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População vai pegar R$ 1,2 bi da crise com aumento de passagem de ônibus, metrô, refeição nos restaurantes comunitários e entrada no zoo. Impostos dependem de aprovação da CLDF
Se não fosse tão repetitivo, daria até um bom roteiro para concorrer ao Festival de Cinema de Brasília. No primeiro capítulo, governantes consomem toda a verba arrecadada com regalias e despesas supérfluas. Os fundos públicos são divididos entre gastos com pessoal, custos da máquina pública e os obscuros dividendos da corrupção. No epílogo, a máquina quebra, e a cidade vira o caos. E o drama termina com a população pagando a dívida gerada pela incompetência e a má-fé dos governantes, travestidos de Robin Hood, mas às avessas. Em vez de tirar dos ricos e dar aos pobres, como o herói inglês, eles cortam na carne dos pobres para manter as regalias da elite.
Na terça-feira (15) o governador Rodrigo Rollemberg anunciou uma série de medidas de corte de despesas e aumento de impostos, priorizando este segundo aspecto de seu pacote de maldades. Agregado a ele, vieram majorações de até 500% das tarifas públicas, como foi o caso dos ingressos do Zoológico, que subiram de R$ 2 para R$ 10. As refeições dos restaurantes comunitários saltaram de R$ 1 para R$ 3. Um aumento de 200%.
O chefe do Executivo atribuiu o arrocho à crise instalada no governo federal, com reflexos inevitáveis na capital da República, e ao rombo de R$ 3 bilhões deixado pelo ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Com as medidas, o governo espera arrecadar R$ 1,8 bilhão.
Apesar de ter cortado salários dos secretários, do vice-governador e até o dele próprio em 20%; reduzido o número de secretarias de 24 para 16 e de administrações regionais de 31 para 24, quem vai pagar a maior parte da conta é o trabalhador. Todos, indistintamente, serão atingidos.
As tarifas de ônibus que custavam R$ 1,50 sobem para R$ 2,25; as de R$ 3 vão para R$ 4, assim como a do metrô. O reajuste já era esperado, como antecipou o Brasília Capital na edição 213 (20 a 26 de junho de 2015). As tarifas não eram reajustadas desde 2006 e aliados do governador já o aconselhavam a reajustá-las desde o início do ano. Com o aumento, o governo deixará de gastar cerca de R$ 50 milhões com os subsídios ao setor apenas neste ano. Em 2016, a previsão é de que essa cifra chegue a, pelo menos, R$ 100 milhões.
As quatro medidas de aumento de tarifa (cortes de salários, transporte público, bandejão e zoo) dependem apenas de um decreto do governador e já entram em vigor no domingo (4). Já o aumento de tributos como o IPTU, TLP, ITCD, ICMS de TV por assinatura e alíquotas de bebidas e tabacaria dependem de aprovação da Câmara Legislativa para entrar em vigor.
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A presidente da Casa, deputada Celina Leão (PDT), disse que acha muito difícil que as medidas passem pelo plenário. “É praticamente sem chance a gente (deputados) aprovar essas medidas brutais. No começo do semestre, o governo falava em aumento de 20% no IPTU, hoje o projeto já fala em 10% pela própria resistência da Câmara Legislativa”, afirmou.
Rollemberg deu entrevistas exclusivas a vários veículos de comunicação tentando mostrar à população a necessidade do remédio amargo adotado no nono mês de sua gestão, e percorreu instituições como o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas e o Ministério Público pedindo união da sociedade para tirar a cidade da crise e voltar a ter investimentos. “Defendo uma grande união por Brasília. Estamos cortando na própria carne e convidamos a todos a se unirem no nosso esforço”, afirmou o governador.
Outra economia prevista para este ano é com servidores e concursos públicos. Os funcionários públicos (32 categorias profissionais) terão o reajuste salarial cortado no contracheque no começo de outubro. A economia prevista com a ação é de R$ 480 milhões. Rollemberg também lançou o programa de demissão voluntária (PDV) nas empresas dependentes do GDF.
Trabalhadores vão revidar
Engana-se quem pensa que os sindicatos e trabalhadores aceitaram a proposta de “união” feita pelo governador. Na quinta-feira (24), 19 sindicatos e três centrais sindicais anunciaram uma “greve de alerta” de 24 horas para a quinta-feira (24). Haverá protesto em frente à Praça do Buriti, às 10h, quando os sindicalistas pretendem negociar com o governo. Até 7 de outubro, caso não haja acordo, a greve será retomada por tempo indeterminado.
O diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), Cláudio Antunes, prevê uma greve generalizada. “Não vamos aceitar o calote. Garantimos na Justiça o direito ao reajuste e receberíamos a terceira parcela em setembro, fechando um ciclo do plano de carreira”, explicou.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) classificou as medidas como “neoliberais, conservadoras, que acirram a recessão e o retrocesso”. Em nota, a CUT disse ainda que “é inadmissível que o governo continue a adotar medidas para impor à população a agenda política que foi derrotada nas urnas”.