Pelo visto e sem qualquer gesto amigável ou resposta aos meus “bom-dia”, alguns vizinhos de quadra, com quem cruzo todas as manhãs nas caminhadas sob a abóbada das frondosas árvores, passam por mim de peito empinado, como se estivessem com o rei na barriga. Aliás, convém lembrar do doutor, que morava ali no bloco C, ele um ricaço fazendeiro e ministro do TSE, que deixou suas inúmeras propriedades e muito dinheiro no banco, mas que não levou nada ao morrer como vítima de latrocínio, com 76 golpes de faca.
Sobre os caminhantes arrogantes atuais, a julgar por seus passos cadenciados, tudo indica que dois deles devem ser almirantes ou brigadeiros, levando-se em conta que há blocos privativos da Marinha e da Aeronáutica, aqui na SQS 113. Mas acontece que não sou marinheiro ou recruta para ser tratado com tanto deboche explícito por esses senhores acostumados a receber reverência militar de subordinados quando chegam aos quartéis. Faz muito tempo, mas essa rotina matinal me fez lembrar de um samba interpretado pela saudosa Elis Regina:
“Não fala com pobre, não dá mão a preto,
não carrega embrulho…
Pra que tanta pose, doutor?
Pra que esse orgulho?
A bruxa que é cega, esbarra na gente,
a vida estanca.
O infarto te pega, doutor,
e acaba com essa banca!
A vaidade é assim: põe o tonto no alto,
retira a escada,
Fica por perto, esperando sentada.
Mais cedo ou mais tarde, ele acaba no chão.
Mais alto é o coqueiro, maior é o tombo do tonto.
Afinal, todo mundo é igual, quando o tombo termina
com terra por cima e na horizontal…”
É isso aí, amigo leitor: o sábio rei Salomão enxergava longe, quando escreveu esta sentença no livro do Eclesiastes, no Velho Testamento: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!…”
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