode ser uma medida interessante.
Por fim, aderir ou não aos programas de fidelidade e aplicativos também é uma escolha voluntária. Evitar participar de tais iniciativas pode não gerar ofertas tão boas ou relevantes, mas previne a coleta e processamento de dados pessoais para o uso de terceiros.