Além do atual cenário de instabilidade política e de retração da economia, é imprescindível refletir, ao arrepio das paixões, o que mais está, de fato, por trás da fuga de investimentos estrangeiros do Brasil, exemplificada pelo recente fechamento de importantes operações multinacionais, as quais geravam milhares de empregos, como a Ford, a 3M e a farmacêutica Roche.
A verdade é que, independentemente de ser o governo Bolsonaro, Temer, PT, ou FHC, o Brasil nunca deixou de sofrer com a baixa competitividade internacional, decorrente do pesado custo que o Estado cobra para o setor produtivo em nosso território, alimentado por tributos altíssimos, uma previdência social cara e mal gerida, uma legislação trabalhista antiquada e uma assombrosa insegurança jurídica.
Nesse passo, enquanto não pararam de brotar faculdades, de nível sofrível, formando bacharéis em excesso e não raramente pouco preparados para os desafios da vida profissional, continuamos enfrentando uma enorme carência de cursos técnicos em nosso País, o que desestimula determinados investimentos, sobretudo nas áreas industrial, tecnológica e de serviços, diante da falta de mão-de-obra qualificada.
Para piorar, o ensino público continua a sofrer com a escassez de recursos, com problemas estruturais e, principalmente, com a ausência de um projeto inteligente e assertivo para recuperação de sua qualidade, a qual possibilitaria aos jovens de menor renda – além da obtenção de mais cultura e conteúdo educacional – uma efetiva inclusão social, mediante a disputa de vagas em condições de igualdade no mercado de trabalho.
Todo o quadro narrado não decorre da completa ausência de projetos dos últimos governos, ou do atual, pois os tivemos e temos, sim: alguns melhores e (muitos) outros piores. Porém, a maioria deles marcada por ranços ideológicos e, não raramente, por equívocos principiológicos e metodologias questionáveis, sujeitando-se ainda, mesmo quando acertados, às impulsivas mudanças de comando na política, o que tem, no conjunto da obra, redundado em um País cada vez mais atrasado, paquidérmico e distante do grandioso destino prenunciado pelas riquezas naturais de seu vasto território.
O que este articulista propugna é que a futura Presidência do Brasil, caiba a quem couber, faça algo diferenciado e decisivo, tendo a coragem de convocar os melhores cientistas, gestores, técnicos e consultores das áreas de Administração Pública, Educação, Saúde, Direito, Infraestrutura e Segurança Pública, tanto brasileiros, como estrangeiros, aproveitando experiências vencedoras de países do Primeiro Mundo, para formular um audacioso e pragmático “projeto de Estado”, diferentemente de meros “projetos de Governo”, que duram apenas o respectivo mandato.
A ideia é a construção de um plano estratégico de metas para as áreas essenciais, com começo, meio e fim, despido de vícios da ideologia de esquerda ou de direita, o qual, após debate republicano, aberto e com ampla divulgação em nosso Parlamento, seja incorporado em nossa legislação, com caráter pétreo, protegido do temperamento ou da tendência de governantes efêmeros, viabilizando que nossa Nação deixe de “dar voltas em torno do próprio rabo”, como fazem os vira-latas, e finalmente consiga alcançar, de modo sustentável, dentro de 10 ou, no máximo, 20 anos, o tão sonhado desenvolvimento econômico e social.
(*) Advogado e escritor